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OS FATOS

O desafio de Sam

por Linda Stroppa
28/06/2011 - Numa escola de Rochester, um garoto de 18 anos tira a própria vida antes da festa de formatura. O seu gesto deixa Jeffrey e outros colegas desconcertados. E, num panfleto, eles falam do que pode permitir “apaixonar-se” também pela própria necessidade
A escola ''John Marshall'' de Rochester (Minnesota).
A escola ''John Marshall'' de Rochester (Minnesota).

No ginásio de esportes está tudo pronto para a festa de formatura. Microfones ligados e cadeiras arrumadas. Os formandos em fila, chapéu e anuário na mão: esperando a entrega do diploma. Os pais, mais emocionados do que os filhos, se amontoam ao redor. Nos Estados Unidos, o encerramento do ano escolar é sempre um acontecimeno, sobretudo para os formandos que deverão escolher se começam a trabalhar ou se vão para a universidade. É assim também no colégio “John Marshall” de Rochester, uma cidadezinha de cerca de cem mil habitantes no estado de Minnesota. Mas, na festa do dia 11 de junho, Sam faltou à chamada.
Samuel, 18 anos completados recentemente, “jovem brilhante e estudante modelo”, como nos conta um conhecido seu. Naquela tarde, teria feito o discurso introdutório, mas não se apresentou. Tinha ensaiado no dia anterior: emocionado, no palco, tinha treinado para falar diante de tantas pessoas. Mas nem mesmo os elogios de professores e colegas bastaram para acaba com a tristeza que o sufocava. Depois do ensaio geral, pegou o carro e foi para a casa de sua mãe. Trancou-se no quarto. Depois, pegou a arma.
“A sua morte acabou comigo”, conta Jeffrey, um jovem do grupo de colegiais de CL em Rochester. “Imediatamente, precisava saber por quê. O sentido do seu gesto. O sentido da minha vida, agora. Sam era muito bom, admirado e estimado por todos. Mas, nem mesmo isso pôde salvá-lo. Diante deste fato, não paro de me perguntar: o que realiza o homem? O que, de verdade, me faz feliz?”. Quid animo satis? Jeffrey ainda se lembra daquela frase escrita na camiseta das férias dos Colegiais. “Tão logo soube do que havia acontecido, pensei nas palavras de São Francisco. E entendi que não podia reduzir aquilo que me estava acontecendo.”
No dia seguinte, quando Jeffrey e os seus amigos se encontraram para rezar, Sebastian, um de seus responsáveis os desafiou: “E vocês, nós, o que temos a dizer diante do que aconteceu?”. Uma provação que não deixa indiferentes e que abre ainda mais a ferida: “Não queria parar numa reação sentimental”, diz Sebatian. “Muitos tentaram tamponar o que havia acontecido, porque olhar de frente para o drama de um jovenzinho de dezoito anos que se mata é incômodo. Nos Estados Unidos, cresce sempre mais o risco de anestesiar-se”.
São muitas as tentativas de reduzir o drama da liberdade a um problema psicológico ou mesmo biológico: a saudade, a tristeza, mesmo o desejo irreprimível de ser amado são entendidos a partir de dinâmicas psíquicas. “Mas, eu sou necessidade de infinito”, continua Sebastian, “mesmo se o mundo inteiro me disser o contrário, tentando me satisfazer com respostas ‘descartáveis’”. Nos Estados Unidos chegaram mesmo a inventar as happy pills, a receita química para a felicidade: “Sem fazer muito esforço, chama-se um psiquiatra e ele prescreve os antidepressivos mais adequados. Eis a solução”.
Mas, pensando em Sam, sentimos arrepio: nenhuma pílula pode sustentar. A sua morte abre um buraco no coração de cada um, e não permite que nos enganemos. “Pensamos em escrever um panfleto”, explica Jeffrey, “para aprender a julgar a realidade e dar razão da esperança que encontramos: uma Presença que arrasta consigo a vida e faz novas todas as coisas”. Como se lê na folha que distribuiram a seus amigos: “Somente Quem desafiou a morte e a venceu pode fazer-nos olhar para aquilo que aconteceu sem medo”. “Agora, estou mais certo disso”, disse comovido. “Estou aprendendo a olhar para a minhas necessidades sem me envergonhar. A me apaixonar também pelas minhas fraquezas, porque há um lugar onde minhas perguntas encontram uma resposta.”

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