“Rapazes, eu não tenho a mínima ideia do que signifique ser do CLU, vim até aqui porque quero estar com vocês.” Comendo em um dos muitos restaurantes fast-food de um aeroporto construído em meio ao nada, David quebra o silêncio e o clima de cansaço devido às quase cinco horas de voo, o tempo que leva de Boston para chegar a Denver, no Colorado. Junto conosco também estão Laura e André, dois italianos com quem estou dividindo a minha aventura americana, iniciada em janeiro para escrever o trabalho de conclusão do curso de graduação. Sabemos que um tal Joe Redondo virá nos buscar com uma Van para nos levar a Estes Park nas Montanhas Rochosas, sabemos que haverá mais de cem garotos de todos os Estados Unidos, não sabemos muito mais.
David encontrou o Movimento não faz nem um ano. Nascido nas Filipinas, ainda pequeno se transferiu com a mãe para os Estados Unidos e, como sempre conta a todos, cresceu seguindo a principal regra da sociedade americana: conceber-se sozinho. Escola, basquete, amigos, mas tudo até certo limite, além do qual nunca se aprofundou com ninguém. Agora, mudou... Basta dizer que do Colorado, esta é a viagem mais longa da sua vida, depois daquela desde a sua cidade natal.
De uma planície que parece não ter fim, após uma hora de carro nos encontramos em meio a bosques e montanhas. Uma paisagem que me recorda muito a beleza dos Alpes italianos, mas tudo é maior e mais amplo. Os vales, os lagos e os picos. Pense que não parecem altos, talvez pelos seus cimos arredondados. Mas é somente uma impressão, porque a placa na fachada do hotel indica 8000 pés, cerca de 2500m.
A primeira noite é dedicada às apresentações. Ao ritmo de Oh when the saints levantam-se, uma por vez, todas as comunidades: Washington, Nova Iorque, Chicago, Miami, Houston, Califórnia, e também Dakota do Norte, Minnesota, Kansas e muitas outras. Alguns estão sozinhos na própria cidade, como Marcus de San Diego. Outros estão na mesma situação de David, no começo de uma história.
“De que modo você viu sua vida crescer no caminho proposto este ano?”. Para se preparar para as férias, padre Pietro Rossotti havia pedido a todos que respondessem a esta pergunta, enviando uma contribuição própria. O padre missionário abre a palestra introdutória com uma pergunta colocada por um garoto em uma carta: “Vejo que a minha fraqueza está no seguir. Por que, depois de tudo aquilo que Jesus fez na minha vida, continua a existir esta forte resistência a dar-Lhe espaço?”. “O dualismo pelo qual a nossa fé está de um lado e a vida, de outro, começa quando colocamos algo entre nós e o encontro feito, afastando-o”, comenta padre Pietro, “temos medo de aderir, permanecemos à soleira da porta e continuamos a nos lamentar. Mas o que esperamos para arriscar toda a nossa humanidade na coisa mais verdadeira que já encontramos?”.
Caminhadas pela montanha, almoços e jantares, jogos ao ar livre e testemunhos. Este arriscar-se, aos poucos, começou a se tornar algo do qual não posso prescindir, graças à realidade que me vem ao encontro como uma contínua proposta e consegue tomar-me consigo a cada vez, de novo, do início.
Entre os muitos rostos que encontrei, havia um que de imediato me deixou curioso. Cabelo raspado e olhar duro em um metro e noventa de músculos. Vi muitos assim nos Estados Unidos, mas continuo marcado quando, durante a missa, vejo-o ajoelhando-se diversas vezes para rezar. O maior de todos que deseja ser o menor. Na mesma noite encontro-me por acaso à mesa com ele. Ele se chama Justin e vem de Pittsburgh, na Pensilvânia. No colegial tinha um colega de classe italiano que era de CL, mas sempre havia detestado a Igreja e a religião. Um dia, diante do convite para participar das férias dos colegiais, vacila: “A verdade é que não estava feliz de maneira alguma. Mais que isso, odiava a mim mesmo e também a minha vida. Não tinha nada a perder e fui. O encontro com algumas pessoas, como Chris Basic, mudou a minha vida. Disse a mim mesmo: ‘Quero para mim aquilo que essas pessoas vivem’. E não me isolei mais. O que eu não conseguia explicar é como estas pessoas podiam me conhecer tão bem, mesmo que eu nunca houvesse falado disso”. Ao ouvi-lo, David exclama quase incrédulo: “Para mim também é a mesma coisa. Hoje, a cada carta que padre Pietro lia, eu ficava sem palavras: mas, de verdade, não sou o único a me colocar certas perguntas? E também agora, aqui à mesa: depois de cinco minutos já estamos falando das nossas vidas. É estranho! Como é possível?”.
Poderíamos dizer que, no fundo, são apenas uma centena de garotos, um pontinho insignificante numa nação gigantesca. Que diferença podem fazer? E, no entanto, no maravilhamento deles há uma grandeza que é incomparável a qualquer questão numérica. Há aquela novidade que todos esperam.
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