Pergunta: Hoje você me dizia que o que mais importa agora é conhecer o próprio eu e conhecer Cristo. De onde vem o fato que de esta ser a sua maior preocupação e o que mais te interessa?
Luca Novara: Eu falei estas coisas porque quando o Bracco me convidou para falar aqui eu pensei: mas o que vou falar? O que eu posso dizer de interessante? E comecei a pensar o que realmente me interessava e vi que realmente a coisa mais preciosa que estou vivendo ultimamente é descobrir como toda essa história a qual pertenço me ajuda realmente a descobrir cada vez mais quem sou e o que realmente desejo. Isso é impressionante porque nesse último período se tornou claro. Uma vez que aceitei esse desafio fui revendo toda a minha vida, tudo o que me aconteceu, e até as coisas que eu às vezes via como um azar, como uma coisa ruim, comecei a olhar com uma forma diferente. Nasci na Itália e me mudei para o Brasil com os meus pais em 1992 quando tinha 6 anos de idade e morei aqui até os 18 anos. Depois voltei pra Itália, fiz a universidade, me formei, trabalhei um tempo lá e agora desde fevereiro me mudei para o Rio para trabalhar. Fiquei relembrando também a história dos meus pais. Eles tiveram o desejo de vir para o Brasil quando, em 1984, nos 30 anos do Movimento, o Papa João Paulo II fez a proposta para todo mundo ir mundo afora para anunciar a beleza de Cristo ressuscitado. Isso os marcou e depois eles decidiram vir para o Brasil. Assim, isso também marcou a minha vida e a minha história. Depois, quando estava fazendo a faculdade na Itália, em 2007, teve o encontro do Movimento com o Papa Bento XVI pelos 25 anos de reconhecimento da Fraternidade. Fui pra lá pensando que quando os meus pais foram encontrar o Papa isso mudou totalmente a minha vida e estava cheio de tensão para ver o que ele iria falar. E ele repropôs a mesma coisa. Só que eu vivi esse fato como uma coisa negativa, porque coincidiu que naquele período que meus pais precisaram voltar para Itália. Para mim e para a minha família foi um momento muito difícil porque significava cortar as relações com o Brasil, ou seja, não ter mais nenhuma relação com o Brasil. Com isso foram se somando várias coisas e eu tive a sensação de que estar no Movimento para mim era uma idiotice, porque acontece que quando estamos juntos falamos um monte de coisas bonitas, as pessoas falam coisas interessantes, mas quando surgem os problemas é como se não mudasse nada, não mudasse até o fundo, até as coisas urgentes. Isso me afastou muito do Movimento. Continuava participando porque eu vivia no Movimento, a maioria dos meus amigos eram do Movimento, vivia em uma república que era do Movimento, estudava com pessoas que eram do Movimento, então não era tão simples dizer “ok, hoje eu saio do Movimento”. Vou pra onde? Vou fazer o que? Nem sabia o que queria dizer isso. Até que eu fui falar com o padre Fabio Baroncini, um padre italiano muito amigo, e foi impressionante porque em uma conversa ele me fez reavaliar completamente tudo isso partindo da questão sobre o tempo da pessoa. Me dou conta disso só agora. Ele me falava: você não percebe, mas o que você está vivendo é uma graça, porque quando acontece um momento da vida em que você não pode repor as suas esperanças em lugar nenhum, não pode repor na faculdade, nos amigos, na família, não pode repor nem em você mesmo, é o momento de você se perguntar qual é o único ponto, qual é a única rocha onde eu posso repor todas as minhas esperanças. E essa foi a coisa que me fez mudar completamente o meu olhar e ficar no Movimento, porque naquele tempo ali o meu único jeito de ficar no Movimento era tentando confundir as outras pessoas. Eu ia às assembleias da universidade e quando ia falar era pra tentar ir contra e confundir quem estava falando. Mas depois daquilo eu percebi que quando se tem esse ponto, essa rocha, o que determina não são os problemas, o meu erro, o meu limite, o meu jeito de ser em que a maioria das coisas que faço são erradas, mas é uma outra coisa que me determina, é essa aventura do relacionamento com uma outra pessoa, com o mistério, essa dependência. Depois me dei conta muito bem disso quando voltei para o Brasil, pois tudo o que aconteceu são coisas impossíveis que já tentei explicar, mas chega um ponto em que preciso admitir que tem alguma outra pessoa, alguma outra coisa além do que você consegue fazer. Por exemplo, o fato de eu ter arrumado trabalho aqui no Brasil. Eu vim em agosto passado para procurar trabalho e deveria voltar a trabalhar em uma segunda, mas como as passagens eram muito caras no final de semana comprei a volta só para segunda à noite e foi justo naquele dia pela manhã que fiz todas as últimas entrevistas e fui contratado. Foi uma série de coincidências até que chegou um ponto que eu disse: ou sigo essa coisa que percebo que não sou eu que faço, que dependo de um Outro. Então a única coisa que posso fazer é colocar a minha vida nas mãos das pessoas que mais me ajudam nessa estrada, ou não chego a lugar nenhum. Para concluir, depois que eu comecei a entender essas coisas, fui até o padre Fabio, quando me formei, e disse: aqui está o meu diploma, eu me formei em engenharia civil, e me coloco à disposição do Movimento, se você souber de algum lugar onde estejam precisando – porque era a proposta que o papa havia feito de novo –, está aqui, faz o que você achar melhor. Ele começou a rir e falou: “Eu não preciso disso. A única coisa que eu preciso é que você siga sem medir os esforços e tente ficar perto daquelas pessoas que mais te ajudam a viver de maneira mais simples esse relacionamento com Cristo que você começou a experimentar agora”. Aí eu falei: “Então, vou voltar pro Brasil”. Coisa que eu tinha cogitado, mas já tinha esquecido. Aí ele começou a rir e falou: “Eu já sabia disso”. É impressionante porque parece que confiar e se colocar nas mãos de uma outra pessoa é uma coisa que vai contra a nossa pessoa. No começo a sensação que eu tinha é que confiar numa sabedoria que não era minha é uma coisa que parece de maluco. Só que eu tinha todas as razões para fazer isso e eu percebi que confiando nessa história, no que eu comecei a experimentar, nesse milésimo de gosto que eu comecei a ter pela vida, confiar nisso sem medir os esforços, ou seja, colocando toda a minha vida nas mãos dessa história, nunca aconteceu nada que fosse contra a minha pessoa e a minha vontade, mas sempre foi um ampliar, um centuplicar os meus desejos e me apontar qual é a resposta a esses desejos. Então, para mim, a história e os amigos no Brasil são os que mais me ajudam nesse caminho. Por isso eu não tive medo de voltar para cá e continuar essa aventura no Brasil.
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón