Por que vale a pena falar de educação quando estão todos preocupados apenas com a política, na espera pelas eleições? Na Colômbia, em Villavicencio, cidade de 400 mil habitantes e porta de acesso para a verde região de Los Llanos, alguns amigos da comunidade levaram a sério o desejo de se compararem exatamente com este grande tema. E, ao fazê-lo, acolheram a provocação de outros que, há tantos anos na Itália, na Espanha e em outros lugares do mundo, lançaram-se na aventura de criar âmbitos culturais como o Meeting de Rímini ou Encuentro Madrid. Foi assim que nasceu Encuentros Villavicencio, entre 24 e 30 de setembro, na capital do Departamento de Meta.
O trabalho de preparação foi intenso: envolveu muitas pessoas, gente que, normalmente, não vive no mundo da educação, como sublinhou Melquisedec Valero, presidente da Fundação Encuentros Villavicencio, no encontro de abertura, mas que foram surpreendidas por esta iniciativa cultural, insólita para a cidade, e aceitaram o desafio. “Recentemente, estive numa conferência com estudantes universitários, para quem falei da experiência de trabalho na minha empresa La Catira, que produz laticínios, e me dei conta de que os jovens, literalmente, vibravam ao perceber a correspondência entre o estudo teórico e a realidade que eu estava comunicando a eles. Ao final, a coordenadora me disse que eu deveria trabalhar como professor. Naquele momento, eu entendi que a educação é comunicar uma experiência”, disse Valero. Educar é comunicar a si mesmos.
“Uma fé que não se torne cultura é uma fé que não se realiza plenamente”. Citando esta frase do Beato João Paulo II, o arcebispo da cidade, Dom Oscar Urbina, abriu Encuentros. E falou, a partir de “um lugar privilegiado”, neste momento histórico caracterizado por uma mudança de época, “na qual a cultura é fragmentada por causa do esquecimento de Deus como fundamento da realidade”, sobre como “na nossa época é fácil sucumbir ao prazer e ao sucesso pessoal” e sobre como “o maior desafio seja vincular a tradição ao progresso, para que o homem possa se perceber unido, com todas as suas capacidades”.
Mas, como é possível educar o coração do homem até ao ponto de mudá-lo? O Arcebispo lembrou que Dom Giussani propõe a educação como “humanização” e o educar como “promoção da grandeza do coração humano, um impulso para a sua dignidade, para a sua liberdade, e para a busca constante de um sentido na realidade cotidiana que se vive”. No primeiro dia do evento, por exemplo, a Orquestra Sinfônica Juvenil, formada por crianças e jovens que vivem na periferia da cidade, em situações sociais e econômicas difíceis, foi convidada a se apresentar. Escutando-a, ficou evidente que os jovens, diante de uma proposta clara, dirigida para o desejo profundo do seu coração, decidem seguir esta proposta até mudarem a própria vida e a de seus familiares.
No centro do evento foi montada a exposição Vocare: a atualidade educativa de Maria Zambrano, organizada por Giampiero Aquila, diretor da escola Lumen Gentium, na Cidade do México. O percurso dos painéis se fundamenta em duas perguntas que são colocadas logo no início da exposição: como as circunstâncias presentes desafiam a educação? E como Zambrano nos ajuda a enfrentá-las? Estas perguntas provocaram o público a fazer um percurso fascinante. Aquila partiu da definição de educação dada por Dom Giussani: “Introdução à realidade total”. É a realidade que suscita no homem o ímpeto para buscar o significado. O segundo ponto foi o da paternidade, como tema decisivo no pensamento de Zambrano: “Uma pessoa só pode ser pai se foi filho”, disse Aquila. “É fundamental uma autoridade, entendida não no sentido do poder, mas do amor, que se arrisque a propor um significado para a vida. Este é o risco educativo. Uma educação que não leve a uma certeza é pobre e inútil; serve apenas para passar na prova de uma determinada matéria, porém não serve para a vida”.
Quem apresentou a exposição foi um grupo de voluntários: meninos e meninas dos colegiais. Eles se tornaram um ponto fundamental para todos aqueles que participaram do evento, porque seu olhar “determinava” o olhar do público. “Ao final de um turno de explicações, alguns artistas me pediram para trabalhar para eles, para que eu apresentasse a exposição deles no Salão Regional das Artes”, nos contou Davian, um colegial. “Para mim, foi uma provocação grande: perguntei a eles qual seria a razão que levaria um artista a propor uma mostra. E fiz esta pergunta porque, sendo guia da mostra de Zambrano, eu partia daquilo que eu via: a correspondência entre o meu coração e o que eu encontrei. Esta é a razão pela qual vale a pena fazer tudo o que eu fiz nestes dias, mesmo não ganhando dinheiro algum com isso”.
O encerramento do evento foi com a apresentação de O senso religioso de Luigi Giussani, feita por Padre Marco Valera, professor: “A insistência sobre a religiosidade, como nos ensina Dom Giussani, é o primeiro dever absoluto do educador, ou seja, do amigo, de quem ama e quer ajudar o ser humano no caminho rumo ao destino”. O encontro foi um percurso a partir da natureza do coração em relação com a realidade. Foram projetadas imagens de estrelas, constelações, galáxias e de algumas obras de arte diante das quais seria desumano não exclamar: “Como é belo o mundo e como Deus é grande!”. Este é o desafio lançado: um maravilhamento diante do que existe e um caminho rumo ao seu significado, que é possível para quem deseja, até ao fundo, uma resposta para o seu coração.
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