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OS FATOS

No Haiti. “Deus sempre me escolhe”

por Davide Perillo
15/05/2014 - Sherline é do Haiti, onde até sair na rua é perigoso. Trabalhando para a Avsi encontrou a italiana Gloria e, com ela, o livro “É possível viver assim?” de Dom Giussani. Desde então percebeu que Cristo está sempre presente, “mesmo que não o procure”
A haitiana Sherline.
A haitiana Sherline.

“O que é belo pede para continuar, sempre. É por isto que estou aqui”. Sherline tem 29 anos, mora no Haiti e trabalha para a Fundação Avsi. É a primeira vez que viaja para tão longe. Em São Paulo participou da Assembleia de Responsáveis da América Latina, em março deste ano. “E o que vejo ainda me dá mais confiança para prosseguir no caminho. Pessoas de tantos lugares que vivem a mesma experiência que vivo. É bonito dar-se conta disso, mas, principalmente, faz compreender melhor do que se trata e ajuda a vivê-lo”. Ela começou a vivê-lo há quatro anos, numa tarde em que se encontrou no local onde Gloria, uma funcionária italiana, almoçava com três amigos. “Falavam de um livro de Giussani É possível viver assim?. Tinham já feito outros encontros, antes que eu participasse. Quando cheguei, falavam sobre a conversão de São Paulo. Diziam que não foi Paulo que escolheu Deus, mas o contrário. Era um modo para fazer-nos entender que Deus pode nos escolher, dentro da dificuldade que vivemos. Aquilo me tocou.” Por quê? “De repente, me dei conta de que o Senhor está sempre presente na vida do homem e pensava que estaria somente quando o procuramos. Ao contrário, se Paulo foi agarrado, mesmo sem tê-lo procurado, quer dizer que posso fazer a mesma experiência. Começou assim”.

E continuou com o convite para a Escola de Comunidade. “No começo, fui somente para conhecer. Depois, porque queria participar. Isso causou um impacto em mim que me fez decidir continuar”. Por quê? “Trabalhando aquele livro, vi que Giussani falava do que vejo todo dia. Com Gloria que nos ajudava explicando, fez-me continuar. Era uma coisa muito simples. Venho de uma família católica, mas nunca tinha ido à igreja. Quando comecei a fazer Escola de Comunidade, percebi que ir à missa era dar a Deus a possibilidade de entrar em minha vida. Foi a primeira coisa que começou a me mudar”. A outra, continua, é “o relacionamento com os meus amigos. Comecei a olhar para as pessoas de outra forma. Os colegas não eram mais apenas colegas, mas pessoas, com seu próprio valor. Através deles, o Senhor podia estar presente. Vi que não estava distante, mas que podia vir me procurar por meio dos relacionamentos humanos. Nada fiz para mudar, mas meus amigos dizem que estou mudada”.

Em quê? “Antes de tudo, na família. Não tinha boas relações com eles. Pensava que a família colocava obstáculos à minha liberdade porque não podia fazer aquilo que queria. Ao contrário, compreendi que eles são o primeiro contato que tenho para saber quem sou e quem é Jesus para mim. Depois de ter trabalhado o capítulo sobre a liberdade, entendi que a minha liberdade é outra coisa e que eles ajudam nisso”.

Sua família é composta pelos pais, um total de oito irmãos e irmãs, e Jhoune-lynne, sua filha que tem 9 anos. Porém, a mudança não está apenas ali, dentro da casa. “Percebo que dou atenção a tudo o que me acontece. Antes, escolhia as coisas pelas quais me interessar, onde colocar minha atenção. Se não gostava de algo, parava. Agora, tudo me interessa. E, se uma pessoa me interessa, arranjo tempo para aproximar-me dela.” Não é uma coisa fácil, no Haiti. “Nada é fácil lá, porque existe muita violência e medo. Nem todos os encontros tem impacto positivo na vida. Mas eu, por exemplo, no trabalho me empenho com certos relacionamentos. Nasceram amizades importantes com pessoas com quem, antes, havia uma relação muito difícil”.

Assim, em torno desta amizade – e com a ajuda de pessoas vindas da Europa para trabalhar em Ongs e de Irmã Marcella Catozza, que vive no Haiti e leva adiante uma série de obras de caridade – nasceu uma pequena Escola de Comunidade. Encontram-se aos sábados, numa antiga escola quase arruinada. “Lemos o texto juntos; fazemo-nos perguntas e codividimos a experiência: o trabalho, a família, determinadas situações... Procuramos compreender o sentido que descobrimos em nossa vida. Fazemos muitas perguntas. Nem sempre encontramos a resposta. Uma vez por mês, nos encontramos com Irmã Marcella para que nos ajude. É um trabalho sério e estou contente porque todos os que ali estão desejam participar. Não somos obrigados a nos reunir, mas todos os sábados estamos ali”.

Sherline lembra os momentos mais importantes que viveu recentemente. Fala do Meeting de Rímini como da “coisa que mais me colocou em relação com o Movimento. Quando lá estive, há três anos, pouco compreendi do que acontecia à minha volta. Só percebi quando voltei para casa, quando comecei a contar aos amigos, a codividi-lo. Ali percebi a beleza do que tinha vivido e decidi de ir mais a fundo”. Conta sobre o amigo Yvenet: “Ele estava separado da mulher. Começou a fazer Escola de Comunidade e depois de um tempo se perguntou: se eu vivo uma coisa tão bela, por que não devo compartilhá-la com minha mulher? Procurou retomar o relacionamento e a convidou para participar”. Voltaram a viver juntos.

Não é fácil viver no Haiti. Não é fácil encontrar-se, sair para comer juntos, fazer um passeio. Cada gesto que na experiência do Movimento é coisa normal, ali é uma conquista, como cada passo. “Mas estamos crescendo, se vê naquilo que acontece”. Por exemplo? “Um tempo atrás, uma nossa amiga estava grávida e perdeu o bebê. Quando soube, fiquei enraivecida. Porém tinha claro que, dentro dessa dor, podia compreender melhor quem é Jesus. Chamei-a e lhe disse isso. Não disse a ninguém que lhe telefonasse. Mas ela depois me disse que todos os outros amigos tinham lhe telefonado e dito a mesma coisa. Isso me fez compreender que somos amigos de verdade, estamos fazendo a mesma experiência”. Está mais feliz? “Sim”.

É um sim imediato, pleno, seguido de uma risada dos que abrem o coração. Quem é Jesus para você, agora? Reflete um pouco, antes de responder. “É um exercício que faço toda manhã. Quando me levanto, a primeira coisa que peço é: ‘faça-se encontrar. Hoje, faça-se encontrar’. Isso me ajuda a vê-Lo cada dia numa coisa diferente. Toda vez que encontro uma pessoa, penso que eu pedi aquilo e que, portanto, Jesus pode estar ali. À noite, procuro responder à pergunta: encontrei-O hoje? Não sei ao certo a resposta, mas sei que passei bem o dia. Então quer dizer que O encontrei”.



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