Alex foi batizado na última vigília de Páscoa. Em novembro, eu tinha lhe pedido que apresentasse aos meus alunos (sou professor na Universidade Técnica de Lisboa) a sua tese de mestrado, que eu tinha acompanhado. Alex fez a pesquisa sobre um santuário que se localiza ao sul de Lisboa; chama-se Nossa Senhora do Cabo Espichel e fica num imponente rochedo, dentre os muitos existentes em Portugal. Este, porém, tem a particularidade de estar voltado para oeste e ter um acesso plano, horizontal. Assim, ao se caminhar em peregrinação a este santuário, tem-se sempre à frente a linha do horizonte, onde o céu se encontra com o mar e, se a ele nos dirigimos ao entardecer, ficamos diante do sol. Esta situação cria uma atmosfera sempre percebida como sagrada: existem traços de agrupamentos do Neolítico e do Paleolítico. É, por isso, um local muito especial porque a experiência que se faz não depende de subir em direção a Deus, como em outros montes sagrados, mas, de andar em frente, para tomar consciência do próprio destino (“o que acontecerá comigo...?”). Ali, de verdade, é difícil escapar a um confronto com o destino, do qual é símbolo o horizonte inacessível onde céu e mar se encontram e onde o sol se esconde. Ali a pergunta sobre o futuro se torna incisiva. Entretanto, apenas no século XVII (entre 1601 e 1700) foi construído o santuário que temos hoje e que permitiu, pela primeira vez, uma ocupação estável já que as anteriores eram ocasionais. Esta arquitetura permitiu habitar o próprio destino, não dar as costas ao relacionamento com o horizonte: o lugar é, de fato, muito desconfortável.
Lembro-me quando Alex e eu compreendemos isso: estávamos no meu escritório e lhe falava dessas ocupações sucessivas e sobre a qualidade sagrada do lugar. Insistia: “O que significa, qual é a correspondência que estabelece hoje com você e com os outros, o que lhe dá?”. Depois de algum silêncio e embaraço dos dois, pareceu-me haver compreendido. Corri para a lousa e desenhei apressadamente o esquema de Dom Giussani (em que é explicado o que é o acontecimento cristão em relação a outras religiões). E disse a Alex: “Veja, este deve ser obrigatoriamente um lugar cristão, porque é o evento cristão que permite habitar o próprio destino”.
Calei-me pensando que havia falado demais. Na verdade, não sabia se ele acreditava; ao contrário, pensava que não acreditasse: Deus, Cristo, a religião nunca eram colocados como tema, nem em minhas aulas e nem nas nossas conversas. Pensei que o que havia dito poderia ser interpretado como uma grande pretensão, uma pretensão cristã porque estava muito seguro de que meus alunos sabiam que eu sou católico. Espantei-me quando, após alguns segundos de silêncio, Alex me perguntou o que poderia ler para aprofundar-se. Consegui, mesmo assim, responder que os livros que melhor explicavam o tema eram os livros de Luigi Giussani: o PerCurso.
Alguns meses depois, Alex me apresentou as duzentas páginas de sua tese, na qual citava bastante Giussani, mesmo partes às quais não havia me referido mas que eram claramente pertinentes para explicar o sentido daquela arquitetura. Apesar disso, nunca, nesse período, houve ocasião para falar de sua vida ou de sua fé: os colóquios eram sempre junto a outros colegas que eu orientava. Quando Alex apresentou a tese aos meus alunos, falou da identidade do santuário substancialmente nos mesmos termos que descrevi acima, e mesmo citando Giussani, de forma que tocou a muitos. Ao final, um dos alunos mais atentos perguntou-lhe: “Como sabe que tudo isso que encontra naquele lugar é de verdade e não uma projeção sua?”. Alex respondeu: “Sei, porque era ateu”.
Acabada a aula eu lhe perguntei o que significava sua resposta. Explicou-me que embora sendo filho e neto de comunistas, ateu, sem que isto lhe criasse algum problema (até pouco tempo antes), chegara ao ponto de querer ser batizado. Segundo ele, o problema teria começado com as minhas aulas, havia três anos, nas quais questiono o sentido, a implicação humana da arquitetura. Porém, foi com o trabalho do Cabo Espichel, que fazia há dois anos, que a questão se tornara clara. Já tinha feito um curso de introdução à religião, indicado por alguns amigos seus, cujos testemunhos o haviam impressionado muito. Então, tomara a decisão de fazer-se batizar. Sua namorada tinha feito um percurso parecido: tinha trabalhado com ele durante o primeiro ano da pesquisa sobre o Cabo Espichel e, após um período de afastamento da Igreja, havia recebido a Crisma fazia pouco tempo. Perguntei-lhe se poderia orientá-lo na preparação ao batismo e aceitou de boa vontade. Apresentei-lhe um pároco de nossa comunidade na noite de Natal e, a partir de então, compareceu às reuniões semanais. Logo depois, pediu-me que fosse seu padrinho.
Quando padre Julián Carrón esteve em Lisboa para a apresentação do segundo volume do PerCurso (em 17 de fevereiro), lá estavam Alex e a namorada. Depois, perguntou-me o que mais poderia fazer ainda. Convidei-o para a Escola de Comunidade. Comparece sempre. Perguntou-me se deveria pagar alguma coisa: ouvira que em alguma Escola se deveria pagar uma inscrição. Na semana passada faltei mas, logo que nos vimos, perguntou-me o porquê. Agora irá aos Exercícios da Fraternidade.
Mais que uma história de milagre, esta foi, para mim, a ligação, inesquecível, constatação de que a realidade é positiva: quando um ateu chega a descobrir Cristo numa arquitetura, a ponto de converter-se...
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