O imperador interrogou os cristãos: “Homens
estranhos... Dizei-me vós mesmos, ó cristãos,
abandonados pela maioria de vossos irmãos e de
vossos chefes, o que vos é mais caro no cristianismo?”.
Levantou-se, então, o starets João e respondeu com doçura:
“Ó grande rei, o que nos é mais caro no cristianismo é o próprio
Cristo. Ele próprio e tudo o que dEle vem, porque sabemos que
nEle habita corporalmente toda a plenitude da Divindade”.
(Vladimir Soloviev, Breve conto sobre o Anticristo)
“O que você tem de mais caro?” Com o Cartaz de Páscoa nas mãos, muitos universitários que participam do CLU de toda a Itália dirigiram esta pergunta nestes dias a colegas de curso e professores, para convidá-los para as assembleias públicas que estão acontecendo em muitas universidades. Ninguém ficou indiferente, partindo de quem fez a pergunta.
Como Pietro, estudante do último ano de Farmácia, em Milão. Quando chegaram os panfletos com os cartazes para a assembleia, pegou 50 para entregar aos seus colegas do laboratório. Mas quando chegou diante deles ficou paralisado: “Aqueles folhetos queimavam na minha mochila, mas eu não sabia como iria distribuí-los”. Até que uma colega lhe perguntou: “Mas você é um daqueles que reza em círculo de manhã?”. Ele respondeu que sim timidamente: “Mas voltemos aos nossos experimentos...”. Depois se aproxima uma outra moça: “O que você estava panfletando hoje de manhã?”. “Nada, nada...”. Até que a assistente do laboratório lhe pergunta: “Hoje eu vi você entregando um panfleto para uma aluna que conheço. O que era?”. Àquela altura Pietro não pode mais se esconder e mostra um: “É isso”. “O meu castelo de cartas foi destruído, e descobri que não era tão firme como eu pensava”, conta Pietro: “Aquele constrangimento a propor a resposta do starets me obrigou a me perguntar o que eu tenho de mais caro”.
Ir até o centro da questão. Embora às vezes haja uma consonância imprevisível, como aquela que Elia, estudante do quinto ano de Filosofia em Florença, descobriu com o seu orientador. Ele se define como anarquista, mas diante da pergunta do imperador se iluminou: “O que me é mais caro é encontrar pessoas com esta exigência, que vivam como homens. São sempre mais raros, mas este é o motivo pelo qual faço este trabalho”. Também Roberto, que estuda Letras em Bolonha, foi falar com o professor que está lhe orientando o trabalho final do curso: “Pelo relacionamento que tenho com o senhor, gostaria de lhe entregar este Cartaz, pois em poucas linhas resume o que eu tenho de mais caro na vida”, lhe disse. Um “risco”, faltando poucas semanas para a formatura, mas o professor ficou impressionado: “Vou pendurá-lo agora. Pode fazer bem até para um leigo como eu: a Páscoa obriga a nos colocarmos algumas perguntas”. Roberto nunca saiu tão contente depois de um encontro com ele: “Percebi que aquele relacionamento agora é totalmente diferente, não fico mais constrangido e o professor está realmente interessado em mim. Pergunta como estou, que projetos eu tenho para o futuro. Pela primeira vez fui até o centro da questão, livremente, sem me preocupar com como deveria acontecer. Porque vejo sempre melhor que aquilo que eu tenho de mais caro é realmente o próprio Cristo, não as minhas ideias sobre o que deve acontecer”.
A mesma provocação que viveu Giulio diante do suicídio de um rapaz da faculdade de Engenharia em Bolonha, onde ele estuda. “Nestes dias eu vi pela primeira vez o Cartaz deste ano”, conta Giulio: “Eu imediatamente decidi levá-lo aos meus professores para dizer: Nesta situação, a minha vida se apoia aqui”. Muitos docentes ficam provocados, e está sendo organizada uma missa na faculdade para rezar pelo rapaz. “Porém, a coisa mais importante para mim, é me dar conta da graça na qual estou imerso”, diz Giulio: “O mundo vive distraído e provavelmente daqui a pouco se esquecerá daquela tragédia, mas anseia por aquilo que carregamos. Não podemos mantê-lo só para nós”.
Apaixonar-se de novo. Assim, cada um descobriu o que tem de mais caro: “Nada nos basta, a não ser Cristo”, disse Julián Carrón aos estudantes da Universidade Federal de Milão. “Não por uma fixação que temos, mas porque é a única coisa que pode corresponder a toda à nossa espera. E nenhum imperador jamais poderá evitar que se desperte em nós o desejo dEle”.
O mesmo desejo que se despertou no colega de curso de André, que cursa o quinto ano de Matemática em Milão, a quem encontrou depois de algumas semanas sem se ver quando estava panfletando no pátio. Ele estava vivendo uma desilusão afetiva e a incapacidade de entender o ocorrido: “Estamos no mesmo barco. Venha à assembleia. Falaremos disto”, lhe diz André mostrando o rosto de Cristo de Masaccio, ilustrado no Cartaz. Ele o pega e nota-se que ficou provocado. Quinta-feira vai à assembleia com André. Na saída lhe agradece: “Surgiram as mesmas perguntas que eu tenho. Este é um caminho, estou tentando muitos outros, mas aqui as pessoas não têm medo das urgências da vida. Estou contente de ter vindo. Hoje, graças a esta assembleia, pude me apaixonar de novo por este dia, depois de ter passado dias no sofá chorando e assistindo aos Simpsons na TV. Não sei o que acontecerá, mas hoje me senti em casa”.
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