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OS FATOS

Uma amizade de 100 mil xelins

por Pietro Bongiolatti
13/10/2011 - Do outro lado da fronteira as pessoas passam fome. Por isso, em uma escola de Nairóbi, três jovens decidem fazer uma coleta. E acabam descobrindo algo que vale muito mais do que o dinheiro arrecadado
A entrega da coleta ao Arcebispo.
A entrega da coleta ao Arcebispo.

Ignatius tem 18 anos e vive em Nairóbi, no Quênia. Todos os dias ouve as notícias que chegam de Dabaab, o campo de refugiados na fronteira entre o Quênia e a Somália onde se transferiram milhões de pessoas para escapar da fome no Chifre da África. Localiza-se há poucas centenas de quilômetros da sua casa, e os relatos que ouve o deixam perturbado. Fala disso com Samuel e Vimal, dois amigos e colegas da escola, com os quais decide organizar uma coleta para ajudar os refugiados somalis. Em pouco tempo arrecadam cerca de 100 mil xelins quenianos, que equivale a mais ou menos o valor que um operário da cidade deles ganha em um ano. Se fizermos o câmbio, equivale a menos de mil euros (ou R$ 2.300,00), mas valem muito mais que isso.
A coleta teve como posto de arrecadação a escola Cardinal Otunga, onde eles estudam: ela nasceu a quatro anos de alguns amigos que desejaram apostar em uma educação de ensino médio diferente do internato difundido no Quênia, no qual os jovens sãos “despejados” pela família por toda a semana. Joakim Koech, o diretor, quis uma escola onde todos fossem envolvidos no processo educativo: estudantes, famílias e professores, a partir do desafio do livro O risco educativo de Dom Luigi Giussani. Foi esse diretor que deu apoio para Ignatius, Samuel e Vimal quando eles decidiram divulgar um panfleto com o título: "Ninguém é tão pobre que não pode dar alguma coisa".
Os três jovens não são ricos, e muitos dos seus colegas moram nos barracos de Kireka, a favela da capital, mas eles quiseram dar a todos a possibilidade de compartilhar o drama de quem busca uma alternativa à miséria do próprio país. Durante um mês e meio, cada um doou o que podia: alguns trocados, um quilo de arroz, farinha ou açúcar e em pouco tempo a iniciativa se estendeu também para a escola de ensino fundamental Urafiki-Carovana, dirigida pela Fraternidade São Carlos.
A maioria dos alunos das duas escolas está ali por causa dos projetos de adoção à distância da Fundação Avsi: frequentemente vêm de famílias em dificuldade, vivem em barracos de barro e madeira, sem água nem esgoto. Mas foi justamente por causa da contribuição deles que Ignatius e seus amigos recolheram todo aquele dinheiro. E isso é apenas a ponta do iceberg de um capital maior: a vida nascida em volta das escolas Cardinal Otunga e Urafiki, de Joakim e seus amigos, e dos missionários da Fraternidade São Carlos. O envolvimento dos estudantes e das famílias em uma relação educativa vale mais do que 100 mil xelins.
No dia 28 de setembro, diante da catedral de Nairóbi, os três amigos, junto com alguns estudantes e professores e os diretores das duas escolas, entregaram ao Arcebispo, o Cardeal John Njue, os frutos da coleta: o dinheiro, mas, sobretudo, a experiência que fizeram. Ignatius contou como e por que nasceu a coleta, mas foi o Cardeal que revelou o centro da questão: “Vocês não deram algo porque tinham, mas porque está na nossa natureza compartilhar a necessidade do outro”.

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