“Mas nós alguma vez nos perguntamos sobre o que é verdadeiramente ensinar? O que de verdade é o conhecimento?” Assim Carrón, num encontro de 2008, desafiava os professores de CL sobre o problema do conhecimento e da educação. Hoje, depois de um caminho que durou cinco anos, em muitos de nós, estas palavras ressoam mais cheias, encarnadas naquela substância que Dom Giussani chama de “eu”. Alberto Bonfanti relançou essa provocação a 260 professores e diretores responsáveis da Itália, Espanha, França, Bélgica, Portugal e Lituânia, reunidos em Pacego, no primeiro final de semana de setembro. Continuava padre Carrón: “porque, se posso explicar alguma coisa sem dar a razão da totalidade, não explico bem o real. Toda colocação deve ser unitária: do maravilhamento do real até o Mistério. Isso é Dom Giussani, essa é a proposta, e nós devemos verificar se essa explicação da razão e do desejo, e portanto do conhecimento e da resposta da liberdade, é verdadeira ou não” (A escuridão e o isqueiro, p. 9).
Entrar para a escola, portanto, é uma grande ocasião para quem tem um pedido em si mesmo e pode acontecer que um diretor, sentindo vibrar a própria humanidade com essa autoconsciência, chegue a encontrar-se com uma certa ideia de regra quando essa, de expressão de uma vida, se torna “um proteger-se da pontada do real”. Como contou padre José Medina, testemunhando, sua experiência educativa nos Estados Unidos, a urgência de identificar-se com os jovens, com o que eles olham e que compreenderam, “porque a mim me interessa a vida, porque dentro da vida chego a compreender quem sou eu”. O privilégio de estar com os jovens, continua padre Medina, é que ali nos encontramos continuamente diante do mistério do Ser.
Consciente da urgência de superar o racionalismo que nos retêm na prisão da aparência, já havia reclamado com insistência com padre Carrón: “Digam-me se Dom Giussani, quando entrou na escola, tinha outra preocupação que não fosse explicar a realidade até o fundo! Todo o esforço que ele fez, todo o percurso que fez, foi porque não se poupou nada desse caminho, que teve de percorrer em primeira pessoa para documentá-lo passo a passo, para facilitá-lo para nós, de modo a podermos ser leais com a razão até o fundo, para nos mostrar como esse uso da razão introduz uma novidade do outro mundo, sem que para isso seja preciso colar nada por cima. Tanto é que Dom Giussani diz que o homem realmente religioso é aquele que vive intensamente a realidade” (A escuridão e o isqueiro, p. 8).
Assim, em circunstâncias muitas vezes dramáticas, alguém começa a não dar nada por óbvio, a partir do fato que o outro existe e que tem algo a dizer: “Deus me dá as pessoas para que eu possa dizer, com o tempo, “sou filho”, com uma certeza sobre mim e sobre a realidade enraizada na experiência. De fato, prossegue Medina, apenas na carne se compreende verdadeiramente que a vida é dom, por exemplo, quando as coisas não acontecem de acordo com o esperado e alguém se sente traído; e, ao contrário, descobre que se pode amar sem esperar nada em troca, indomável, porque, abraçar o Mistério na pessoa que te é dada, já constitui um ganho maior para você: estar na presença de um Outro e por isso ser uma presença capaz de entrar em relacionamento com todos.
“Tenho sido fiel à inquietude que tenho no coração”, responde Medina a Marco quando este lhe pergunta como aprendeu a olhar para os jovens como Mistério. Cinzia ficou tocada pela afirmação de que a pessoa não é aquilo que faz e o que ajuda a afeição a si não é censurar a diferença mas vive-la como ocasião que o Mistério oferece. Cristina foi tocada pelo fato de que, normalmente, projetamos sobre fundamentos sólidos aquilo que encontramos na leitura e nos fechamos na autossatisfação, enquanto a experiência da alteridade com o Mistério permite encontrar os autores na sua profundidade, como experimentou um grupo de professores que, neste verão, trabalharam junto com a russa Tatiana Kasatkina. Assim foi que também a noite se tornou ocasião para interessar-se pela humanidade de Iannacci, Dalla, Gaber e dos cantos da tradição, porque nada do que é humano nos é estranho.
Não é questão de temperamento. Para a mentalidade laicista na qual estamos mergulhados e que encontra sua expressão máxima na atual cultura americana, na qual o homem se auto define partindo de si mesmo, um eu que pertence está em condição de desafiar a liberdade de cada um, tocando-lhe o coração que, irredutível às forças do poder, sempre bate.
Aqui está o ponto. Se Cristo não está ali com as exigências do coração, por fim se torna longínquo e incompreensível. Alberto Savorana conta, no testemunho do sábado à tarde, junto a Carlo Wolfsgrubre, que, treze anos atrás, Giussani, em seminário, “escapa” com Leopardi, que ele define como “o companheiro mais sugestivo” do próprio itinerário religioso, a demonstração de que Cristo não aquieta nele as perguntas, mas as aprofunda; e, pelo mesmo motivo, recordando “o belo dia” quando, com a leitura do prólogo do evangelho de João, Cristo se manifesta, presente no vibrar de sua humanidade, Dom Giussani pode dizer: “Cada instante não foi banalidade para mim”.
Como recorda Wolfsgruber, o padre Carrón, referindo-se a Dom Giussani no dia de seu funeral, nos falou de Cristo, não como de algo que se possa transmitir, mas de uma experiência pela qual se é arrastado: “É Ele a dar forma ao olhar com o qual nos sentimos olhados por ti”.
Para viver, temos necessidade de seguir este olhar em quem está agarrado a ele para sermos sustentados por Sua presença agora, que é a consistência do nosso eu. Ensinar, neste sentido, já tem em si um horizonte dos colegiais porque, como nos disse padre Medina, é ser amado e amar, ser gerado e gerar: o resto é uma consequência absolutamente necessária para a verificação da experiência.
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