"Por que vocês estão aqui?". Esta é a pergunta de monsenhor Alain Paul Lebeaupin, Núncio apostólico no Quênia, na missa que abriu a Assembleia de Responsáveis de CL da África. Mais de 100 pessoas de 14 países do continente negro, em Nairóbi, de 21 a 23 de outubro. Em alguns desses países, a presença do Movimento é muito recente. É o caso de Burundi, ou de Moçambique. Outros, ao contrário, têm uma história que já dura décadas: Nigéria, Uganda e Quênia. "Por que estamos aqui?", repete padre Julián Carrón na introdução, do palco do auditório do Dimesse Center. "Quem nos coloca essa pergunta, como fez o Núncio esta noite, quem nos faz essa pergunta é um verdadeiro amigo", diz Carrón. Porque o amigo é quem nos provoca a nos perguntarmos a razão daquilo que fazemos, porque é muito forte a tentação de dar tudo por óbvio.
"O que vocês têm de mais caro?", muda a pergunta, Carrón. Porque a resposta é a mesma. "Vocês não se alegram por causa de seus "sucessos missionários", mas porque foram escolhidos, escolhidos para ter os mesmos olhos com os quais Jesus olha para os homens", comenta. É a única razão pela qual estamos aqui: por causa desta preferência do Mistério.
Sexta-feira à noite aconteceu a primeira Assembleia. Começou com o canto È bella la strada (É bonito o caminho, ndt). E cada um pensa no caminho que o levou até ali, em todas as dificuldades, nos desafios e nos passos que deram juntos. "Como posso viver sem me perder?", pergunta Bright, universitário ugandense. "Sinto-me sozinha no meu trabalho", diz Anna, do Congo: "O que pode me ajudar?". E Mirelle, de Camerun, diz: "Sinto-me muito provocada pela difícil situação do orfanato em que trabalho e com a situação política do país...".
Carrón responde, falando da sua experiência: "Me apaixonei pelo Movimento porque ele me deu instrumentos para julgar. Mesmo antes, eu sabia o que era o coração, mas ninguém tinha me dito que julgar é uma comparaçäo de tudo aquilo que acontece com as exigências do meu coração". Esta é a origem e a fonte da dignidade da pessoa, continua Carrón. É aquilo que permite não nos perdermos.
Na saída do auditório, muitos rostos familiares, outros completamente novos: poucas palavras são suficientes para retomar um diálogo de longa data. Estou à mesa com padre Valerio ( da Fraternidade San Carlo, no Quênia há 25 anos), padre Stefano (frei capuchinho, cirurgião, há trinta anos em Madagascar) e com Henos e Wondwo, dois jovens amigos da Etiópia. Falamos sobre o que fazemos sem perder de vista aquilo que Carrón acabou de nos dizer.
Na manhã seguinte, as perguntas se tornam mais urgentes, provocadas pela experiência cotidiana. Carrón escuta. Não parece muito preocupado em dar uma resposta imediata, mas em nos acompanhar em um caminho verdadeiro de conhecimento. "O que pode superar a confusão que nos rodeia na situação atual? A vitória sobre a confusão é uma atração". Cada um de nós pode lembrar a data, o dia em que pela primeira vez foi vencido pela atração gerada pelo encontro com Cristo. É o acontecimento cristão. Estamos juntos para nos ajudarmos a reconhecer continuamente essa atração vencedora. Para que nenhuma confusão possa nos vencer. O único caminho: sermos fiéis a esta companhia. Breve pausa para um café: encontro Anna e Samuele. Há pouco tempo, Anna aceitou ir trabalhar em Brazzaville, no Congo. Uma experiência difícil, com um chefe pouco interessado nas atividades do departamento em que ela trabalha, um ambiente indiferente. Sozinha. No entanto, consciente que se trata de um desafio que vale a pena aceitar. Samuele, agrônomo, trabalha em um projeto da AVSI, em Burundi. Sua mulher e seu filho de um mês irão encontrá-lo no Natal. Está contente com essa aventura. É possível ver isso.
Na volta ao auditório, Francis, da Nigéria, fala outra vez: pergunta a Carrón qual é o segredo para reconhecer o Mistério em todas as circunstâncias. Mas ele o provoca com uma série de perguntas: "O que tocou você, hoje? Por quê?". "O fato de que aquilo que ouvi hoje esclareceu uma dificuldade que estou vivendo", responde o nigeriano. "Esta é a novidade que Cristo introduz", diz Carrón, uma modalidade de enfrentar os problemas de um modo que nos permite sair da confusão. Não é um problema ligado às culturas, mas à própria natureza do cristianismo, quando não é reduzido a regras. João e André pertenciam à cultura hebraica, e Cristo não os "preparou" para o encontro com Ele, mas lhes disse: "Venham e vejam". "É-nos pedido simplesmente vivermos aquilo que encontramos", esclarece Carrón.
A Assembleia termina com os avisos: nada de organização, é uma vida. É belo o caminho para quem caminha. Saímos do salão com uma consciência mais clara do caminho e com um desejo maior de percorrê-lo juntos.
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