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CINEMA/VÍDEO

A aventura na direção de um “tu” que faz crescer

por Luca Marcora
15/07/2016 - Conta Comigo, Os Goonies, Super 8. Angústias, desejos e esperanças dos jovens, vividas através do ponto de vista deles. Como temática, a tomada de consciência de si pela descoberta do “outro”
Poster do filme Super Oito (2011).
Poster do filme Super Oito (2011).

Ano 1959. No escaldante verão americano, quatro jovens de doze anos partem à procura do corpo de um colega desaparecido poucos dias antes, que alguns meninos mais velhos disseram ter visto a 30 milhas de distância dali, enquanto vagavam após terem roubado um carro. Os protagonistas de Conta Comigo (Stand by Me) vivem uma aventura que os aproxima pela primeira vez ao mistério da morte. Com o pensamento sempre voltado à meta da viagem, cada acontecimento se torna extraordinário aos olhos deles: a corrida para não serem atropelados por um trem, fugir de um “lendário” cão de guarda, a noite transcorrida sozinhos no bosque, falando “de tudo aquilo que parece importante, antes de descobrir as meninas”... O fascínio do filme de Rob Rainer, extraído do conto de The Body, de Stephen King, reside exatamente na bravura do diretor “ao descrever a adolescência de modo não estereotipado e ao adotar o ponto de vista dos protagonistas”, como escreve Paolo Mereghetti. O qual, porém, acrescenta: “Mesmo se, às vezes, exagera na dose”. Mas, se olharmos bem, não é normal nesta idade, com a qual o diretor se identifica, o “exagerar na dose” no modo de ser e de se relacionar com tudo? Aquele caminho não os deixará iguais a antes e, ao retornarem, aquela cidade, que antes representava o mundo inteiro, irá parecer improvisamente muito pequena.

Década de 1980. Um antigo mapa em espanhol e um velho medalhão encontrados no sótão: em algum lugar existe um tesouro de piratas que espera para ser encontrado. E já existe também um grupo estranho de malfeitores no rastro do mesmo. É esta a aventura – no sentido clássico do termo – que vive um grupo de meninos protagonistas de Os Goonies, de Richard Donnie. Produzido durante o período de ouro de Steven Spielberg, o filme fala de algo que quase todos desejamos pelo menos uma vez durante a adolescência: que a vida fosse algo de extraordinário e fascinante, a ser vivido com os amigos mais próximos. Mas não há somente evasão neste filme, que nos Anos Oitenta se tornou um verdadeiro Cult para toda uma geração: os meninos são, de fato, movidos pelo desejo de encontrar um tesouro e salvar suas próprias casas, ameaçadas por empresários sem escrúpulos que pretendem derrubá-las e construir um campo de golf. Para esses meninos, será uma oportunidade de fazer algo grandioso, mais do que um adulto poderia fazer.

Ano 1979. Um grupo de meninos está rodando um curta-metragem amador sobre uma invasão de zumbis quando um trem da Air Force perde o controle bem em frente a eles, causando um assustador – e, certamente, espetacular – acidente. A partir daquele momento, acontecem fatos estranhos: o exército se apossa da zona, enquanto algumas aparições misteriosas alarmam a população. Os meninos, revelando as imagens do momento da tragédia, descobrem que uma misteriosa criatura saiu daquele trem. Serão eles que terão de salvar as próprias famílias e a cidade inteira. Super 8 é uma homenagem que J. J. Abrams oferece exatamente àquele cinema de aventura dos Anos Oitenta, e não é difícil ver naqueles jovens apaixonados por cinema uma referência explícita àqueles diretores e produtores que, começando exatamente com filmes amadores, realizados entre amigos, acabaram por renovar Hollywood: Steven Spielberg (também aqui como produtor), George Lucas, George Romero...

Abrams olha para filmes como E.T., O Extraterrestre (1982) e Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977), mas também Os Goonies e Conta Comigo, revelando ter compreendido perfeitamente como o verdadeiro núcleo narrativo daqueles filmes não seja tanto a dimensão mais ou menos aventurosa dos acontecimentos, quanto a mudança pela qual passam os meninos, tendo que enfrentar, pela primeira vez e pessoalmente, as angústias, os medos, os desejos e as esperanças próprias daquela idade, antes de se colocarem no caminho que os tornará adultos. É este amadurecimento improvisado que transfigura o cotidiano em algo de grandioso, mudando o olhar deles sobre a realidade e sobre as pessoas. E isso acontece, paradoxalmente, na tomada de consciência de si através da descoberta do “outro”, de um “tu” que surge assim prepotente na vida, com o qual mais cedo ou mais tarde temos de nos confrontar, cada um, individualmente. Pode ser percebido como diferente, odiado, porém acolhido por aquilo que é. Podemos brigar, até furiosamente, mas sempre com a possibilidade de um perdão logo depois. É possível segurá-lo e podemos nos apoiar nele nos momentos de fadiga. Podemos afastá-lo e depois lamentar a sua ausência. Podemos abraçá-lo, até descobrir o que significa amá-lo mais do que a si mesmo.

Aos olhos de um adulto, que já deixou há bastante tempo a adolescência, pode haver talvez o risco de se perceber tudo isso somente como um conjunto de sentimentos ainda imaturos, sem aquele fundamento sólido e único sobre o qual se possa construir a vida. E mesmo assim seria suficiente tornar a ser menino por um instante para saborear mais uma vez o quanto aquelas descobertas tenham sido revolucionárias para cada um, e como estes filmes nos ajudaram a enfrentá-las e a compreendê-las também por meio da dimensão da aventura. Talvez seja mesmo por isso que, encontrando anos depois aqueles colegas de escola de tempos atrás, possa acontecer que nos perguntem: “Mas você ainda tem aquele videocassete dos Goonies?”.

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