Rezamos juntos o salmo responsorial, estas grandes entusiasmantes palavras do quanto amável Senhor é a tua casa, a casa de Deus é o lugar da morada Dele , onde Ele vive no qual está presente. “Minha alma desfalece de saudade e anseia pelos átrios do meu Deus. Felizes os que habitam vossa casa e para sempre haverão de vos louvar”.
A casa do Senhor é o lugar da presença Dele no meio de nós, é o lugar da sua glória. Sempre o coração de cada um de nós deseja ver esta glória, O deseja encontrar. Mas na primeira leitura o profeta Jeremias nos alerta: muitos vêm ao templo do Senhor e depois na vida fazem o contrário homicídios, adultérios, etc.
Depois ele diz: “confiais em palavras mentirosas, a casa na qual o meu nome é invocado não é uma casa de ladrões”. É uma grande advertência para todos nós que podemos ter a experiência da nossa casa, do Movimento, do carisma e depois o resto da vida não muda, não é tocada pela beleza da experiência da casa do Senhor. Quando transforma a nossa vida podemos dizer o quanto amável é a sua casa, o lugar da sua presença.
O evangelho de hoje de Mateus nos convida a ter paciência no nosso caminho. Alguém semeou o joio no meio do trigo bom, querem destruir tudo e Jesus diz: “não, espere”. A paciência ao longo da nossa caminhada é essencial, é o elemento que permite a cada um de nós crescer. A liturgia nos dá estes dois pontos de referência: em primeiro lugar a casa é aquilo que permite a mudança da vida, e ao mesmo tempo essa mudança exige o tempo, o tempo da paciência para que nós possamos ver os frutos.
Celebrando juntos nesta noite a santa missa lembramos também outras intenções como o falecimento de padre Massimo Cenci. Temos claro o zelo pela casa do Senhor que ele tinha. Ele tinha a consciência da própria fragilidade, de sua vida como uma coisa frágil. Tinha percepção muito aguda do seu limite. Quando percebeu que alguém amou o seu limite, que o abraçou, o salvou, se sentiu amado abraçado e transformou totalmente a consciência da sua vida. A grandeza do carisma é a grandeza do encontro com o Senhor e o fato é que o nosso limite não conta. Aliás, mesmo com nosso limite somos amados e esse é o início da mudança, aquele olhar que nos atrai, nos toca e que por isso podemos nos entregar com toda liberdade. A partir disso o padre Massimo era intransigente com a afirmação da radicalidade do sim ao Senhor. Não é como todas as outras coisas, mas radical, total, plena. Não se pode confundir água com vinho, não se pode confundir as coisas: Cristo é Cristo. Somente Ele pode permitir uma forma aguda, intransigente de fazer o anúncio da presença do Senhor, a única que salva, a única Beleza com "B" maiúsculo, porém feita carne e beleza encontrada. É a beleza que não desdenha da nossa fragilidade, da nossa condição humana. Aí vemos o padre Massimo como educador à virgindade, ao casamento, à vida em todos os seus aspectos. Educador em situações difíceis como o início do Movimento. A partir da comunhão com Dom Giuliano vem o convite feito em todas as circunstâncias em todas as situações. Depois a grande experiência do nascimento da comunhão quando uma vez com ele e com Pe.Virgílio encontramos Dom Giussani. Quando a Fraternidade ainda não existia, dissemos a Dom Giussani: “nós queríamos ser ajudados na vocação”. Este foi um motivo de fato para viver a Fraternidade, uma ajuda à nossa vocação. Aí começou a experiência da unidade nascida na experiência da pessoa, da consciência deste bem total completo e absoluto. Por isso o anúncio de Jesus chega até os confins do mundo por isso se anuncia a qualquer um em todas as circunstâncias Aquele que tem misericórdia de mim, Aquele que não me abandona, Aquele que diante da minha fragilidade não me deixa e me acompanha na experiência da beleza feita carne. É a experiência original, como aquela de João e André, como aquela dos apóstolos, e sobretudo esta fragilidade amada, o amor que salva. A fragilidade é a origem da comunhão e a origem da missão. A mesma experiência que fez com que no início do meu ministério me perguntasse: onde estou vivendo o tempo da pessoa? Quando comecei tinha diante dos olhos e no coração toda a experiência dos 27 anos de missão. Começa uma coisa nova e para você é como se fosse o valor da pessoa sozinho. Mas a comunhão faz parte dos meus ossos. Tantos reencontros de pessoas conhecidas e amadas. Na experiência da sua fragilidade o Senhor nos ama quando somos frágeis, no meio de vocês, no meio de nós, a afeição do Senhor pela nossa fragilidade.
Foi assim que com esta experiência comecei a visitar hospitais [em Taranto] saudando os doentes. Os médicos me disseram: atenção, não pode tocar nos doentes daqui até o final do corredor. Entrei na primeira sala, uma senhora me pegou a mão, na outra sala também, saudamos todos. No domingo seguinte fui visitar as prisões onde estão 700 presos num lugar onde a capacidade máxima é de 300. Na missa vêm 70 selecionados para não haver tumulto. Cumprimento a todos eles e depois falo à diretora da prisão: “mas diretora também quero saudar os outros”. Ela responde : “é um pouco perigoso tem o cárcere de segurança máxima, o lugar de delitos hediondos, faça assim: vá lá da uma benção de longe e se despeça”.
Chego ao final do cárcere de segurança máxima, os saúdo e digo: “se estão aqui é porque alguma coisa devem ter feito, mas mesmo assim a humanidade de vocês é importante e não está perdida, o Senhor os quer bem”. Enquanto falava mãos saíam das grades, mãos desejosas por abraçar. Começo com os primeiros cinco, saem outros de outra cela que também vinham para serem abraçados, agradeciam pela visita. Faziam pedidos como uma forma intensa de expressar a beleza do Senhor que ama a nossa fragilidade, nos ama quando somos necessitados do abraço, não porque somos perfeitos. E depois encontro os trabalhadores desta grande indústria siderúrgica que corre o risco de fechar, por isso estou meio agitado nestes dias e tenho que encurtar minha viagem no Brasil.
Depois, visitei muitas escolas. É importante poder falar, dialogar com todos e comunicar a beleza daquilo que eu encontrei. Em uma escola de segundo grau, estudantes de filosofia, que estudam coisas importantes e pesadas, antes cantam e depois fazem perguntas ao bispo. Um jovem argumenta: “O senhor bispo veio nos visitar contou-nos de sua experiência, mas me diga: a fé não é uma invenção nossa que criamos por não saber como conviver com a angústia de todos os dias?”
Eu respondo: “Tenho 64 anos, você quando está com fome o que sacia sua fome o sanduíche real ou o virtual? Um sanduíche inventado por você, que não existe tiraria sua fome? É claro que não. E se eu tivesse encontrado o sanduíche virtual inventado que não satisfaz a fome eu nunca teria seguido esta coisa. Para mim aconteceu a mesma coisa”. Naquele encontro percebi o abraço do Senhor, o abraço que o Senhor me lança.
O Movimento me pediu para vir para o Brasil, Rio, Petrópolis e depois Bento XVI para voltar para o Itália. Uma disponibilidade assim não pode ser uma coisa inventada por mim, porque é um dom que vem da coisa mais bonita que pode acontecer, como a beldade que significa mais que beleza, a beleza absoluta, a beleza eterna que porém tem o rosto concreto. Foi isso que nós encontramos e que tem no rosto de Dom Giussani, Virgilio, Massimo, Vando, de tantos outros. Foi o encontro que passa através da nossa carne que hospeda a nossa vida. O que estamos buscando nestes dias é a retomada daquele trabalho dos exercícios espirituais que nos fazem estar diante da presença. É necessário um mestre para fazer este caminho, é necessário um mestre para poder caminhar senão fazemos como disse o profeta Jeremias: fala do templo e não influencia ninguém.
A graça maior da vida é poder ter alguém ao qual olhar e seguir através do carisma e através do caminho que Carrón nos indica neste momento. É uma graça extraordinária, meus amigos, a graça maior que nós temos é viver essa beleza no presente. Mas o presente é o início do eterno por isso padre Massimo não está longe, nem Virgilio, porque junto com eles começamos a viver coisas maiores que esta vida, que abraça esta vida e dura para sempre. É o princípio da eternidade no meio de nós e aquela das eternas ideias extraordinárias, a beleza que vive no meio de nós, a beleza feita carne, esta paixão dominante que se pode viver em qualquer lugar.
Que o Senhor nos ajude a acolher e dizer sim ao verbo feito carne presente e vivo no meio de nós e Nossa Senhora ajude o nosso sim a ser pleno e verdadeiro. Amém.
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón