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OS FATOS

Com uma “santa tristeza” no coração

por Matteo Severgnini
19/12/2014 - Em Kampala 350 pessoas esperavam padre Carrón para a Jornada de início de ano. Mas a emergência ebola mudou as cartas do jogo. No entanto, para Manolita e Sara, o cancelamento do evento foi ocasião para entender Quem faz nova todas as coisas

“A preferência de Deus é o método. Compreendi quando Dom Giussani me disse que mesmo que eu fosse o único ser humano no universo, Deus teria vindo apenas por mim, para que o meu nada se perdesse”. Rose, responsável pelo Movimento na Uganda, mostrou-se visivelmente comovida ao pronunciar estas palavras durante o início da Jornada de início de ano em Kampala, no último dia 19 de outubro. Quase 350 pessoas escutaram atentamente. Algumas delas levavam em seu coração uma “santa tristeza”, como diria Dostoievski, porque junto com a Rose gostariam de ver padre Carrón, que tinha planejado uma visita a Kampala justamente para aquele dia. Em vez disso tiveram que se contentar com um vídeo em inglês transmitido da Itália. Segundo a programação estabelecida, depois de passar dois dias em Nairóbi com seis responsáveis do Movimento Comunhão e Libertação na África, deveria guiar a Jornada de início de ano em Kampala, mas a epidemia de ebola nos obrigou a mudar todos os planos de um dia para o outro e Carrón teve que cancelar a viagem.

Mas o Mistério tinha reservado uma surpresa para nós. Enquanto a ausência de Carrón poderia parecer aos olhos de qualquer um, um evento falido, para alguns foi uma possibilidade de redescobrir o evento com E maiúsculo. Foi a ocasião para descobrir o verdadeiro significado de nossas expectativas, porque como disse Carrón "Deus não nos abandonou".

Manolita, uma italiana que vive em Uganda com seu marido e cinco filhos, e descobriu isso em sua própria experiência. A sua é uma família que tem de lidar com os problemas normais da vida comum, onde o marido acabou de mudar de emprego para começar uma atividade própria. Isto os colocou diante de muitos desafios e agora têm que estar mais atentos como gastam seu dinheiro. Quando a convidaram para participar da Assembleia dos Responsáveis da África (ARA), ficou muito contente, estava muito agradecida. Mas esta participação implicava também gastos imprevistos. Aquilo não era uma objeção para ela ou seu marido, fariam um sacrifício para não perder esta grande oportunidade. Mas surgiram gastos inesperados e ela começou a deixar de ficar tranquila. Um amigo, ao ver claramente em seu rosto as preocupações lhe recordou das palavras de Carrón na Jornada de início de ano: “A realidade é feita de circunstâncias através das quais, o Mistério nos desperta, nos chama, nos vai ao encontro para não decairmos, para não nos sucumbir a nada”. Esta provocação lhe obrigou a dar um passo: Eu sou agora, porque um Outro me chama a ser agora, um Outro me ama e é tudo para mim”. A fatiga de criar os filhos e da relação com o marido não desaparece, o desafio de administrar conscientemente a economia doméstica, a criatividade no trabalho, nada disso desaparece, mas, se converte em oportunidade para conhecer Aquele que a chama. E a vida começa a ganhar gosto.

Quando, alguns dias antes de deixar Kampala para a ARA, a informaram que suspenderam os encontros, ela e seu marido decidiram doar o fundo comum da Comunidade o valor que gastariam para a estadia em Nairóbi: “Esta decisão veio simplesmente como gratidão ao Movimento, que nos ajuda a olhar de forma diferente todos os aspectos particulares de nossas vidas, nosso trabalho, a maneira em que usamos o dinheiro, o relacionamento com nossos amigos e filhos. Com minha filha mais velha, por exemplo, estou aprendendo a não deixar-me definir por sua “rejeição”. Não tenho pressa para que ela mude, mas me encontro confiante apostando tudo no seu coração, sem aplicar nela a minha ideia de perfeição. E precisamente por esta razão está se tornando uma verdadeira graça para mim”.

Como dizia Carrón em sua saudação a comunidade de Uganda, citando uma canção do cantor italiano Giorgio Gaber: “Qualquer um pode se dar conta que um fragmento da realidade, por menor que seja, pode mudar a vida. Porque cada fragmento da realidade é um sinal de que existe um Outro fazendo essa pequena coisa”.

Uma experiência que também esta carregada de verdade para Sara, uma italiana que vive em Uganda com sua família desde 2008. Quando chamaram seu marido Francesco para ir a Nairóbi conhecer Carrón, em seu coração sentiu crescer um pequeno incomodo: ele era o sortudo enquanto a ela restavam apenas as migalhas para recolher. Aquilo pesava seu coração. Enquanto estava passando as roupas de suas crianças, ou estava trabalhando em seu escritório, sentiu como se estivesse no lugar errado na hora errada. Um dia, ao limpar o quarto, seu coração começou a rebelar-se a essa sensação. Então começou a ler o texto da Jornada de início de ano, que já estava disponível na web, e seu coração teve um sobressalto lendo o testemunho da médica com uma filha com Síndrome de Down: “A diferença está no gosto de viver, que vem da consciência de que o Senhor me chama aqui e não aonde eu pensava”. Estava triste porque estava cega: não via a beleza da circunstância que estava sendo chamada a viver. “A razão pela qual eu vivo não vai embora com Francesco. Esta aqui comigo, justo agora”. Este juízo foi uma verdadeira libertação para ela. Esta descoberta foi o impulso graças ao qual foi com curiosidade na Jornada de início. Que surpresa se levantar no dia seguinte e ir trabalhar com este juízo no coração: “Se tu não estás, eu não sou”. Sara começou a dar-se conta de que cada coisa era preciosa, seu trabalho, seu escritório, seus colegas, incluindo John, responsável pela limpeza do escritório, que faz seu trabalho com alegria.

Experiência é a palavra com que Carrón faz despertar o coração de todos nós. Todos nossos planos não são nada comparados a experiência de surpresa que o Mistério no doa incessantemente. O que aparentemente parecia um evento falido, demonstrou ser uma oportunidade fundamental para entender a preferência do Mistério que faz nova todas as coisas, e faz melhor do que nós, nos recria. Esta é uma das grandes surpresas que se descobre no relacionamento com Ele e é a fonte de uma ilógica alegria.

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