A terça-feira 21 de agosto não foi apenas o dia do encontro sobre o título do Meeting, conduzido por Javier Prades Lopez. Foi também o dia da visita a Rímini de Julián Carrón, presidente da fraternidade de Comunhão e Libertação, que o Quotidiano Meeting conseguiu encontrar para realizar a entrevista a seguir.
Tendo chegado ao evento pela manhã e acompanhado do presidente da fundação Meeting, Emilia Guarnieri, Carrón deu um giro pelos pavilhões e pelos estandes, como aconteceu na edição passada. Assistiu as exposições (Koyasan, Dostoievski, jovens/rock), almoçou com os responsáveis do Meeting, e assistiu ao encontro das 17h, sobre o título da manifestação, feito por Javier Prades, amigo de uma vida e professor (como Carrón, antes de ter sido chamado para a Itália por Dom Luigi Giussani) no Instituto Teológico San Damaso, na Espanha. Para o líder de CL, uma jornada de Meeting como um dos milhares de visitantes.
Primeira etapa, na mostra sobre Koyasan, “a montanha sagrada do Budismo Shingon Mikkyo, de que Dom Giussani tanto gostava”. Aqui, teve um guia excepcional, o próprio Shodo Habukawa, abade do Muryoko-in Temple, que recordou a fecunda amizade com Dom Giussani. Uma passada pela mostra sobre os jovens (O imprevisível instante), inaugurada há três dias pelo presidente do Conselho de Ministros italiano, Mario Monti, antes de se apresentar aos microfones do Telejornal Tg Meeting, quando Carrón disse, entre outras coisas, ter ficado impressionado – referindo-se a esses jovens – com uma coisa: “a mensagem que o Meeting colocou no centro da preocupação começa a se tornar (real) para todos. Os outros começam a perceber que essa não é uma questão espiritualista que interessa apenas aos encarregados do trabalho ou às pessoas pias, mas é uma questão decisiva para o homem, para cada homem que deseja viver o real”.
Na Taberna Spagnola, o encontro com Sua Eminência o cardeal Antonio Rouco Varela, arcebispo de Madri, a cidade na qual Carrón lecionou Teologia e Sagrada Escritura por muitos anos.
O Quotidiano Meeting encontrou-se com ele antes de iniciar o encontro com Prades.
Padre Julián, o que o senhor mais deseja que seja transmitido através deste Meeting?
O que desejo que seja entendido é o título, não como slogan mas de um ponto de vista existencial. O que quer dizer quando a gente desperta, vai trabalhar, ao estudar, que a natureza do homem é relacionamento com o infinito. Não como palavra de ordem, mas como autoconsciência.
Como se pode evitar o risco de que o falar do infinito se torne uma abstração, como alguém sustentou nestes dias?
Esse risco se evita com a realidade: através de todas as atividades que fazemos no Meeting fica claro que não é uma abstração, mas algo concretíssimo, que tem a ver com o modo como cada um se relaciona com o real: da namorada ao dinheiro, do trabalho ao repouso. Se não entendermos que o senso religioso tem a ver com tudo, reduziremos a religiosidade a um mundo virtual que nada tem a ver com o real, e então aí nos dizem mesmo que não é algo concreto. Mas é a coisa mais concreta que existe!
O que significou para o senhor, pessoalmente, a carta autografada que Bento XVI mandou ao Meeting? O que experimentou quando a leu?
Um consolo indescritível. Porque é como reconhecer mais uma vez qual é a minha natureza de homem: que eu fui feito para o infinito e que, portanto, se não há essa abertura em qualquer atividade, eu sufoco. Na mensagem que mandei aos voluntários que trabalham no Meeting, identificando-me com eles, me veio à mente que consolo seria viver cada aspecto com esse horizonte de infinito. É como se alguém vivesse a alternativa entre um esconderijo onde fica se debatendo e um panorama de montanha, com uma abertura total: todos sabemos o que quer dizer essa diferença, não é algo abstrato.
E quais indicações sente para si e para o Movimento nessa carta?
A todos nós a carta de Bento XVI apresenta cada circunstância como ocasião para essa abertura, e alguém pode viver o Meeting como a mãe limpa o bebê, pode estar fechado naquilo que faz, ou pode estar ali com essa consciência de abertura para o infinito. É o que Giussani chamava de viver a vida como vocação. Através de cada detalhe, todos nós podemos ser chamados a essa abertura. Como quando a pessoa é chamada pela sua amada, e isso a abre para um mundo onde o próprio eu se realiza. Você pode viver esse chamado como uma perturbação, contra a qual é preciso se defender, ou percebê-la como ocasião para a sua realização, e então pensa: “Ainda bem que existe!”.
O Meeting deste ano acontece num momento especial, inclusive depois da carta que o senhor escreveu no Repubblica no último dia 1º de maio. Uma carta que marcou uma virada histórica para o Movimento. À luz das consequências que teve, o senhor a escreveria de novo?
Sim. A minha carta é um chamado a viver nessa perspectiva que adotamos. O Papa usou um seu modo de nos dizer aquilo que eu pretendia: não sucumbir diante dos “falsos infinitos” que nos aprisionam e não nos deixam respirar. A minha carta era um grito para nos libertamos desses “falsos infinitos”, para viver com toda a dimensão para a qual fomos feitos. E que nenhum mal pode cancelar.
(texto publicado no jornal Quotidiano Meeting de 22/08/2012)
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