O aspecto mais surpreendente do quinquagésimo Congresso Eucarístico Internacional de Dublin (Irlanda) foi deixar bem claro que o Mistério age superando a lógica do mundo que acreditamos conhecer. Tomemos, por exemplo, o que aconteceu com a mostra organizada pelos nossos amigos do Movimento de Dublin, a qual também fora exposta no Meeting de Rímini do ano passado (“Com os olhos dos Apóstolos – Uma presença que arrebata a vida”). Foi o grande sucesso do Congresso, um evento de fato revolucionário, visitado por mais de oito mil pessoas em apenas seis dias. A maior parte dos visitantes saía da visita visivelmente comovida pelo que havia encontrado, e decidida a conhecer mais sobre dom Giussani e sobre esse modo de olhar as coisas que ele nos ensinou, sobre a experiência do cristianismo como Presença que se impõe, modificando o significado último das coisas.
Levar a mostra a Dublin foi uma ideia “impossível”, que nasceu no mesmo momento em que alguns de nós visitaram o Meeting, no ano passado. Essa “impossibilidade” não resistiu à obstinação do Mistério. Nós simplesmente seguimos os sinais, empurrando devagarzinho as portas para ver se se abriam.
De fato, é impressionante ver como funcionou esse modo diferente de se colocar num contexto onde as condições eram tão precisas, tendo um objetivo coerente e imediato. Ficamos abertos à possibilidade de que essa hipótese pudesse se concretizar ou fracassar, pudesse dar certo ou não. No final, aconteceu de um modo que foi além dos nossos sonhos mais ousados. A ideia, como nos recordou o nosso novo amigo Raymond, lançou raízes como o pequeno grão de mostarda, nesse terreno de abertura amorosa, cultivado com as intuições e as reflexões de dom Giussani, e assim pudemos ver essa magnífica árvore germinar e crescer diante dos nossos olhos. Vimos que esse é o modo como as coisas acontecem na realidade. É o que significa “fé”. Nada do que Giussani nos transmitiu é abstrato ou teórico. É um caminho para fazer com que aconteçam coisas que, de outra maneira, poderiam parecer miraculosas.
No contexto mais profundo da sociedade irlandesa e da sua atual condição, no que se refere à fé e à esperança, o Congresso teve – creio eu – um impacto histórico, embora no momento seja apenas perceptível, e a mostra desempenhou aí um papel importante. A nossa esperança era poder construir um lugar onde o Mistério pudesse enfrentar o desafio impossível de atrair os peregrinos para esse nível que Giussani sempre nos disse ser possível. Tudo o que posso dizer é que, dentro de um espaço expositivo aparentemente semelhante a um bunker, emergiu algo que transformou esse espaço num lugar onde as pessoas podiam encontrar repouso e energia, em comparação com o bunker quotidiano de que o Papa Bento XVI falou alguns meses atrás, no Bundestag (Alemanha). A mostra se tornou, assim, uma espécie de anti-bunker, pelo qual os peregrinos foram guiados como se a distância de espaço e de dois mil anos de história tivesse sido anulada.
O Congresso começou num clima de pessimismo, induzido pela atual situação da Igreja oficial. A atitude das autoridades eclesiásticas irlandesas, desde o momento em que foi anunciado que o Congresso Eucarístico internacional seria realizado em Dublin, dava a entender que esse era um evento que eles teriam preferido não realizar agora. “Se possível”, pareciam dizer, “afastem de nós esse cálice”. O tempo não era propício; havia muitas questões importantes não resolvidas; o evento inevitavelmente geraria uma enésima reação.
Tal pessimismo era, em termos mundanos, compreensível, mas excluía a possibilidade de acontecer algo excepcional. Nos primeiros dias do Congresso, o humor dos peregrinos irlandeses era um tanto abatido e desanimado. Mas aí aconteceu um encontro, depois outro, e mais um outro... Os peregrinos foram à mostra sobre os Apóstolos, no começo cada um por si; depois, em grupos cada vez mais numerosos. Começaram a se encontrar nos bares e trocar impressões sobre o Congresso e sobre a própria vida. Antes e depois das missas e dos seminários, floresciam os diálogos. A semana toda foi de uma intensidade surpreendente – não do tipo “carismático”, mas algo que sugeria uma experiência e um olhar sobre a vida mais consciente, algo que jamais vi antes no meu país. Onde o havia visto? No livro O senso religioso, obviamente. Nos rostos das pessoas, no modo como se relacionavam e falavam uns com os outros, transparecia uma afirmação não dita – não simplesmente “não estou mais só”, e sim “nunca estive só”.
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