No início da década de 1980, Giuseppe Zola, conselheiro municipal em Milão, pede a algumas famílias, que por diferentes circunstâncias abriram as próprias casas à acolhida, para ajudá-lo na preparação de um regulamento para a guarda de jovens e crianças. Não havia ainda uma lei sobre o assunto e a proposta de revisão do código ainda está longe de acontecer. A partir dessa contingência histórica nasce, em 1982, a Associação Famílias para a Acolhida, uma rede de famílias espalhadas pela Itália e por diversos países do mundo. Nestes trinta anos, mais de 13.000 pessoas encontraram acolhida. E hoje são mais de 4.000 as famílias associadas. Mas com certeza os números não mostram as histórias, as experiências destes anos que têm apenas um ponto de origem: “Diante da inadequação, dos limites na acolhida do outro, o único fator que sustenta é o próprio relacionamento com o Senhor”, explica Alda Vanoni, juiza do Tribunal de Menores de Milão e presidente da Associação no início desta obra e durante muitos anos. “O porquê vem antes do como. É possível oferecer um serviço melhor, e nós procuramos fazer isso através, por exemplo, dos minicursos sobre adoção e guarda, oferecendo suporte de especialistas, mas antes vem o objetivo”.
Dom Giussani esteve próximo desde o início. “Conduziu-nos pela mão. No relacionamento com ele ficou clara a função da Associação: uma companhia inteligente que sempre remete à origem, ao fundamento. Estava tocado e comovido pela radicalidade do gesto: levar para casa uma pessoa com quem dividir a toalha de banho ou a de mão reconduz a uma essencialidade. É um tu que chega por meio de um contato direto. A dimensão é aquela de uma gratuidade total. Que pode ser por um período, como no caso da guarda, ou definitivamente, no caso da adoção”. Nem sempre é fácil, o risco de posse é grande. “Por isso, é necessário ir até a raiz”. Como? “É possível somente se pensarmos na paternidade de Deus, que é pai e dá a capacidade de sermos pais de qualquer filho: de guarda temporária, adotado ou biológico. Eles são dados a você. Nos erros ou nas dificuldades, você pode dizer: ‘Você o deu a mim, então sabe por que preciso passar por essa dificuldade. Ajude-me’. Esta foi a minha experiência”.
Mas nem todas as famílias se dispõe a fazer um gesto do gênero. “Explicamos. A acolhida do outro está na base de qualquer relacionamento. A vocação à família pede que eu me abra ao marido, aos filhos. Além disso, a dimensão da acolhida não está apenas na guarda ou na adoção. O acolhimento, mesmo por poucos dias, carrega a mesma riqueza, a mesma plenitude do coração. A cada um é pedido para seguir seu caminho. A porta está aberta”.
Na carta para o Encontro Mundial das Famílias, o cardeal de Milão, Angelo Scola, fala de “dom total de si”: como isso se joga na acolhida? “Antes de mais nada, doar-se não é instintivo, é uma dificuldade, uma ferida sempre aberta. Um gesto de acolhida faz experimentar concretamente o que quer dizer ‘dom de si’. A pessoa pode fingir que está dando tudo porque se sente bom, mas diante do filho que se rebela, nesse momento precisa olhar no fundo de si, para aquilo que deseja, para o porquê de fazer aquele gesto. E que o faz pelo Senhor”. Não é fácil testemunhar esse nível de consciência. “É verdade. Normalmente o mundo vê apenas o invólucro. Quantas vezes nossas famílias foram etiquetadas como ‘boa’”, e até como ‘funcionam bem na acolhida’, sem compreender que o que sustenta é o Deus do rosto humano”.
(www.famiglieperaccoglienza.it)
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