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CINEMA/VÍDEO

A festa de Babette. Um dom inesperado, como o Natal

por Luca Marcora
23/12/2015 - Babette, fugida da polícia de Paris, refugia-se na Dinamarca, onde encontra um trabalho como empregada de duas irmãs solteironas. Para agradecê-las pela acolhida preparará um jantar francês encantando todo o vilarejo
<em>A festa de Babette</em> de G. Axel.
A festa de Babette de G. Axel.

Dinamarca, final do Século XIX. As idosas irmãs Martina (Birgitte Federspiel) e Philippa (Bodil Kjer) organizam uma celebração pelo centenário do nascimento do pai (Pouel Kern), pastor protestante cuja memória é ainda viva na comunidade. A empregada Babette (Stéphane Audran) se oferece para preparar um jantar à francesa…

É quase Natal, e com ele chegam todas as bobagens, a bondade fingida e os sentimentos descontrolados que estão embebidos em filmes dedicados a esta festa. O antigo ditado “no Natal todos se tornam mais bondosos”, repetido de ano em ano, parece só o fruto de um esforço, e mesmo hipócrita. Tentemos então propor um filme que com o Natal não tem aparentemente nada a ver, mas que talvez possa ajudar a olhar a dimensão mais autêntica desta festa: aquela Festa de Babette tão amado também pelo Papa Francisco.

Tirado de um conto de Karen Blixen, o filme de Gabriel Axel narra com um estilo simples, quase de parábola, a história de um pequeno milagre. Em um vilarejo do litoral da Dinamarca vivem duas irmãs, Martina e Philippa, filhas de um pastor protestante que reuniu em torno de si uma pequena comunidade. Renunciando na mocidade uma ao amor de um desenfreado oficial do exército (Gudmaw Wivesson) e a outra ao de um tenor da Ópera de Paris (Jean-Philippe Lafont), as duas mulheres dedicam sua vida a levar adiante os ideais paternos e a manter unida a pequena comunidade. No esforço de conformar-se às regras de um protestantismo tão austero, o tempo passa cobrindo seus olhos com véu de tristeza. E depois da morte do decano, entre velhos rancores e maledicências também a unidade da comunidade lentamente começa a desmoronar.

Até que um dia chega a casa delas como empregada Babette, uma cidadã parisiense fugida da Comuna e enviada para ali em lugar seguro por aquele tenor que, muitos anos antes, tinha se apaixonado por Philippa. A francesa se adapta logo à vida do povoado e faz com que todos a queiram bem. Um dia vence na loteria 10.000 francos e decide gastá-los para oferecer às irmãs o jantar pelo centenário do nascimento do pai. Não um jantar qualquer, porém: um jantar francês. Preocupada, a comunidade teme cair em pecado mortal participando de um verdadeiro ritual do demônio. Decidem aceitar igualmente o convite, esforçando-se para não falar dos pratos, para não transgredir a própria ideia de integridade, renunciando assim a saborear até o fundo todas aquelas delícias. Mas entres os convidados está também um general do exército (Jarl Kulle), o mesmo homem que quando jovem havia amado Martina, tendo chegado ali para encerrar definitivamente as contas com as escolhas feitas na juventude.

Diante de uma maravilhosa mesa preparada, fruto da arte de Babette, o general faz saltar os esquemas dos outros comensais, elogiando abertamente as iguarias e ajudando-os a deixar-se conquistar pelo requinte daquele jantar. Mas não só: mesmo sem nunca vê-la, a partir dos pratos reconhece a mão daquela que tinha sido a maior chef do restaurante Café Anglais de Paris. Já que Babette não é apenas uma simples empregada, mas é uma verdadeira e legítima artista; e agora gastou todas as suas posses para oferecer em dom aquele jantar à comunidade que a acolheu. Diante de tamanha gratuidade e beleza, finalmente desaparece todo moralismo e toda desavença e os personagens podem voltar a se olhar no rosto com afeto e gratidão.

Eis, pois, o Natal é quase como o jantar de Babette: um Dom inesperado que nos é dado para nos chamar à postura mais autêntica e correta a partir da qual olhar os outros, os problemas, as circunstâncias da vida. O Menino que vem no Natal vem para despertar no homem o seu verdadeiro eu. Isto não significa que nos tornaremos todos mais bondosos no instante. Certamente não. Mas mais gratos a Quem nos faz este Dom, talvez sim.

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