“A Itália nunca poderá crescer graças a matérias primas ou novas fontes de energia. Nossa fonte será a pessoa. E a sua capacidade de inovação”. Giovanni Azzone, reitor da Faculdade de Engenharia – o Politécnico de Milão –, logo coloca em foco o problema. Escutando-o, estão alguns professores e mais de setecentos estudantes, divididos em quatro salas coligadas. Foram eles que o convidaram para falar, juntamente com padre Julián Carrón, presidente da Fraternidade de Comunhão e Libertação, em um encontro sobre jovens, crescimento e educação. Com um fio condutor: o risco.
A provocação nasceu há mais de um ano, quando o tsunami provocou o desastre nuclear de Fukushima, no Japão. Diante daquele drama, entre os jornais, análises e especialistas, dominava uma única reação, que, em substância, soava assim: as centrais nucleares oferecem muitos riscos, serão eliminadas. Alguns estudantes do Politécnico ficaram tocados. “No trabalho do engenheiro, na construção de casas, de pontes, há riscos a cada passo. E, se pensarmos bem, em cada instante do dia corremos riscos. Então, começamos a nos perguntar: como fazemos para nos mover com certeza?”, explica Marco Lezzi, estudante do quinto ano. Uma pergunta muito urgente para deixá-la de lado. Marco, junto com outros universitários de CL, começa a buscar e encontrar empresários, médicos, profissionais que em seu trabalho cotidiano não têm medo de ousar, porque vale a pena correr o risco. “Começamos a entender que o ponto da questão, em meio às fórmulas e os números que nos acompanham todos os dias, é que precisamos de verdadeiros mestres”. Assim, decidem convidar algumas personalidades para um encontro na faculdade. O primeiro encontro, ocorrido na metade de junho, foi este com padre Carrón e Azzone, reitor e também professor de muitos deles.
“Um bom educador não se distingue apenas por aquilo que ensina, mas pela maneira como ensina. Pelo método que transmite”, diz Azzone, que se coloca em primeira pessoa: “Nossa tarefa como Politécnico deve ser o de adaptar nossa maneira de operar ao contexto em que vivemos. E hoje estamos diante de um bívio: de um lado há aqueles que, perdida a esperança, se mudam para lugares melhores; de outro, aqueles que ainda têm vivo um desejo de mudar a realidade”. Um exemplo da segunda postura são os estudantes chineses, que chegam à Itália para estudar com a ideia de voltar logo para casa com aquilo que aprenderam. “Hoje, nossa tarefa é educar sujeitos capazes de mudança. Por isso, aquilo que oferecemos não é apena um lugar onde vir fazer as provas, mas uma experiência completa”. Este é o ponto. O que há por trás do adjetivo “completa”? Quando uma educação pode se definir assim?
“Uma verdadeira educação deve responder à totalidade da exigência humana”, afirma Carrón. “Nenhuma explicação penúltima, de fato, consegue satisfazer a nossa sede de conhecimento”. Fala sobre a visita a um planetário que fez anos atrás com alguns alunos. No dia seguinte, perguntou a eles o que os tocou. Poucos falaram das galáxias ou da quantidade de estrelas. A maioria fez perguntas do tipo: quem fez tudo isso? Por que o fez? “São as mesmas perguntas que o poeta Leopardi se fazia. Não são questões para filósofos ou pessoas pias, mas para qualquer um que queira estar diante da vida. E se eu, como educador, não tivesse oferecido a eles uma hipótese de resposta adequada às suas exigências, imaginem que desilusão em seus rostos...”.
Depois, retoma a provocação levantada por Fukushima, mas também pela crise econômica italiana que não encontra solução e pelos contínuos tremores na região da Emilia: “A realidade não nos dá trégua e não para de nos chamar: o fato de estarem aqui é testemunha disso. O impacto com aquilo que acontece faz surgir perguntas e desejos, cria problemas. O primeiro risco que cada um de nós deve aceitar correr é deixar-se envolver por esse desafio. Parar na aparência não é apenas um delito em relação às coisas, mas em relação a nós mesmos”. O verdadeiro mestre, portanto, é aquele que tem a coragem de ser ele mesmo e acompanhar os jovens nesse percurso: “A universidade é um lugar privilegiado para a educação a este tipo de razão. Através do estudo de um particular, de uma prova, desperta a pergunta sobre tudo”.
Estava claro desde a primeira frase que não se falaria de números, estatísticas ou soluções para o futuro. Porque se o sujeito não muda, nada muda. E o que permite a mudança do sujeito? “Somente podemos ser pessoas consistentes e, portanto, capazes de criatividade e mudança, se encontramos uma resposta à altura das nossas perguntas”, conclui Carrón: “Se não oferecemos um verdadeiro fundamento à vida, será difícil não sermos determinados pelo medo e pelas circunstâncias”.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón