Vai para os conteúdos

OS FATOS

De sapatos surrados, apaixonado pela vida

por Alejandro Marius
09/12/2015 - Na Venezuela, um curso de formação da associação "Trabajo y Persona" e o desejo de acompanhar os jovens também depois de formados. Uma estrada que vai bem além de aprender uma profissão... Como demonstra a história de um jovem de Guacara
O curso de formação de ''Trabajo y Persona''.
O curso de formação de ''Trabajo y Persona''.

Em 2014 iniciamos um curso de formação no âmbito da mecânica automotiva. As aulas são realizadas na cidade de Guacara, a cerca de cento e cinquenta quilômetros da Caracas. Uma das prioridades que nos propusemos para este ano era a de acompanhar os jovens formados não só neste curso, mas em todos os que propomos como "Trabajo y Persona", a nossa associação que se preocupa em recuperar o valor da pessoa através da formação para o trabalho.

Mariloly é o meu braço direito no trabalho e é também muito mais atenta do que eu às pessoas. Ela lembra os nomes e as histórias de todos. Foi ela quem descobriu que um dos jovens formados em mecânica tinha perdido o emprego por ter se recusado a ser o espião do sindicato. Além do trabalho, não tinha mais nem mesmo a casa. Vivia com a avó, no mesmo quarto de seu pai, apenas quinze anos mais velho do que ele. Sendo que não tinha mais um emprego, ajudava nas tarefas domésticas, ou fazia bicos com os quais conseguia adquirir somente arroz. Há alguns anos, este jovem tem também uma namorada. Ela teve mais sorte e encontrou um trabalho fixo em uma empresa importante, mas a sua família olha com desprezo o relacionamento deles porque ele está sem emprego e não estuda.

Há poucos meses, fui à região onde mora este jovem. Ele tinha pedido para nos encontrar, porque Mariloly não podia ir até ele. Chegou todo suado e mancando. Quando lhe perguntei o porquê, confiou-me, com vergonha, que um sapato estava quebrado. Não tinha o dinheiro para pagar o bilhete do ônibus e havia percorrido a pé os quinze quilômetros de sua casa até o local do encontro. Tinha vindo para contar-me sobre o relacionamento com a sua namorada e para dizer-me que tinha intenção de voltar a estudar e de encontrar um emprego. Explicou-me também que a moça começava a sofrer pressões por parte dos colegas, dos amigos e da família e ele não tinha condições de ajudá-la. Por isto decidira interromper o relacionamento, de modo que ela não tivesse de sofrer também por sua causa. Dentro de mim eu me perguntava: “Se isto não é amor, que outra coisa pode ser?”. Este rapaz ama mais o destino de sua namorada do que ficar com ela.

A certo momento me pede se há a possibilidade de entrar em um novo curso que estamos organizando. Este, diversamente do precedente, fornece um título universitário, uma formação mais intensiva com uma empresa automobilística internacional, e inclui as refeições. Quando haviam se deixado, a namorada lhe dera o dinheiro para pagar a fotografia a ser colada no formulário de pré-inscrição, e agora ele queria demonstrar-lhe que daria conta.

Na semana passada iniciou o curso, e o encontrei na minha frente dentro da sala de aula. Fiquei agradavelmente surpreso ao ver que ele tinha conseguido obter a vaga com o seu empenho. Estava muito feliz, e começou a contar-me o que havia acontecido nas últimas semanas: a namorada havia decidido voltar com ele, colocando-se contra a família e, durante um passeio, havia comprado um anel, pagando uma entrada, para pedir-lhe para se casar, porque ele é o homem com quem ela quer passar o resto de sua vida. Também me confidenciou que a sua namorada quer conhecer a mim e a Mariloly porque gostariam de nos ter como testemunhas do matrimônio na igreja.

Na hora eu não consegui reagir devido à grande surpresa, ainda que meu coração gritasse de alegria. Fiquei frio, e com a chegada de outros jovens a conversa se bloqueou. Mais tarde, naquela mesma noite, recebi esta mensagem: “Sei que estivemos juntos apenas pouco tempo, mas sou muito grato a você e à senhora Mariloly por toda a ajuda que me deram. Sei também que ontem não falamos muito, e que quando vêm aqui, vocês têm coisas mais importantes a fazer. Teria muito prazer se você e Mariloly fossem as testemunhas de meu matrimônio. Torná-los partícipes é o meu modo para demonstrar-lhes que são muito importantes. Aconteceram-me muitas coisas belas desde a última vez que conversamos e sei que para mim tempos ainda melhores virão. Agora tenho muito mais vontade de seguir em frente. Aprendo cada dia mais e darei o melhor de mim, como eu sempre fiz. De verdade, agradeço-lhes por tudo”.

Quem financia os nossos projetos pretende sempre que tenham um alto impacto: muitos benefícios e grandes mudanças. Mas não existe mudança maior de um rapaz venezuelano que quer continuar a estudar e crescer, até o ponto que a sua namorada o procura pedindo para ficarem noivos. Este é o impacto que vale, o que inicia com o desejo do coração de um rapaz que se põe de pé contra toda adversidade, que ama trabalhar e reconhece que em uma união de amor diante de Deus se joga a vida. É exatamente como disse Dom Giussani: “As forças que mudam a história são as mesmas que mudam o coração do homem”.

Outras notícias

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página