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OS FATOS

Um caminho que conduz até a gratidão por esta esterilidade tão fecunda

24/07/2015 - O depoimento de uma italiana durante assembleia da Associação Famílias para a Acolhida

Apesar de certa resistência inicial, após confrontá-lo com uma amiga presente aqui, tomei a decisão de intervir, antes de tudo pela infinita gratidão que eu levo no coração. De verdade, não posso deixar de agradecer o encontro que tenho feito este ano com as famílias para a Acolhida. O que se traduz em um encontro com rostos concretos, com alguns de vocês. E uma superabundância de dons e graças recebidas.

Eu me apresento brevemente. Ou melhor, nos apresento, eu e meu marido, Gabriel. Nós nos casamos em 2010 e então o bom Deus nos deu a companhia dos nossos primeiros filhos durante um pequeno trecho da estrada, pois logo os preferiu e os chamou junto a Ele. Depois de vários exames médicos completos e cada dia com um desejo maior de nos tornarmos pai e mãe, os médicos nos disseram que não poderíamos ter mais filhos. Obviamente, o golpe foi muito forte e, sobretudo, também pelas provações que tivemos que passar anos antes daquele diagnóstico. Onde entrava então, aquele desejo de maternidade e paternidade do nosso coração, que não nos tínhamos dado e que não parava de crescer? Sim, crescia. Porque o paradoxo era que, depois do diagnóstico, que foi como se nos cortassem as pernas, esse desejo se tornou mais forte. Com certa dose de raiva e tristeza, eu sentia vibrar a mesma pergunta, cada vez mais urgente: “Não coloquei esse desejo em meu coração, Você de alguma forma tem que cumpri-lo”. Se havia algo que me deixava nervosa era quando alguns amigos falavam de “modos diferentes de serem pais e mães”, ouvir isto me deixava furiosa.

Até que Lucas nos convidou para participar de uma peregrinação de boas vindas das famílias para a acolhida. Foi um grande impacto: não era gente triste, que tinha que se conformar com um substituto (desculpe os termos, mas foi isso o que pensei no início), sim gente feliz, plena! Era algo verdadeiramente desejável. Assim, começamos a procurá-los, queríamos entender porque eram assim e vimos. Começamos a nos encontrar com alguns deles mais vezes. Uma amizade que consistia em compartilhar desde as menores, até a maior dor do coração.

Assim, chegou a proposta de começar um mini curso de adoção. E assim chegou o primeiro grande presente. Uma noite, no meio do caminho, voltando para casa com meu marido no carro, disse: “Esta noite pela primeira vez, desejei agradecer ao bom Deus por nossa esterilidade”. Realmente, entendi que ali dentro, justamente naquilo que para nós parecia o maior impedimento, havia uma promessa de fecundidade e plenitude infinitas. Quanto mais olhava para os casais que nos acompanhou no curso, mais dizia: eu quero ser assim. Sentia-me preferida! Porque não tinha que deixar nada fora, nada. Nem sequer a dificuldade da dor. E não só isso, sendo que tinha diante dos meus olhos o testemunho de que era possível: estava diante de gente cuja vida estava cumprida e era fecunda.

Resumindo: em dezembro nós apresentamos um pedido para adoção no tribunal. A amizade com os outros continuava. Seguia tendo em mim uma beleza e abundância inimagináveis.

Mas o bom Deus guardava, todavia algo diferente para nós. Depois de pouco mais de um mês da solicitação, descobrimos que eu estava grávida. Foi uma confusão geral para os médicos, que antes disso, que estava também diante de seus olhos, continuavam me olhando e dizendo: “mas senhora, você não pode ter filhos”.

De novo Ele pediu que nos abandonemos. Verdadeiramente, Ele pode tudo. Inclusive quando o mundo diz o contrário. Nos meses seguintes olhava meu marido e voltei a me sentir um objeto de preferência infinita. Mas não por causa da gravidez em si, certamente milagrosa e sem deixar de agradecer por este imenso dom. Mas me dizia: você e eu nunca poderíamos chegar a acolher esse dom assim, sem todo esse caminho que percorremos. Impressionam-me, aliás, porque quando penso em como gostaria de olhar minha filha, não deixa de vir a mente o rosto de alguns de vocês, ainda tenho amigos que têm filhos biológicos, até três ou quatro. Mas não. Penso em Marta e Rafael com Enrico; em Somma e Gabri com Matteo e Miriam. Um abraço que só pode nos ceder com um sim, que custa pronunciar, mas nos torna capaz de ser testemunha de esperança para nossos filhos.

Eu desejo olhar assim nossa filha Francesca. Por isso, a insistente pergunta destes meses é que eu possa continuar sendo acompanhada por vocês, meus testemunhos nisto. Por isso estou aqui.

Annalisa

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