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OS FATOS

Dez anos de padre Virgilio

O testemunho de Bracco, responsável nacional de CL. Serra da Piedade, 12 de outubro de 2012

Hoje quando eu cheguei na Serra, me lembrei quando eu conheci o Virgilio. Foi em um encontro dos Jovens Trabalhadores, assim que eu cheguei no Brasil há 11 anos. O Douglas com alguns me convidaram para acompanhar os jovens trabalhadores e eu me lembro que um dia eles me convidaram lá, para conhecer o Virgilio e jantar lá na casa dele. Aquele foi para mim o primeiro sinal da acolhida que o Movimento no Brasil estava me dando, e que depois durou até agora.
Mas, então, a coisa que mais me marcou hoje foi uma passagem da mensagem do Papa ao Meeting, que foi colocada no livrinho da peregrinação, uma frase no final que fala assim: “O Senhor chamando alguns a viverem totalmente d’Ele chama a todos para conhecerem a essência da própria natureza de seres humanos, feitos para o infinito”. Eu sou dos Memores Domini e estava pensando nesse tema da vocação, da vida como vocação, e está sendo uma grande novidade, uma grande redescoberta, uma descoberta! E quando fala isso, o Papa quer falar para o povo do Meeting, quer falar para todo mundo essa coisa: que Ele escolheu alguns, escolhe sempre alguns para gritar para todo mundo alguma coisa. Para gritar que nós somos feitos para esse Infinito.
Agora! Agora que estamos aqui, nós somos feitos para esse infinito. E se não tivesse esse “alguns”, como foi o Virgilio para mim e para muitos de vocês, nós não poderíamos entender o que significa esse relacionamento com o Infinito.
Mas eu me dei conta disso depois de tantos anos, na semana passada lendo essa frase, depois de ter lido esse panfleto várias vezes eu falei: “Mas ele fala de mim e eu posso me esquecer disso”. Eu posso me esquecer que a minha vida consiste só se é relacionamento com esse Infinito. E a vida, não só de quem Ele chama para viver totalmente de Cristo, mas a vida de todo mundo, a vida de vocês que têm marido ou esposa, que têm os filhos, muitas vezes é como se o horizonte parasse aí, parasse neles. Então, eu preciso ver alguém que viva para o Infinito, como viveu Virgilio, para que esse horizonte possa ir até o final. Até o final e voltar aqui ao meu presente.
O padre Pigi falou para nós recentemente que uma das coisas que mais ele está pensando e está vibrando e está vivendo com comoção é o sentido do destino final. Ele falou nas nossas férias nacionais e eu fiquei muito comovido, querendo entender o que aquilo significava, mas dava para ver que para ele não era algo de apocalíptico, algo que teremos que pensar quando chegar a hora da morte. Era dessa relação com o infinito que ele estava falando. E eu preciso disso agora, eu preciso disso para viver agora, para que meu horizonte possa ir até o fim e chegar aqui agora, no meu presente, no meu dia-a-dia, nas coisas que temos que fazer, quando você olha o teu filho e tem que pensar na escola. Não temos que só pensar nisso quando temos medo da morte, porque vem aquele ponto de interrogação: Mas onde é que vai acabar? Mas para onde vão os meus filhos? Onde é que vai o meu namoro? O que vai ser? Porque todo mundo tenta tirar essas perguntas, tudo é como se tentasse tirar isso. Mas eu encontrei homens, Ele escolheu alguns para que a gente não tenha medo. Esse relacionamento, este destino final, este infinito não é algo que vamos ver, talvez, depois, mas é algo que me salva as coisas agora, que eu preciso para viver agora. E eu preciso ver alguém que não tem medo do destino final, como Pigi gritou para nós, como Virgilio gritava para nós vivendo.
Essas foram coisas que mais me comoveram neste período, porque esse destino final para essas pessoas, para esses homens, não era um discurso. Era um homem, é um homem, Cristo é um homem, esse destino final é um homem, esse infinito que a gente procura é um homem. Mas se eu não tenho algumas pessoas que vivendo me mostram isso, eu começo a viver com medo ou tenho que esquecer. Ou esse destino final é um homem que um dia eu vou ver cara a cara e vou ver como Ele me salvará tudo! Tudo aquilo que parece que um dia vai acabar, tudo aquilo que parece que a gente não consegue manter em nossas mãos, tem Alguém que vai me salvar tudo isso! Mas quanto, quando e como eu consigo viver com essa certeza? Ele escolheu alguns para que eu possa começar agora a olhar para os filhos, olhar o marido, olhar o meu trabalho, não como um horizonte pequeno, de um mês, de dois meses, da aposentaria, sabendo que um dia isso vai acabar, de uma certa forma vai acabar. Ou tem Alguém que salva isso? Que salva isso agora? Porque eu preciso agora saber isso! Por isso Cristo é interessante para mim.
Então eu me agarro a essas pessoas, eu quero ser como o Virgilio, eu peço para ser como ele, eu quero ser como o Pigi, quero ser como tantos entre nós que vivem assim, sem esse medo, porque Ele, o destino final, o Infinito é uma pessoa, é um homem, é um homem pelo qual eu posso me apaixonar, que muda a minha vida.

Outra coisa que eu queria falar é que eu fui para Belém pelo trabalho e encontrei também a comunidade de lá. E me marcou muito porque eles estão lá há muitos anos, mas é uma comunidade muito pequena. E naquele dia dava para ver que eles estavam com uma grande espera, que me deixou arrepiado, porque era a primeira vez que eu estava indo lá encontrá-los e dava para ver que eles convidaram um monte de gente, os parentes, os amigos, mas quando eu cheguei ao lugar da Escola de Comunidade foram chegando uma, duas, três... seis e estava vendo eles que ficavam um pouco assim... Não? O que temos que mostrar para ele que somos tão poucos? Aí chegamos em oito, com dois padres e o pároco da paróquia e a Adriana, que é a responsável pela comunidade, olhou para mim e falou: “Bracco, somos só nós...” Eu, não sei como, mas naquele momento eu pensei em Belém, aquela da Palestina, e fiquei muito comovido porque lá em Belém tinha Maria, José, um boi, tinham pobres pastores, não tinham 150 pessoas da comunidade, não tinham 500, não tinham 1000 como na Itália, mas lá aconteceu um fato que mudou a história, um fato que mudou a vida de todo mundo e aqueles poucos vibraram por isso! Maria vibrava por isso! José vibrava por isso! E os pastores foram embora vibrando por isto! Então, eu olhei para eles e disse: “Eu tenho que agradecer vocês, porque vocês me ajudam a vibrar por isto, não porque somos muitos, mas porque nos aconteceu uma coisa que é de outro mundo, que eu me esqueço, eu não tenho consciência.” Porque podemos estar aqui numa festa bonita, e quantas vezes hoje, neste dia bonito, nós vibramos porque nos aconteceu esse fato? Quantas vezes vibramos porque Cristo está presente? Então fiquei muito maravilhado e agradeci porque todo mundo, todos nós temos lugares que dentro dessa simplicidade pode mostrar para nós o que faz essa diferença. É esse fato, é esse acontecimento que muda a história mundo e nós, muitas vezes, não temos essa consciência, porque não estamos contentes por isso, não vibramos por isso. É como se a gente tivesse um pouco de medo, aquele medo do destino final, mas esse se tornou um homem que a gente pode ter aquela paixão, aquela vibração que tiveram Maria e José, e que Virgilio testemunhou entre nós.

E a última coisa que queria falar, que eu estava pensando, o que mais me marcou no Virgilio, o que mais me marca em Carrón, me marcou em Dom Giussani, é que outro dia no site da Passos italiana, na Tracce, era a festa de São Francisco de Assis e eles colocaram lá uma resenha sobre o filme Francesco. Falava que no trecho final, que Clara a certo ponto, no finalzinho do filme fala assim: que o amor tinha tornado até o seu corpo – o corpo de Francisco – igual ao corpo do Amado ( quando ele recebeu as chagas), e ela se pergunta: “Será que um dia eu poderei amar assim?” .Então, quando eu pensei nesse dia, pensei no Virgilio, pensei nessas pessoas e pensei na minha vocação, naquilo que está me acontecendo e está cada vez mais crescendo, e ficando forte e grande, não o esplendor de uma presença que sempre está em mim, pelo contrário, se torna mais dramático, mas está se tornando cada vez mais potente essa pergunta: “Será que um dia eu vou poder amá-Lo assim?”
Obrigado!

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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