“Vi vocês esta manhã. Fiquei impressionada por ver muitos jovens subindo a montanha em silêncio. E livres. Era evidente que ninguém os obrigava a fazer aquilo”. A senhora desconhecida fala com Silvia, que está sentada ao seu lado. É noite, no centro da cidade suíça Pontresina, iluminada para a festa da cidade. Está para começar o concerto de cantos populares que os estudantes italianos da Universidade Católica de Milão preparam, todos os anos, durante as férias. O coro começa.
Depois da segunda música, a senhora fala de novo: “Entendi. Vocês procuram as coisas belas”. Silvia, por um momento, fica parada, essa senhora a impressiona. Estavam sentadas na plateia e tinham trocado algumas palavras num inglês confuso: Maria mora há muitos anos na Alemanha com o marido, que está aqui com ela. Receberam o convite para o concerto pelas mãos de jovens que distribuíram panfletos nas ruas, e vieram.
No microfone, Giovanni, que rege o coro, apresenta a terceira canção e a define como “um canto socialista”. É Ferriere. Maria o escuta e, depois, sussurra para Silvia: “Para mim, não é socialista, é um canto humano”. Ainda não tinha terminado de falar quando Giovanni disse: “É um canto socialista, mas de um socialismo ingênuo. Que, para poder se erguer, roubou do solo cristão todos os acentos humanos, porque em outro lugar, nem em si mesmo os teria encontrado, e acrescentou-lhes uma forma, uma roupagem”. Maria se espanta: “Um rapaz de 20 anos não pode estar dizendo essas coisas... ‘socialismo ingênuo’. Quem disse isso?”. Silvia responde: “Dom Giussani”. “Quem é?”. “Um padre”. “Você o conhece?”. “Claro”. “Está aqui com vocês?”. “Não, já morreu...”.
Silvia se cala, pensa no que acabou de dizer. Ela, que tem 22 anos e nunca viu Dom Giussani, respondeu imediatamente: sim, o conheço. “Então, pensei que ela também poderia conhecê-lo, como eu o conheci”. Tem na bolsa um exemplar de Passos, o livreto dos Exercícios da Fraternidade e o folheto de cantos da noite, e dá tudo àquela senhora. “Eu o conheci através daquilo que ele deixou, de seus escritos e de padre Carrón”. “Quem é?”. “Um padre espanhol que agora é o responsável pelo nosso Movimento”.
Continuam escutando os cantos em silêncio, até o fim, quando os jovens fazem uma oração antes de encerrar a noite. Maria escuta, mas não abre a boca. Depois, enquanto todos saem, chama Silvia de lado: “Obrigada. Agradeça também àquele rapaz que falou. Eu e meu marido somos ateus, não somos batizados. Não sabemos dizer nenhuma oração. Mas devo a vida a vocês”. Silvia não acredita, acha que aquela senhora está exagerando. Mas ela continua: “Tenho 75 anos e precisei esperar até agora, precisei vir aqui em Pontresina para saber que Jesus tem um rosto”.
Silvia estava vivendo uma semana um pouco difícil. “E me foi dado esse encontro, uma coisa maior que eu”. Quando voltou para casa, conta a história aos amigos, todos fazem perguntas querendo saber o que aconteceu e ela fica encabulada, porque “eu não fiz nada”. Aquela senhora apenas estava sentada ao seu lado. Conforme o tempo passava, ela ouvia as pessoas repetirem o fato em vários lugares, e ficava cada vez mais impaciente com isso. “Eu dizia: tudo bem, é uma coisa grande, mas passou. Porém, isso acabou fazendo com eu percebesse o que não tinha percebido. O que aconteceu com Maria é excepcional, mas é aquilo que acontece comigo todos os dias: Cristo me mostra o Seu rosto. Pensava que aquela mulher não nos devia realmente nada, porém ela estava ligada a nós porque foi através de nós que O encontrou. A mesma experiência que a minha. Esta é a minha ligação com o Movimento: o método de Deus, que se faz carne através de um encontro”.
Naquela noite, do palco, Giovanni não sabia o que estava acontecendo na plateia. Ele, que até o último momento não sabia se diria aquelas palavras, “socialismo ingênuo”, porque não as compreendia completamente. “Depois, decidi dizê-las: todas as vezes que confiei, sempre entendi e vi. E desta vez, vi que é Deus quem faz tudo”.
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