No último final de semana de janeiro, eu e alguns amigos realizamos uma caritativa em Xerém (RJ), bairro fortemente atingido pelas chuvas que aconteceram em nosso estado no começo deste ano. Ajudamos na limpeza e na reforma do orfanato “Casa do caminho”, que no início da semana seguinte acolheria novamente as crianças que ali moravam. Ficamos instalados na casa de uma família, onde fomos muito bem acolhidos.
Na volta para casa, tivemos um rápido encontro com alguns amigos de São Paulo: Marcos e Cleuza, e também Alexandre, responsável nacional dos universitários de CL. O Alexandre nos perguntou o que havíamos aprendido naquele fim de semana “diferente”. Todos contaram as suas experiências e reflexões; mas aquela simples pergunta me deixou completamente muda. Na verdade, me dei conta de que em nenhum momento havia aprofundado o juízo que criara de tudo o que tinha se passado, fazendo apenas o que era para ser feito, sem observar muito a fecundidade do gesto. Marcos ainda nos alertou para o fato de que geralmente não somos educados a aprender com as circunstâncias, a pensar nelas em sua totalidade. Tive receio de ter perdido toda a experiência que poderia ter feito até então, mas Cristo se faz presente através de pessoas e propostas bem concretas. Estava ali uma nova oportunidade para repensar e aprender com tudo o que tinha acontecido.
Agora verifico de modo concreto o que Dom Giussani quer dizer quando afirma que a caritativa constitui um “aprender a amar”. A caridade é belíssima e pode fazer “nos sentirmos úteis” (como muitos colegas me disseram quando os convidei para o gesto), mas ela também me põe diante de uma grande dificuldade e, não obstante, de uma enorme beleza: a educação para o encontro da singularidade de cada pessoa, e o reconhecimento de que eu e o outro fomos constituídos e amados como criaturas.
Nesta experiência pude perceber que o que prevalece em nós, diante de tanta coisa que nos diferencia, é o desejo, sobretudo o desejo de amor. Quando me aproximo do outro, especialmente no modo como é proposto pela caritativa, não é apenas por afeição ou por vontade de se sentir útil, mas, antes de tudo, por necessidade de entender essa sede de completude que há tanto em mim quanto nele. É esse desejo, que não cabe em si, que precisamos compartilhar. É esse desejo que move a caridade, que se concretiza, por exemplo, desde através da incrível acolhida que recebemos, até o arrumar o mural e a estante de livros para as crianças do orfanato. E, mais uma vez, me dei conta de que esse desejo se repercute além do nosso próprio gesto (se assim fosse, só o fato de se sentir útil pareceria ser suficiente). Pude então me sentir experimentando um santo fio de liberdade, que se sobrepõe a muito dos obstáculos e preconceitos que eu poderia ter tido em relação ao outro e, sobretudo, em relação a mim mesma.
Antes de se despedir, Alexandre nos provocou propondo que levássemos estes e outros juízos para o dia-a-dia, com as pessoas de nosso convívio. Sou professora e essa atividade tem me deixado às vezes muito cansada; porém, depois de tudo o que vivemos naquele fim de semana, me surpreendo desejando que as aulas voltem logo, para que eu possa descobrir esse desejo no rosto de cada aluno. O encontro com um outro é algo impactante, pois nos ajuda a perceber todo o nosso desejo, toda a nossa espera e, melhor ainda, Quem de fato a responde para nós.
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