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OS FATOS

Nada de niilismo, somos homens

por Gianluca Marcato
18/01/2012 - Padre Julián Carrón passou um final de semana com as comunidades de CL de língua inglesa. Diálogos e testemunhos de adultos e jovens. Na descoberta de que a realidade é sempre positiva. Mesmo diante da morte do pai...
Ponte Millennium, em Londres.
Ponte Millennium, em Londres.

Sunningdale é uma cidadezinha nos arredores de Londres, sede do campeonato europeu de golfe. Neste ano também hospedou o fim de semana de férias dos Países europeus de língua inglesa (Irlanda, Luxemburgo, Malta, Holanda, Escandinávia e Reino Unido), do qual participou padre Julián Carrón. Um encontro muito procurado até a véspera, tanto que a secretaria precisou fazer, com surpresa, uma lista de espera de 30 pessoas. Também participaram amigos recém encontrados e velhos conhecidos como Robert, que tinha se afastado do Movimento em 1965 e voltou agora. Indício de como foi pertinente o título dado aos dois dias de convivência: “A inexorável positividade da realidade”.
Os corações se abalaram quando, na sexta feira à noite, padre Carrón retomou a homilia de Bento XVI por ocasião da festa de Epifania: “O coração inquieto é aquele que, no fim das contas, não se contenta com nada que seja menos do que Deus e, exatamente por isso, torna-se um coração que ama. Nosso coração é inquieto em relação a Deus e permanece tal [...]. Mas não apenas nós, seres humanos, somos inquietos em relação a Deus. O coração de Deus é inquieto em relação ao homem. Deus nos espera. Está em busca de nós. Ele também não fica tranquilo enquanto não nos encontra. E essa é a tarefa de vocês seguindo os passos dos Apóstolos: deixem-se tocar pela inquietude de Deus, para que o desejo de Deus em relação ao homem seja satisfeito”.
Nas palavras do Papa há muito daquilo que veio à tona na assembleia de sábado. Imediato, de fato, é o testemunho da inquietude do homem que, de um lado, deseja alcançar Deus e, de outro, é consciência da própria pequenez. O risco é que, confrontados com os próprios limites, nos bloqueamos. Mas se é assim, pergunta Amos, “qual é o ponto de partida?”. Alguém tenta responder, depois, Aldo diz: “Eu, na verdade, responderia: eu sou Tu-que-me-fazes”. Padre Carrón quase pula da cadeira: “Qual é a relação entre receber a vida e o escândalo pelo próprio limite? Ele me ama mais do que o meu escândalo. E isso é algo que está acontecendo agora. Quando estou cheio da minha vergonha, Ele está me fazendo. Este é um juízo sobre o valor da minha vida. Ele está me fazendo agora porque me ama”.
Diante do abraço de Cristo, não há mais necessidade de esperar nada. Como Imma, que agradece a Deus exatamente no momento em que se deu conta de que magoou o marido e o filho por uma razão sem propósito. Começamos a perdoar a nós mesmos, porque temos certeza de que existe Alguém que nos ama, alguém que nos perdoa: essa é a experiência da confissão. Ou Peter (pai de sete filhos) que, diante da perda prematura de um filho há três meses, fala dessa experiência dolorosa, com certeza, mas também alegre. Isto é, a descoberta de um amor mais verdadeiro e mais intenso pelos outros filhos e de um amor que Cristo mostra em gestos simples de amigos e conhecidos: “Nossas vidas foram preenchidas por um desejo imenso. O menino que Alison carregou no ventre por apenas 7 semanas fez com que saltássemos de alegria no mais profundo do nosso ser. Descobrimo-nos comovidos na esperança da salvação eterna do nosso filho Raphael e de Charis Zoe (perdido no início do casamento). Nós vemos que a esperança é uma virtude e Deus nos mostra esta esperança em fatos reais”.
Mas não é suficiente ver nos outros essa experiência de positividade para que se torne nossa. Precisa entrar na nossa carne. Marco tem 18 anos, nos últimos três meses perdeu um amigo em um acidente, foi deixado pela namorada e não foi aceito na Universidade de Oxford. Ele pergunta: “Como se faz para ter certeza de que tudo é para você?”. Carrón responde: “Você pode realmente colocar sua mão no fogo de que não há uma positividade em tudo isso? Tem cem por cento de certeza?”. Marco diz: “Não”. Carrón: “Essa é a razão: abertura. Cabe a você, então, decidir se quer deixar a possibilidade para essa positividade entrar ou não. E abrir-se é razoável porque na sua vida, você já experimentou situações em que a realidade revelou-se maior do que lhe parecia”.
Silvia, ao contrário, fala da morte de seu pai, que aconteceu quando ela ainda era pequena. Ainda não tinha conseguido olhar realmente esse fato. Tentava esquecer seu pai vivendo como se ele nunca tivesse existido. Mas durante os últimos meses, graças ao trabalho da Escola de Comunidade, as coisas mudaram. “Dei-me conta de que, na verdade, dessa maneira eu o matava novamente, tornando-me órfã duas vezes. Porém, agora posso olhá-lo no rosto e dizer que a realidade é positiva porque ele existiu e ainda está presente na minha vida”. Qualquer que seja o rosto da realidade, ela existe. E, se existe, é criada por um Outro. Mas não é possível lutar contra o niilismo – dissemos – sem um trabalho persistente sobre a Escola de Comunidade. Quer dizer, sem estarmos disponíveis a um caminho. Somente tendo uma ternura para conosco mesmos, temos a razão para fazer o caminho proposto por Dom Giussani.
O fim de semana terminou com uma noite de cantos e com a apresentação do novo livro de trabalho: Na Origem da Pretensão Cristã, que inesperadamente (porque preparados independentemente) delinearam a mesma proposta de caminho para o novo ano: a verificação do fato de Cristo hoje é a mesma de dois mil anos atrás. O sinal de que Cristo entra em nossa experiência é a realização da nossa vida, a realização da razão, da afeição e da liberdade. E a prova disso é ver crescer em nós a afeição e a familiaridade com a pessoa de Cristo. Foi o que começamos a descobrir no milagre destes dias em Sunningale.

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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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