No centro de Roma, entre algumas vielas, está Santa Francesca Romana, um asilo que se abre ao redor de um grande jardim e hospeda quarenta idosos. Neste ano comecei a ir ali com uma dezena de outros universitários todo sábado à tarde para passar algumas horas com estas pessoas. Seus rostos e suas histórias são já familiares como aquelas dos amigos. Cada um deles leva uma vida sem grandes pretensões e é autossuficiente, tanto que, no começo, me perguntava o que deveríamos fazer concretamente juntos numa tarde.
A resposta chegou clara aos nossos olhos. Nós a vimos no sorriso de Atílio, um entre os veteranos, mas não por isso o menos vivaz, que, com o orgulho de quem sempre desejou tudo da vida, nos conta dos anos em guerra, dos seus oito filhos, de quando ensinou a centenas de meninos e da sua inabalável paixão: fazer estátuas de gesso com o rosto dos santos e de Maria. Mostra-se na simpatia de Antônio; nas telas a óleo de Vincenzo; na postura de Ana Maria, sempre afastada e contrariada, que agora, quando nos vê, sorri e nos cumprimenta cantando.
É evidente que a nossa relação não se joga num desnível que nos faz estar com eles de modo piedoso ou por compaixão. Aqui acontece tudo ao contrário. Como quando paro para conversar com Maria, ali há treze anos e doente de câncer. Percebo estar diante de uma mulher “cheia” da própria vida.
Uma vez, enquanto me aproximo para abraçá-la, me detém: “Não quero que ninguém me toque, sou feita assim. Amei tanto a vida, mas agora não mais. Não sei nem mesmo o que significa o Natal e peço para morrer à noite, assim sofreria menos”. Fico em silêncio diante dela, porque sinto o abismo que preenche seu coração como se fosse o meu. Continuamos a falar, mas, quando chega o momento de ir embora, é ela que me toma a mão e me diz: “Mas você me fez companhia! Obrigada, sinto vontade de chorar”.
A sua espontaneidade, que é a de uma menina, me captura. No sábado seguinte, quando a encontro na cama, confusa e cheia de dores, me diz: “Onde você estava? Porque não veio logo me procurar? Estou mal e devo ir ao hospital se minha filha vier me levar. Ela não se interessa tanto por mim”. Outro peso no coração. No momento de ir embora, me pego dando-lhe um beijo na bochecha, e ela se maravilha. Diz: “Você me beija. Há quanto tempo ninguém me beijava mais!”.
Olhando Maria no rosto, agora, tenho mais claro o que vou “fazer” no asilo: não cicatrizar as feridas e a pergunta por sentido que ela e os outros têm impressa dentro de si. Em seu valor mais verdadeiro, aquele é o lugar privilegiado onde, a cada vez, volto a encontrar Jesus. Sou eu que desejo a Sua companhia para a minha vida e é Ele que misteriosamente se faz presente, pedindo a mim para Lhe fazer companhia através da Maria.
De frente à impotência que experimento diante deles, Jesus não quer nada de mim senão o meu bem. Um beijo, para que eu abra os olhos e O veja. É esta a aventura fascinante que se abre para mim, e entendo que mesmo o menor sacrifício não vale senão para educar o coração e os olhos a encontrá-Lo, a fazer-Lhe companhia e a tocá-Lo. Com a mesma concretude que desejava Tomé com o Seu Corpo ressuscitado.
Caterina, Roma (Itália)
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