Eles foram encontrados por acaso, há dois anos. Ashraf, 36 anos, está na Itália há oito, trabalha numa empresa de mecânica, e entra e sai da “caixa integração” [instituto legal italiano que garante uma ajuda salarial ao funcionário cuja firma passa por dificuldade]. Yousef, seu irmão, chegou dois anos depois. Foram para Milão e depois para a cidade de Desio. São egípcios nascidos no Cairo. Cristão coptas. “Viviam na casa de uma senhora que conheciam, a qual nos falou deles”, conta Fabio, um dos responsáveis do Banco de Solidariedade de lá. “Começamos a levar-lhes o pacote de alimentos a cada quinze dias, como fazemos com todos”. Mas eles, depois de duas ou três vezes, renunciaram: “Preferimos que não mandem mais: nós nos sentimos humilhados”.
Questão de orgulho. De cultura. Sentem grande dificuldade para pedir, mesmo quando a necessidade pesa. Mas Fabio e Antonella, sua mulher, não desistem. “Temos bem presente na mente o que é o Banco de Solidariedade para nós, o que oferece. E tínhamos no coração uma coisa ouvida numa assembleia com Giarcarlo Cesana, tempos atrás: A caridade está toda naquele minuto a mais que dedicamos para além da organização. Era impossível ficar parado na forma. Não podíamos levar-lhes o pacote? Então começamos a convidá-los para um almoço a cada quinze dias”. E assim cresceu a amizade. Começaram a vir à tona os problemas. A permissão de permanência no país, por exemplo: Yousef não a possui. Encontrou-se um modo de resolver isso. E o problema do emprego. “Sou um profissional liberal, setor de comunicação: quando podia, eu o levava comigo para me dar uma mão”. Depois o chefe de seu irmão mandou chamá-lo para trabalhar lá também. Começou a frequentar a Escola de Comunidade, junto com Ashraf: “De vez em quando ele fala. E a pergunta é sempre a mesma: o que é Deus para mim?”. Foi assim que Yousef recomeçou. Combatendo também o inimigo mais poderoso, a depressão, que às vezes o leva a se isolar, a se trancar dentro de casa.
“Aos poucos fui entendendo o ponto”, diz Fabio. “Ele ama uma moça, no Cairo. Ela se chama Inas. Mas as incertezas, a preocupação por não poder lhe garantir nada, levaram-no a uma crise. Ela estava distante: Eu espero você, a vida toda. Ele estava tão assustado que não podia assumir nenhum compromisso”.
Vergonha e desejo. “Vergonha pelo que não conseguiu obter e desejo de algo mais importante”. Era preciso um encontro para que prevalecesse o segundo. E isso aconteceu a Yousef no relacionamento com aqueles estranhos amigos italianos. Em agosto passado viajou para o Egito para passar lá um mês. “Quando retornou, nos disse: estou noivo. Para eles, é um compromisso sério, quase um casamento. E também no trabalho ele se jogou de corpo inteiro. Agora me diz sempre: olhe, estou fazendo como você me disse; sigo o desejo e a realidade, até o fim”.
Em suma, está lutando. Sem garantias, porque de vez em quando a depressão reaparece. E Inas também começou a escrever para Fabio e Antonella. Num e-mail escrito em um italiano inseguro, mas preciso, disse: “agradeço pela coragem dada a Yousef, vocês são a fonte para ele continuar vivendo”. Continua a pedir que “a minha nova família, ou seja, vocês” o ajude. “Entendi o quanto mora Cristo em seus corações, a vossa presença é uma bênção. Para Yousef e para mim”. E para o mundo.
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