Vai para os conteúdos

OS FATOS

“O meu sim num cartaz”

por Alessandra Stoppa
14/11/2012 - No início de novembro, além da escolha do Presidente, vários Estados norte-americanos se expressaram em diversos referendos. Raffaella, mãe e esposa que vive em Minnesota, conta o que mudou nela aquela votação

“Mas o que um cartaz pode mudar?”, pergunta Letizia, 17 anos. “A verdade precisamos dizê-la, e a verdade é que eu estou contente com a minha família”: esse é Pedro, 13 anos. A discussão em casa é acesa. Raffaella e André convocaram os quatro filhos para uma decisão importante: expor ou não um cartaz na frente de casa.
No início de novembro, os Estados Unidos não escolheram apenas o seu novo Presidente. Expressaram-se também sobre alguns pontos decisivos da vida social, com centenas de referendos: 176 propositions. O tema mais quente era o casamento gay, a respeito do qual se pronunciaram os Estados do Maine, Maryland, Washington e Minnesota, onde o casamento gay é proibido por lei. O Congresso estadual – com maioria republicana – havia aprovado uma emenda para inserir essa proibição também na Constituição do Estado. O referendo não ratificou a proposta. O quesito era posto nestes termos: a única forma de casamento possível é a tradicional: One man, one woman? Venceu o não. Resultado: o casamento gay continua proibido só pela lei (e não pela Constituição). Mas veio à tona uma tendência que vai na direção oposta.

Nas semanas anteriores, “o povo daqui reagiu mais quanto ao referendo do que quanto à escolha do Presidente”, conta Raffaella, que foi à paróquia e pegou o cartaz com o SIM, para ser colocado na frente de casa, no meio de um bairro de Rochester, onde a maioria das residências exibiu o seu NÃO. Ela vive aí há quatro anos: no dia da eleição não votou porque não é cidadã americana, mas nos últimos meses ver o que estava acontecendo à sua volta levou-a a fixar profundamente o olhar na sua vida.
As famílias dos vizinhos, com o seu NÃO, são todas como a sua: casais com três ou quatro filhos. “Essa foi a primeira coisa que me feriu. Mas o que quer dizer a nossa vocação de esposos? O que isso quer dizer para mim? Eu amo a estrada que Deus escolheu para mim?”.

Aquele SIM escrito no cartaz era a resposta a essa pergunta.

Falaram ela e André. Expor-se assim, hoje, pode acarretar consequências. As pessoas te acusam de ser intolerante, e também no trabalho. Letizia frequenta uma escola pública e entre seus colegas há alguns que se dizem homossexuais. No início, temia que o cartaz fosse tomado como ataque a pessoas que para ela tinham um rosto. “Nós nos olhamos uns para os outros, tendo presentes essas coisas”, conta Raffaella: “Sobretudo olhamos para o que suscitava em nós”.
Aquela pergunta da primogênita é de muitos: o que muda colocar esse cartaz? Tanto mais que a maioria das pessoas está convencida do contrário, essa é uma batalha perdida, e nas relações de vizinhança vigora o Minnesota Nice, o politicamente correto na versão local; nenhum diálogo franco e leal, para evitar chocar a sensibilidade dos outros. À força de não julgar mais nada, por medo de que possamos passar por intolerantes, terminamos por não julgar pessoalmente coisas da nossa vida. E se você está entre os poucos do bairro que expressam o SIM, se pergunta mais ainda qual é a batalha e qual é a contribuição que é chamado a dar em meio à geral diluição das razões. Frente ao mundo que diz o oposto, “nós, afinal, somos uma mosca. Ou melhor, pata de mosca...”, provocam os filhos. “Sim, é isso mesmo”, responde Raffaella. “Mas nós não somos ‘contra os gays’ nem contra ninguém. O ponto é que fazemos uma experiência e podemos não estar conscientes do que seja. Portanto, nem mesmo a defendemos quando ela é negada” . A experiência, quando bem observada, tem uma riqueza que ultrapassa tudo, primeiramente os alinhamentos. Pode fazer com que uma mocinha descubra o que lhe permite, de fato, querer bem aos amigos. Pode fazer com que repita ao irmão: “Eu estou contente e não posso ter medo de dizer isso”.

Pode levar Raffaella a pregar aquele cartaz com lágrimas nos olhos: “Eu nunca havia pensado em dizer assim que tudo o que tenho na minha vida é um dom de Deus” . Porque é a raiz de tudo isso que está sob ameaça. “A proposta do casamento gay abre uma brecha enorme na concepção de toda a vida. Cada coisa é um direito: tenho o direito de amar quem e como eu quiser, até pensar que também os filhos são um direito. Mas essa é uma mentira, travestida de liberdade. E ver-me diante disso me ajuda a não considerar como óbvia a face do meu marido e dos meus filhos. Eles me foram dados. São a via escolhida para mim para ir ao Paraíso”. É tão verdade que, naquela noite, a decisão de colocar o cartaz foi tomada por todos: “Cada um de nós deu o seu sim”.

Depois de uma semana, o cartaz foi roubado. Eles pegaram um outro e o colocaram no mesmo lugar. O motorista do ônibus escolar parou de acionar os braços para fora da janelinha quando passava diante da casa. Na escola, os colegas da filha caçoavam. “Mas que grande ocasião foi para nós”, diz Raffaella: “Justamente quando o Papa, com suas palavras ao Sínodo, nos dizia que os cristãos não podem ser mornos. Só por uma beleza podemos queimar. Não por outra coisa. Pela beleza que descubro ao olhar o meu ser esposa, que é um caminho em Cristo e não a afirmação de mim mesma. Isso me esvaziaria”.
Então, o que um cartaz pode mudar? “Muda a mim mesma”.

Outras notícias

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página