Ele tem uma tatuagem bem à vista, no dorso da mão. “A minha paixão”, diz ele. Vova, Valodja no registro civil, tem 23 anos. Faz três anos que trabalha como vigia noturno no Centro juvenil Alfa & Omega em Almaty, no Cazaquistão. “E não só, trabalho também como monitor de ensino, algumas horas por semana, no curso de carpintaria”. O mesmo que ele também frequentou, depois do curso para padeiros, ao qual tinha sido encaminhado cinco anos atrás, quando tinha chegado ali vindo do “internado”. “Uma escola para crianças com problemas de aprendizagem e de comportamento, onde são acolhidos os meninos mais difíceis...”, explica Silvia Galbiati, italiana, responsável do Centro.
Turno de noite. Vova, em uma das cidadezinhas do entorno da metrópole cazaque quase na fronteira com a China, tinha iniciado a frequentar uma escola normal. Ficou até o terceiro ano do ensino fundamental, depois foi mandado para o internato, “com professores muitas vezes despreparados e severos. E, além disso, a violência por parte dos mais velhos”. Dali se sai apenas para as férias, quando os pais têm condições. Sem perspectivas para o futuro, esses jovens são marcados para sempre pelo mundo externo como preguiçosos e miseráveis. Vova nunca conheceu seu pai. A mãe se viu obrigada a mandá-lo para lá, pois havia perdido uma perna quando o menino tinha dois anos e, com mais dois filhos, a situação tornara-se insustentável.
“Há alguns anos fazíamos projetos nesta escola, propondo cursos profissionalizantes. E o diretor estava bem contente de nos entregar os ‘piores’ jovens”, explica Sílvia. Foi assim que, em 2011, Vova chegou ao Alfa & Omega. Começou a frequentar um curso para padeiros e, em seguida, para carpinteiros. “Eu vivia em uma casa com outros jovens hóspedes do Centro. E a vida começou a mudar. Fora é duro. Para gente como eu, então... Ao contrário, aqui estão pessoas que estimam você, que lhe dão confiança”.
Ele se apega ao Centro, e recebe a proposta de ficar para trabalhar com eles. Inicialmente no turno de noite, depois assume aquelas horas nas oficinas, entre madeiras e utensílios, com jovens deficientes e cheios de problemas. Tais come ele tinha sido. “Para mim é uma outra vida. Antes, eu não sabia fazer nada. Agora, estou com estes jovens cheios de dificuldades, e ainda procuro sempre ensinar-lhes alguma coisa, mesmo se é difícil para eles. Aqui aprendi uma certeza, uma educação, uma cultura”. Não se pode parar de apostar neles. “Penso na deficiência de minha mãe... Quem está diante de mim faz parte da minha história. Agora sei que toda pessoa tem dentro de si algo realmente grande. E eu busco esse algo, ensinando, com o desejo que ocorra uma mudança para eles, mas também para mim”. É esta a certeza, acrescenta.
Sala-parto. É o humano, que torna a viver por alguma coisa que encontra. E muda. “Ele poderia ter ido embora ao término de seu percurso”, diz Sílvia: “Muitos de seus amigos e colegas tomaram caminhos diversos”. Mas Vova ficou: “Ele entendeu que o encontro feito aqui no Centro não era apenas importante, mas a coisa mais importante de todas”. E, mesmo não sendo fácil, recomeçou a querer bem à própria mãe, a ir encontrá-la. Foi o início do perdão.
“Você aprende a estar diante de tudo que lhe ocorre”, diz Vova. Mesmo diante das coisas mais difíceis. Como na hora do parto de sua esposa: “Eu me casei no ano passado e minha filha nasceu há dois meses. Mas nos dias do parto surgiram complicações”. Ele estava aterrorizado. A pequena nasce, mas não respira: “Os médicos não faziam nada, como se fosse caso perdido. Ao invés, minha esposa tirou de si mesma o respirador e o colocou na criança... Demos a ela o mesmo nome da avó, Erna”, diz ele, hoje, com orgulho. E rindo: “Quer dizer fábula”. Mais ou menos como a história deles. Que apenas começou...
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