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OS FATOS

Educando pela beleza

08/04/2011 - As férias de início de ano do Centro Educativo Nossa Senhora das Graças (CENSG), de Parintins (AM)
Adolescentes participam de jogos durante as férias.
Adolescentes participam de jogos durante as férias.

As férias de início de ano do Centro Educativo Nossa Senhora das Graças (CENSG) marcam o estilo e o conteúdo de cada ano novo que Deus nos dá para crescermos juntos: adultos, adolescentes e crianças.
Neste início de 2011, o desejo de participar das férias, tanto dos professores como das crianças, se transformou em curiosidade: “Qual será o tema deste ano? Fantasia ou realidade? Quem vai participar: os pequenos ou só os adolescentes? Será que eu irei também?” Para esse ano escolhemos duas temáticas para dois grupos diferentes de participantes: “A criação geme nas dores do parto” para as crianças e “Beleza: paixão infinita” para os adolescentes.
Com as crianças recorremos ainda às histórias de fantasias (“A era do gelo II” e “Kiricu”), mas explicada e vivenciada nas férias no contexto do drama da humanidade que vive na ameaça ao futuro do planeta terra como iria dizer o lema da Campanha da Fraternidade da quaresma de 2011 da CNBB.
Com os adolescentes, dando continuidade ao tema da santidade do ano passado, recorremos à vida de alguns artistas que com a beleza das suas obras (esculturas e pinturas, musicas, arte cinematográfica) nos levaram a uma paixão infinita pela Beleza: Michelangelo, que pintou a Capela Sistina a pedido do Papa Julio II; Amadeus W. Mozart que fez músicas divinas; e umas das obras-primas de Charles Chaplin: “O garoto”, onde o amor totalmente gratuito de Chaplin salva um bebê da morte segura por abandono desesperado da mãe, e esta o receberá de volta, já garoto esperto e genial, educado pelo amor totalmente gratuito do pobre trabalhador.
Nós educadores fomos desafiados pela própria proposta que nos parecia impossível a ser realizada. Antes de entrar no local das férias, uma antiga olaria da diocese, me perguntei qual era a razão de termos preparado tudo com tanto carinho e beleza nestes últimos dois meses: um livro de cantos com músicas populares brasileiras e do Movimento, brinquedos construídos para realizar jogos, várias competições adequados aos temas escolhidos e propostos, preparamos as “palavras chaves” de cada dia, gravamos todos os filmes que íamos precisar durante a semana. Só encontrei uma resposta: confiamos em quem nós estamos seguindo nestes anos: padre Mauro e Dom Giuliano!
Trabalhamos por dois meses para preparar tudo o que iríamos precisar: as adolescentes costuraram as fardas das várias equipes junto com algumas educadoras; com a minha ajuda e a dos demais monitores, os meninos pintaram o “Ícaro” de Matisse e a “A criação de Adão” de Michelangelo, além de prepararem as faixas dos temas e os cartazes das palavras chaves. Quando as férias começaram os dias passavam rápidos, mas nos fizeram experimentar algo novo, como se fôssemos uma única e mesma família. Mesmo com todas as nossas limitações, o que parecia impossível desta vez aconteceu. O segredo desta realização? Simples: nos deixamos guiar!
Apesar do tempo chuvoso, no início do dia, depois dos momentos de oração e cantos, as crianças escutavam o anúncio do tema e sua explicação e durante o dia brincavam obedecendo às indicações dos educadores. O que mais importava, porém, era que além de se divertir e não estarem preocupadas em ganhar ou perder, estavam atentas umas às outras. Com os pequenos, a proposta do tema da Campanha da Fraternidade foi gradual: cada dia uma palavra guiava a nossa convivência – a Criação, o Caminho da Esperança, a Graça. Palavras que nos ajudaram a ver que o maior problema do nosso planeta não está em salvar a natureza, mas sim, a própria natureza humana, o homem inteiro. Como é possível o homem valorizar a natureza, as matas e as águas, os animais e o ar, se a própria natureza humana for destruída, não for levada a sério, não for educada a amar por ser amada? É o “eu” de cada um que está sempre em jogo, o planeta sem a humanidade é nada: Milton Nascimento o ensina com os cantos “Filho” e “Caçador de mim”.
Com os adolescentes, o ponto em jogo foi descobrir e valorizar o que nos move: “o coração”. É ele que exulta e se apaixona diante da beleza da vida. Aqui ilustramos com mais uma música de Milton Nascimento: “Meu mestre coração”, e com a reprodução da obra de Henri Matisse: o Ícaro. Era necessário saber que temos um coração e que ele deseja coisas que são infinitas. Aquele que tudo sente e reage ao escutar a “Orquestra para Violino” de Beethoven, ou que permite de sentir o próprio drama com o filme “Agonia e Êxtase” de um Michelangelo que é desafiado pelo Papa a pintar a Capela Sistina, uma obra que vai bem além de um teto pintado numa sala do Vaticano no século XVI. Nos filmes: “Amadeus” e “ O garoto” vibramos com a genialidade dos artistas que nos mostraram aspectos fantásticos da vida deles, belíssimos, apesar da luta e da dureza dos momentos difíceis que tiveram que enfrentar. Vimos neles não somente a criatividade dos gênios, mas o caminho que percorreram para ver e sentir de perto a “paixão infinita” que os movia e isso nos levou desejar, também nós, esta misteriosa e infinita Beleza.
Os amigos que nos visitaram e também participaram das férias – uma garota italiana filha de mãe brasileira, dois professores da Escola Agrícola Rainha dos Apóstolos de Manaus – se surpreendiam a cada dia que conviviam conosco. Eles perceberam que nós não estávamos esquecendo nada da vida dos garotos e o comportamento das crianças revelava uma certeza: “Somos amados!”
A realidade cotidiana de cada menino que está conosco é bastante dura. É possível sentir quase fisicamente que lhes falta tudo; mas nestes dias prevaleceu neles o desejo de abraçar quem está com eles, adulto ou colega, porque se sentem amados. Nós não queremos substituir as famílias deles, o que experimentamos nestes dias foi uma “outra realidade”, onde o outro não é uma desgraça ou um inimigo (drogas e violências não faltam no bairro onde vivem), mas sim uma nova relação, um novo encontro que nos faz desejar a vida cada vez mais. Assim, chegamos a descobrir, com Gonzaguinha, na sua música “O que é, o que é?”, a beleza da vida, apesar do drama que cada um ainda enfrenta. No fim das férias com os adolescentes fizemos uma assembleia deixando um tempo de silêncio e ouvindo o “Concerto para violino” de Beethoven enquanto eles escreviam suas experiências nestes dias. São quase vinte e cinco minutos o tempo que leva o violino solista para “abraçar” o tema da orquestra que toca para ele e com ele. Pareceu uma eternidade? Mas é bem mais demorado o tempo que precisa para um adolescente “tocar” a vida em sintonia com seus pais, educadores, professores, amigos e até para aderir à proposta que pretende abraçar totalmente o nosso desejo de felicidade, de liberdade e de beleza: enfim esta paixão infinita! Uma adolescente fez uma observação: “Eu gostei bastante das férias, mas o que não gostei foi das brincadeiras que eram bastante pesadas, difíceis.” Respondi que a vida também é assim, se as brincadeiras fossem fáceis talvez não haveria o gosto de brincar; não que a vida seja uma brincadeira, mas na vida existem algumas regras que nos ajudam a viver. Os meninos se uniam, sofriam ou se alegravam juntos, tanto quem competia como o resto do time que torcia; por alguns instantes cada um era protagonista nas brincadeiras; o nome dele era falado, gritado e incentivado para que terminasse sempre a prova; o importante para todos era que ninguém desistisse apesar da equipe saber que já tinha perdido aquela competição e o primeiro lugar.
Aprendemos e não esquecemos o que a Irmã Marcela nos tinha ensinado anos atrás quando ainda estava conosco: “Mesmo uma brincadeira poderá servir de comparação à nossa vida, porque se não houver regras tudo vira bagunça; sem afirmar os critérios, a vida se torna também bagunça, por isso é necessário ouvir sempre as exigências do nosso coração”.
É possível afirmar que aqueles que estiveram nas férias tiveram a oportunidade grande de aprender, compreender, ver e viver grandes coisas. A realidade passa a ser sinal de que somos amados, mas é necessário permanecer nesta escola onde só educa quem se deixa educar. Somente reconhecendo essa Presença é possível afirmar que o nosso coração é infalível.
Globery

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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