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OS FATOS

A estrada do padre caroneiro

23/08/2012 - Partiu de Lyon, na França, rumo ao Meeting de Rímini, na Itália, pegando várias caronas. Padre Benoit conta “o caminho” que o levou até lá. E o que, em meio a tantos encontros, o levou a conhecer “a pessoa mais importante”
Padre Benoit com dois voluntários do Meeting.
Padre Benoit com dois voluntários do Meeting.

“Ríminí?”. Com o característico acento francês, ele dá um toque no vidro da janela do carro, na hora em que estamos partindo da parada de Módena. Dá um pulo: mochila, clergyman (veste civil do sacerdote) e um fundo suspiro. Sorri, satisfeito. Mais ainda quando entende que não só estamos indo a Rímini, mas que também nós, como ele, estamos nos dirigindo ao Meeting. Tem a cara de quem já esperava por isso: nenhuma dúvida de que ia chegar ao destino.
É assim que encontramos na viagem o padre Benoit. Ele saiu de Lyon às cinco da manhã: como caroneiro. Nós somos o décimo e último carro da sua viagem, e ele diz isso impassível. Espanta-se é com a nossa admiração: “É o Espírito Santo, gente!”.
Padre Benoit não é um “místico”, a gente logo entende. “Pego carona porque assim economizo e, sobretudo, me encontro com as pessoas. É muito interessante”.
Com o fulano do carro número 9 recitou as Horas, depois teve uma longa discussão a respeito do casamento. O carro número 3 era de um muçulmano. “Belíssimo! Me disse que os franceses são loucos, porque não reconhecem o Criador”. Acertou os ponteiros com o padre Benoit: para ele, os seus patrícios “caminham olhando para trás”. Diz que, sim, é possível fazê-lo, “mas no circo. Na vida é muito ruim caminhar assim, e a gente não vai longe”.
Ele vai. E a sua carona é um diálogo contínuo com Deus. “Saio de casa e Lhe peço que me ajude”. Depois brigam, fazem as pazes. Esta manhã ficou bravo, porque levou uma hora e meia para sair de Lyon, “depois Lhe disse que eu estava muito cansado e a viagem correu melhor do que o previsto. Enfim, converso com Ele. Como faço sempre! Mas espera aí, eu não O desafio para me fazer algum milagre: tenho Ele e a minha experiência. Observo com atenção, sigo os sinais. Assim encontrei vocês, que agora me levam direto ao Meeting”.
Ainda bem, pois ele nem sabia que haviam mudado de lugar. A última vez que veio foi em 1996. Era a segunda; a primeira foi em 94 (sem saber o italiano e sempre de carona); nesse ano, ouviu de um cardeal que “o futuro da Igreja são os movimentos”. Falava também de CL. Jamais tinha ouvido falar dele. Na época, ele era seminarista e estando por alguns dias em Roma, perguntou a um sacerdote: “Onde encontro CL?”. Assim, veio parar no Meeting.
Este ano voltou, “porque quero ver direito qual é o objetivo. É uma questão importante para mim, inclusive para entender por que na França não se fala de uma coisa tão grande”. É que na França “não se fala nem de Deus”, esclarece em seguida.
Ele estudou Engenharia numa das maiores universidades católicas da Europa, a de Lille: “Em cinco anos nos propuseram uma Missa. A gente ia para a capela, sim, mas para fazer as provas”. A sua fé cresceu até por seu espírito de contradição. A semente foi lançada por seu avô: “O testemunho dele foi decisivo”, embora nem o tenha conhecido; dele sabe apenas que morreu numa Sexta-feira Santa, às três da tarde, dizendo: “Aos meus doze filhos deixo apenas a fé”. Dos doze, nem todos a mantiveram, “mas minha mãe, sim, e junto com meu pai a transmitiu pra mim”. Nada de automático, porém. “Outros fatos me ajudaram”.
Como engenheiro, trabalhava no âmbito do comércio internacional, viajava muito, “eu encontrava as pessoas, era bacana, mas eu me perguntava: pra que serve tudo isso se eu não encontro a pessoa mais importante?”. Ele queria conhecer Deus, “mas sem conhecê-Lo demais...”. Assim, ia adiando. Até que um dia, fazendo a Paris-Dakar de bicicleta, caiu. “Ali senti um nítido chamado: Isso é pra você se converter”.
Era o ano de 1988. Não é que tudo mudou de repente. Entrou no seminário anos depois, tornou-se padre em 2005, “porque é preciso tempo, estrada, é necessário caminhar. A Deus a gente não vai diretamente. Pelo menos eu, não, pois não sou um místico. Como diz Giussani, a gente precisa de um mestre. Eu aprendi: um amigo sacerdote me disse que se eu quisesse conhecer Deus, precisaria de um, mas não um mestre qualquer. Um santo”. Perguntei-lhe o que queria dizer: “Ele me respondeu: Você precisa amar a Eucaristia, Nossa Senhora e a Igreja”. Então ele começou a rezar pedindo um mestre. “E encontrei”.
Como um carona, rumo à meta.

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