"Outrageously happy”, vergonhosamente feliz. "Eu também quero ser isso, mas acho que é impossível. Disseram-nos que a vida é uma viagem, um caminho. E é verdade, isso eu entendi. O problema é que não sabemos como segui-lo". Não é por acaso que o New York Encounter terminou desta forma, depois de três dias, 27 encontros, quatro exposições e centenas de pessoas que vieram de Metropolitan Pavilion do Manhattan. Ficou claro o o que está em jogo "na busca de rosto humano": o nosso eu, a nossa felicidade. Quando José Medina, responsável por CL nos Estados Unidos apresentou o encontro final com o padre Julián Carrón lendo esta mensagem que havia recebido de um estudante e levantaram o problema central, começou uma hora e meia de diálogo que abriu uma nova perspectiva sobre o que aconteceu naquele fim de semana. Um caminho, mas como segui-lo?
"Eu entendo 'mas'...", responde Carrón: "Todos querem ser feliz. Só que esse desejo adiciona sempre um "mas...". E assim nos tornamos céticos. Como Kafka dizia, pensamos que exista a meta, mas não exista o caminho. Buscamos a consistência no que já sabemos e no que podemos fazer. Por isso sempre estamos inseguros: nos falta uma consistência sólida, algo para nos apoiarmos". Pois bem, o cristianismo provoca uma reviravolta em tudo. "O mistério não é o fim da estrada, mas sim o ponto de partida, o início. A certeza não é algo que podemos alcançar, é Alguém que vem ao nosso encontro. Mas muitas vezes isso parece muito pouco. Inconsistente".
No entanto, observa Medina, se existe uma vantagem – aqui em Nova York isso é visto com clareza, basta escutar algumas conversas ou olhar a bela exposição sobre a geração Y (geração do milênio), as pessoas de 30 anos – é que os jovens reconhecem esse limite e têm a coragem de admiti-lo. "Dizem: sozinho não consigo. Vejo que minha consistência não está em mim, mas o que me falta?". "A consciência de que a verdade está em um relacionamento", responde Carrón: "Tem a ver com a natureza do homem: somos feitos à imagem de Deus, que é a Trindade". Mas esta verdade tem que ser continuamente reconquistada e verificada.
"Ajuda-me muito pensar sobre o caminho que os discípulos fizeram", acrescenta o responsável por CL: "Eles tinham dezenas, centenas de sinais, mas não foi o suficiente”. Então leia um fragmento do Evangelho de Marcos, onde os apóstolos estão preocupados porque não têm pão e Jesus os lembra que acabam de ver a multiplicação e as cestas com as sobras. "Ainda não entende? Ainda tem endurecido seu coração?". Carrón diz: "Esta é a questão. O nosso problema é esta simplicidade de coração. Parece-nos pouco, mas é tudo. E atenção: é um problema de conhecimento, não de ética. Não é uma questão de coerência e sim de um relacionamento". Como uma criança, que "está cheio de certeza quando está com a mãe e não quando é mais capaz de fazer alguma coisa”.
Ou, ainda, como o filho pródigo, porque nesta parábola está todo o percurso. Carrón a retoma: "o filho pródigo tem tudo, mas não compreende a verdadeira natureza de sua necessidade. Ele acredita que a realização está em outro lugar. Para ele é necessário todo um caminho que o permita verificar suas hipóteses". E só no final desta verificação consegue entendê-lo. "O problema é quanto tempo é necessário para nos darmos conta do alcance e da natureza de nossa necessidade. Não quando somo capazes de lutar contra nosso limite". Nem sequer é só aprender com os erros. "O erro, não é o único caminho do filho pródigo. Há outra possibilidade: aceitar ser educado".
De fato, o Movimento existe para isso, para responder a cada dia, na vida e com a vida a uma outra dúvida, que Medina colocou mais ou menos assim: ok, a chave de todos é o coração, e para conhecer a Cristo devo utilizá-lo. Mas é de verdade um critério objetivo? Não é algo ultimamente subjetivo, deixando-nos ainda uma última incerteza? E Carrón responde: "Este também é um problema da educação. Deve-se aprender a usar este critério, porque o coração é um critério infalível, objetivo. Não erra. Porém, se você não usá-lo, ele atrofia". E então, custa-lhe mais reconhecer o que corresponde. “Mas isso não é um defeito do coração, é um defeito da forma que nós o usamos. Porque a correspondência é objetiva. É como comprar um par de sapatos: Você percebe imediatamente os que te servem e não te servem, mesmo que à primeira vista você tenha gostado mais de um ou o vendedor busque te vendê-lo. O critério é pessoal, diz respeito ao eu. Mas é objetivo, ou não? Todos somos capazes de responder". A verdade é que "vivemos numa sociedade pluralista onde todos podem decidir o que querem e parece que todos são iguais. Mas, existe um critério que nos permite reconhecer objetivamente o que é verdade. Conclusão: "A única possibilidade de reconhecer a proximidade do Reino de Deus é a pobreza de espírito, a simplicidade do coração".
Com uma "sinalização final", introduzida por uma observação de Medina: se a única possibilidade de reconhecer Cristo é através da experiência, isso significa que Deus está confiando completamente em nossa liberdade... "Assim é, desde sempre. E isso é o que nos escandaliza: o fato de que somos livres. Que Deus quer passar por ali". Por outro lado, esta é a nossa grandeza. "Isso que nos permite fazer o caminho". O caminho para ser feliz. Vergonhosamente feliz.
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