Nicola levava a vida no sentido inverso. “Quando pequeno, eu agia feito adulto e, ao me tornar adulto, comecei a dar uma de menino”. Tinha certeza de ter tudo, mas, quando nasceu sua filha se deu conta de não possuir nada. Sentiu-se derrubado. Ser feliz era gastar muito dinheiro em roupas de uma vez só ou passar férias de luxo, “que nem mesmo as curtia, porque no fundo estava sempre irritado“. Os amigos o apelidaram de "o drástico". Ele, para não pensar, descuidava de si mesmo.
Nicola é o técnico de Rímini, na Itália, que no vídeo, carregando ferramentas, toca a campainha dizendo: “Bom dia! É para a caldeira!”. A sua história é feita de datas e reviravoltas. Diz: “O amor na minha vida não existia”. Hoje chegou a pensar que Deus não podia escolher alguém melhor para anunciar-se, alguém que vai de uma casa a outra para limpar as caldeiras. “Enquanto trabalho, eu conto às pessoas como a minha vida mudou. Há quem fique surpreso: 'Não esperava isso de você…'. E frequentemente me dizem: 'A você aconteceu, a mim não'. Mas está ali o acontecimento! É a partir daquilo que aconteceu com um outro que você pode pedir o mesmo para si”.
Por exemplo, se Valentina, uma amiga querida de sua esposa Elisa, de repente, não tivesse anunciado que entraria para um mosteiro de clausura, ele não ficava perturbado nem um pouco. Pensava: afinal, é uma escolha de vida. Rapidamente liquidava a questão. “Ao contrário, minha mulher sofria muito. Tanto que foi conversar com um padre, porque não entendia esse fato de Valentina”. O padre lhe diz uma coisa só: “Você pode viver como esposa e mãe aquilo que ela escolheu. Faça o percurso que levou ela para lá”. Elisa, por isso, começa a frequentar a Escola de Comunidade, todo sábado. “Mas o que há com você?”, é a reação dele.
Nicola e Elisa são um daqueles casais que estão juntos "desde sempre". Faz vinte anos e eles têm 36. “Quando ela começou essa caminhada, eu lhe dizia para ficar comigo, para não ir... Aliás, eu era mesmo um anti-CL. Devido aos preconceitos que havia criado”. Três anos antes, tinha nascido Ana. “Eu devia levar em frente a minha figura de pai e não era capaz. Era só irritante. Sabia que não podia continuar assim, mas não pedia nada”.
De repente (mais uma vez) seu sócio lhe diz: “Eu largo tudo, procure um outro”. “Eu me assustei muito. Eu sempre me senti protegido pelo relacionamento com ele. Naquela altura, não enxergava mais um horizonte e me tornei ainda mais violento”. No dia 31 de dezembro de 2012, um grande amigo seu sofre um grave acidente. “Ali eu caí por terra. Não me veio nem mesmo a ideia de dizer: se Você vive, onde está? Não pensava em Deus, não pensava em nada. Apenas caí de joelhos”.
Chega o dia de Valentina vestir o hábito, no mosteiro trapista de Valserena: dia 2 de fevereiro de 2013. “Havia algo que me acorrentava, que não me deixava ir. Elisa teria ido até sozinha. Mas, na última hora, eu fui também”. Dois dias "estranhos", junto dos parentes de Valentina e encontrando algumas monjas, entre outras, a Mestra das noviças, irmã Maria das Graças. “Nos cumprimentamos, mas apenas o tempo de uma saudação”. Entretanto, antes de ir embora, a mãe de Valentina diz a Nicola: “Irmã Maria das Graças ficou muito marcada por você”. “Isso me perturbou. Marcada por mim? Mas o que ela viu? Eu não tinha dito nada. Não tinha feito nada. Naquele momento, Deus me olhou com os olhos de uma monja e me curou”. Dez dias depois, ele vai à Escola de Comunidade e, a partir daquele dia iniciou o caminho do Movimento. A coisa é ainda mais bela vista por ele: “Desde quando tinha 13 anos, havia um airbag entre eu e a realidade. No dia 14 de fevereiro de 2013 o airbag estourou”.
Naquele primeiro encontro, escuta e entende só uma coisa: “Queria ver o que eles viam”. Volta a ser criança, vive um ano “na altura do sétimo céu”, contente por estar cansado à noite: “Agora eu estava cansado porque trabalhava. Antes, eu me cansava porque não amava o trabalho”. Outro fato é que depois do nascimento de Ana, “bem levada”, não queria mais filhos, e, agora, chegou o segundo, Francisco (nascido dia 22 de fevereiro). Mas, quando o entusiasmo começa a diminuir, vem o medo: e se tudo isso é só como um carro ou um relógio novo? Fala disso aos amigos: “Estou desanimando...”. Mas lembra a resposta: “Agora é que começa o belo”. Compreendeu-o só alguns meses depois, quando, mesmo incerto, foi às férias do Movimento nas montanhas. “O carro enguiçou na estrada. Eu queria voltar atrás, mas mudei de ideia porque fiquei surpreso diante do modo como essa companhia nos ajudou. Uma pessoa ficou dez horas comigo na oficina… Ali entendi: eu tinha vivido de renda. Ao contrário, não se pode deixar de obedecer à estrada que Giussani nos deixou”.
Ele lembra o momento exato em que escolheu começar a seguir. Naquelas férias, durante a missa em frente ao Monte Branco, enquanto o padre pronunciava a homilia. Guarda ainda a gravação: “Há momentos como este que gostaríamos que durassem até a eternidade. Aquele cume está ali, há dezenas de milhares de anos até esta noite, para você. Mas, enquanto essa beleza o alcança, alcança-o também uma tristeza imediata. Pois essa beleza você não sabe segurá-la em suas mãos e faz com que você se lembre de tudo. Todas as coisas que você tem suspensas, que não cumpriu, as pessoas que não amou, as que você traiu, as que o traíram, o bem que você queria ter dado e não deu. Todas as coisas que o queimam, todas as coisas que o fazem ainda sofrer. Mas existe alguém que diz: Vem a Mim. Quero que você se reanime comigo. Em tudo estou Eu que não aceito deixar você viver mediocremente. Estou procurando você dia e noite, há muito tempo estou fazendo esse trabalho sobre você. E lhe inventei uma história. Para tirá-lo fora do seu nada".
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