O salão estava completo, com as 300 cadeiras ocupadas. Improvisou-se uma sala ao lado para que outro grupo de pessoas pudesse acompanhar por vídeo. Haviam ainda 16 cidades conectadas por videoconferência e mais dezenas de pessoas assistindo pela transmissão ao vivo na página do Facebook da Revista Passos. O que atraiu todas aquelas pessoas para dedicarem sua manhã do domingo 10 de setembro a um encontro com Pe. Carrón?
Uma sugestão pode ser o desejo que a vida floresça, como ouvimos e vimos em Pe. Aurélio Riva, que aos 75 anos compartilhou a alegria de uma vida “que canta”. Morando na cidade de Paulínia, interior de São Paulo, ele não se conformou apenas em visitar os jovens que receberiam a crisma, mas aceitou aprender o que achava que já sabia e nasceu uma amizade. Arriscou e agora estava presente ali com 13 colegiais que aceitaram seguir aquela novidade. Na ida de carro, 2 horas de estrada, cantavam juntos Ho un amico grande grande (tenho um grande amigo).
O encontro nasceu visando aproveitar a passagem de Pe. Julián Carrón por São Paulo. Marco Montrasi, responsável nacional de Comunhão e Libertação, introduziu algumas perguntas, frutos do percurso deste ano do Movimento no Brasil. Primeiro, pediu um esclarecimento a Pe. Carrón sobre a importância da palavra “acontecimento”, esta “grande palavra que é a categoria que define também o cristianismo”.
Pe. Carrón respondeu chamando a atenção ao canto apenas executado: Tua presença morena. Fala de uma presença que prevalece e envolve tudo na vida. Tudo é determinado pela sua presença. Entra por todas as portas e janelas, em todos os recônditos da vida. E desafia: “Quem de nós não gostaria de ter uma presença na vida que fizesse com que tudo na vida não fosse árido, um dever a ser cumprido, mas algo que faz vibrar toda a nossa pessoa?”. Uma música popular, mas lida com uma inteligência nova que deixa todos surpresos. Depois, continuou: “O acontecimento é algo que acontece na nossa pessoa e faz com que tudo se torne interessante para nós. (...) E Dom Giussani começou o Movimento tentando mostrar a todos que o cristianismo é um acontecimento que faz tudo vibrar, que torna tudo interessante. Jesus disse que quem estivesse com Ele receberia o cêntuplo: tudo se torna cem vezes mais que antes”.
O diálogo continua. Existe uma fadiga do viver e o homem grita. Então, o que seria “esperar um caminho, não um milagre”? Pe. Carrón conta o episódio ocorrido anos atrás enquanto dava aulas na Universidade Católica de Milão explicando o capítulo 10 do livro O senso religioso (de Luigi Giussani).
“Imagine estar saindo do ventre de sua mãe com a minha consciência de adulto aos 20 anos”. E um aluno o chamou e disse que após um acidente de trânsito ficou em coma por meses e quando acordou tudo era novo. Nada era óbvio. Tudo o surpreendia. Mas depois de uns meses decaiu essa consciência. Assim, Carrón afirma: “Por isso é necessário um caminho. Ele vivia com esta surpresa, mas depois de um pouco, passado o milagre, voltou a decair. O que torna estável a surpresa diante do real é um caminho educativo no qual somos despertados constantemente a viver a realidade com a curiosidade da criança”.
Ali na plateia, silêncio e atenção. “Nós estamos juntos, seguindo Giussani, para aprender essa posição diante da realidade, que nada seja óbvio e que aprendamos com tudo. Não estamos condenados à decadência. Vimos como Don Giussani, até morrer, se surpreendia com tudo o que acontecia”. É possível. É uma promessa para todos. A única condição é seguir o caminho cristão.
Para falar da potência de Cristo, que é Ele quem permite que não decaia o casamento, o trabalho, os amigos, os filhos, Pe. Pigi Bernareggi, presente na plateia, foi solicitado a falar. “Tem uma curva matemática, que se chama Curva de Gauss, que é o símbolo da vida. Tudo nasce, cresce, chega no auge, desce e acaba. Aquilo que é fantástico é que o cristianismo se permite escapar da curva de Gauss e criar uma ascensão constante”. Nós vimos isso em Madre Teresa, em João Paulo II, em Dom Giussani. É verdade! O que significa uma presença cristã no mundo? Vivendo a pertença a Cristo, deixando-se gerar constantemente pela presença de Cristo num lugar. Uma situação de crise, por exemplo, pode ser ocasião para comunicar a novidade cristã.
O último ponto colocou em questão a crise pela qual passa o país. Medo que domina as pessoas, paralisando a muitos. Ao invés de dar uma explicação, Carrón pede a Claudiana, mãe de cinco meninas, que dê seu testemunho. Ela conta da Escola de Comunidade por Skype com um grupo de mães: “Com o passar do tempo vejo como esse gesto se tornou meu. Todas as propostas do Movimento me fazem companhia, não são coisas a fazer. Voltei das férias de uma maneira que me faz desejar viver a segunda-feira do mesmo modo como aqueles dias. Por isso me sinto filha desta história. E se não estou distraída percebo tudo como uma graça que me alcança”. E assim se cresce e chega-se a lugares não imaginados antes.
“Basta uma pessoa que comece a levar a sério o caminho para mover outras”, complementou Carrón: “Quando a pessoa adere a este lugar, floresce. Eis a piedade que Cristo continua tendo por nós. O que nós precisamos pedir é essa simplicidade de criança para se deixar provocar pela forma como Cristo, agora, nos chama”.
> Assista ao vídeo completo do encontro em nossa página do Facebook.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón