Quando viu pela primeira vez o título do Meeting: "E a existência se torna uma grande certeza", quis voltar a lê-lo com calma. Ouvir falar de uma “imensa certeza” fazia-lhe lembrar a segurança ostentada por quem já não tem dúvidas ou perguntas, simplesmente porque se deixou vencer pela ideologia. Ainda se lembra daquelas paradas na Praça Vermelha, cantando: “No lugar do coração, um motor flamejante…”. Ol'ga Sedakova, nascida em 1949, é considerada uma das maiores poetisas russas vivas. Professora no Departamento de História e Teoria da Cultura Mundial na Universidade de Moscou, no domingo dia 21 de agosto vai fazer um dos primeiros encontros do Meeting: “ A minha irmã vida. Boris Pasternak”, onde será apresentada a exposição dedicada ao autor de Doutor Jivago. Alguém que conhecia bem a verdadeira certeza. “Acima de tudo, na ação divina no mundo”, explica Ol'ga. "Dizia: Com cada vida humana, Deus constrói uma catedral que se lança para o céu". E para ela? “Para mim é mais uma questão de confiança: o fato de que tudo vá para onde deve ir, talvez duma forma que eu não compreendo, mais além do que eu poderia esperar e querer. No fato de tudo ter um sentido. É este o horizonte que, no meio da confusão, da ânsia, da perda de equilíbrio, me permite não ir completamente abaixo”. Por que este sublinhar? “Penso na experiência do século XX, que transtornou a certeza como valor. Quem, mais do que o homem totalitário, estava tão seguro de tudo? Era fácil: descarregava todas as suas dúvidas e as suas escolhas na doutrina, no chefe de turno, no partido. É por isso que sempre desconfiei das pessoas muito seguras de alguma coisa. É o que evidencia também o comunicado dos organizadores do Meeting: “A certeza que procuramos não é uma ideologia ou uma estratégia ou uma convicção psicológica... Não é que as coisas corram como nós pensamos, mas que nós mesmos estamos em relação com Quem nos faz continuamente”.
Mas, mesmo sem ter experimentado a tragédia do totalitarismo, a necessidade de uma certeza na vida tem a ver com qualquer homem. “Vem-me à cabeça a pergunta de Hamlet ou o abismo de Pascal: acontece-nos ter a sensação de que nos foge a terra debaixo dos pés. A certeza, então, tem que se alimentar de qualquer coisa”. E no seu caso? “Há muitas coisas que a fazem crescer: as magníficas obras do homem, a natureza e, sobretudo, os santos. Para mim, foi um mestre o meu pai espiritual Dimitri Akinfiev, chamado “o starets de Moscou”. Não com lições de moral, mas com o que fazia – às vezes só com um comentário – endireitou a coluna vertebral da minha vida. Tudo voltava a estar cheio de sentido e de esperança”. No meio da confusão que atravessamos, é este o valor do Meeting, segundo Ol'ga: “Permite-nos ver o outro rosto da contemporaneidade, um rosto totalmente diferente daquele que encontramos em todos os festivais culturais, nos encontros de cinema, nas inaugurações de exposições, nos vários congressos… É um rosto no qual resplandece a esperança, a paz, o pensamento do futuro, uma verdadeira abertura e abraço ao outro. Para mim é uma honra participar”. E nisto, uma grande contribuição pode vir precisamente de Pasternak: “A nossa época não deixa de tratar do passado, ao passo que ele estava sempre a repetir: ‘O passado é o passado’. Finalmente, iremos ao coração da sua obra, das suas próprias intenções: a grande novidade do cristianismo”.
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