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CINEMA/VÍDEO

Quando a dor não é um escândalo

por Luigi Ballerini
23/01/2015 - Ninguém o teria esperado, mas nem a geração do “tudo agora” deseja livros que camuflam a realidade. E, diante das questões que nascem, a censura não é mais a solução...

Existia a chick-lit, a narrativa dedicada às mulheres jovens. O termo, quase pejorativo, vem de chick (diminutivo, na gíria americana, de “galinha”) e lit (abreviando ‘literatura’). O Diário de Bridget Jones, de Helen Fielding, Sex and the City, de Candace Bunshell e ainda O Diabo veste Prada, de Lauren Wisberger, são alguns exemplos mais conhecidos. Se este fenômeno parece estável, a atenção se volta agora para a assim chamada sick-lit, em que lit continua para ‘literatura’ e sick significa doença. Uma literatura indicada para YA, young adults (jovens adultos), é a nova categoria do marketing editorial, a partir dos 14 anos.

Os casos mais conhecidos são, certamente, A Culpa é das Estrelas de John Green, cuja recente transposição cinematográfica renovou o interesse pelo sucesso literário de dimensões globais, e Pulseiras Vermelhas de Albert Espinosa que, de ficção italiana de sucesso, vai se tornar série na TV americana, dirigida por Steven Spielberg. Lembramos também do belíssimo Os dez meses que mudaram minha vida, de Jordan Sonnenblick, vencedor do prêmio Bancarellino 2014 e de Branca como o leite e vermelha como o sangue, de Alessandro D’Avenia.

Os adultos falam muito desta literatura como fenômeno, em especialistas ou não. Os jovens a leem muito, principalmente as moças. Apaixonam-se, comovem-se. Não faltam também as vozes críticas e a acusação é a de especular sobre a doença para aumentar o faturamento. Tem até quem suspeite de comportamentos patológicos induzidos ou alimentados por estas histórias de fundo hospitalar.

Apesar disso, agradam aos jovens e, se as vendas aumentam, não é apenas pelas operações de marketing literário mas também por um boca-a-boca contagioso. O dado mais evidente que se destaca aos nossos olhos é como os mais jovens desejam olhar de frente justamente para os temas que os adultos, assustados, tentam, há muito, censurar principalmente para si mesmos. A morte, a doença e o limite que queremos a todo custo jogar porta afora do cotidiano, voltam à vida pela janela da literatura.

Não se pense que haja masoquismo nisto; estas histórias estão repletas de amizade, afetos da família, contradições, palavras que afloram aos lábios e outras que se calam, amor que nasce e se interrompe, retomada para quem fica, espera confirmada ou desiludida, esperança.

No panorama atual vale a indicação de valorizar estes romances, um a um, sem amontoá-los num grupo específico. As melhores histórias são aquelas em que os protagonistas são críveis e verossímeis ao se colocarem questões interessantes e procurarem respostas convincentes. As histórias de menor sucesso são, ao contrário, aquelas que têm a doença como único e mórbido protagonista e nas quais os outros personagens são apenas adjacentes. Os jovens percebem isso e devemos confiar em sua capacidade de julgar os acontecimentos de papel em que se imergem. Sentem rapidamente o mau cheiro diante dos primeiros indícios de uma história banal feita apenas para promover uma comoção prêt-à-porter (pronta para uso). Muitos são leitores mais prudentes e exigentes do que supomos. Os jovens dão valor a bons livros que falam (também) sobre a doença para que esta não seja mais um assunto tabu. Parecem dizer: “Mostrem-nos; se existem, por que escondê-los?” aos adultos que correm para o controle de TV a fim de esconder a dor e a morte.

Um rapaz que está bem agora não se angustia por morrer e pede sempre que não lhe escondam nada. E sabe ver todos os fatos, sem fixar-se sobre a doença. Quando perguntados sobre o assunto do livro de que tanto gostaram, raramente nos dizem que falam da morte; quase sempre falam que dizem respeito ao amor e à amizade.

Parece paradoxal que agradem as histórias em que o para sempre permeia cada página, como uma promessa à geração do tudo-consumido-e-queimado num instante com um clique no mouse ou um touch screen (toque na tela). Não é, porém, paradoxal: dentro da paixão por estes livros esconde-se também o desejo de uma conquista de algo que dure no tempo, de algo que perdure além da emoção efêmera do momento. Revela-se a espera por relacionamentos sinceros e satisfatórios, sem máscaras e fingimentos, nos quais mostrar-se sem falsas aparências. Cansados dos selfies forçadamente sorridentes, os mais jovens parecem reivindicar o direito de pensar, de colocar-se questões e procurar respostas. É possível ser feliz aos dezesseis anos com apenas uma perna? O que resta do relacionamento com meus pais que estão tão concentrados na doença de meu irmão? Como posso continuar vivendo se a pessoa que amo se vai para sempre?

É para comemorar que alguém saiba recolher e interceptar essas perguntas, às vezes escondidas por uma aparência de superficialidade, a fim de que aconteça realmente a possibilidade de uma experiência que lhes corresponda, além da literária, por si só densa e envolvente.

É difícil distinguir se a sick-lit exista de verdade ou apenas na cabeça de quem a chama assim. Na verdade é de pouca importância. O certo é que temos necessidade de histórias verdadeiras, que não tenham medo do real, que confirmem que não devemos continuar forever Young (jovens para sempre), que não indiquem a perfeição como o ideal do eu, que não se escandalizem com o limite, que ofereçam solução para julgar.
De histórias assim, sãs e não certamente “doentes”, não devemos ter medo. No fundo, contam a vida que, não somente vale a pena ser vivida mas, vale a pena ser alegre também.

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