«Só uma imensa caridade salvará o mundo». A frase de Santo Alberto Hurtado, que deu título ao Encuentro Santiago 2017, tomou conta desses dias de diálogos, arte e acontecimentos... Resumidamente, esses dias de vida.
O início dessa edição do Encuentro Santiago foi um acontecimento que encheu de gratidão a todos que ali estavam. A companhia teatral Parsifal veio da Argentina para presentear a todos com uma encenação de A Anunciação à Maria, de Paul Claudel. A companhia teatral (mais de trinta componentes) permaneceu no Chile por três dias, a ponto de se tornar parte de nós: um único povo! Os meninos dos colegiais/liceus do Chile e da Argentina partilharam a experiência do argentino Horacio Morel, responsável da obra social Padre Mario Pantaleo, que contou com lágrima nos olhos o seu caminho. E o que é essa amizade, se não esse contínuo comover-se por aquilo que um Outro faz em cada um de nós?
A construção dos estandes
«Só uma imensa caridade salvará o mundo». Não a caridade entendida como esmola para o indigente, mas a caridade da qual fala Santo Alberto, passa através do dom da própria vida: «Qual é o sentido da vida? Por que o homem está nesse mundo? Os diversos sistemas filosóficos buscam respostas que deixam o coração do homem insatisfeito. Porém, o cristianismo traz ao mundo uma resposta muito reconfortante: o homem encontra-se no mundo para ser amado». Esse amor originário, do qual o homem é objeto, é a primeira forma de caridade. O infinito fez uma longa viagem para abraçar o finito. Como não nos surpreender com essa imensa caridade? Esse movimento suscita em nós o desejo de amar aquilo que encontramos.
«Olhar tudo à luz da eternidade», dizia Santo Alberto. Esse era o título da exposição principal desse ano, exatamente sobre a vida deste santo. De certa forma, como afirmava Paul Claudel: a vida é feita para ser doada, até o fundo, com uma dedicação amorosa. «Nasceu em mim o desejo ingênuo de ser santo», disse um dos voluntários que apresentava a exposição.
Encontro com Bernhard Scholz e Manuel José Ossandón
O Chile pode oferecer abrigo para todos? Foi o tema do encontro com Sumito Estévez e Jonas Bazile que, da Venezuela e do Haiti, comoveram a todos pela humildade que os levou a deixar os lugares que amavam e começar a amar de novo o presente em uma outra terra. Um caminho difícil, cheio de obstáculos, e mesmo assim marcado pela esperança. «Sozinho eu não consigo, mas juntos vamos adiante», dizia Jonas. Enquanto Sumito, ressaltava a “beleza” desse novo início.
E eu, o que tenho a ver com as estrelas? Os grandes deslocamentos dos seres humanos, da Europa à descoberta da América e, muito antes, a chegada dos índios no nosso Continente, ou a atual imigração, são a prova da ansiedade que o homem tem em descobrir o mundo e os seus limites. O astrofísico Ulisses Barres de Almeida veio do Brasil para nos ajudar a entender que a astronomia não é nada mais que um sinal dessa aspiração humana de conhecer para além dos limites o mistério do qual é feito o universo.
A encenação de "A anunciação à Maria''
Então faz sentido falar da imigração humana como de uma oportunidade para voltar a nos considerar como parte desse pequeno e frágil pontinho que é a Terra vista do espaço, essa terra que não consegue mais conter qualquer desejo humano, mas ao contrário, o empurra a desejar sempre mais. E por isso a grande quantidade de jovens que depois encheram Ulisses de perguntas, no meio da noite, mostrou o espetáculo que é o homem quando começa a tomar consciência do seu lugar no universo, aquele ponto de comoção que poderia parecer infinitamente pequeno, e que é movido por algo infinitamente grande.
Bernhard Scholz, presidente da Companhia das Obras, na Itália, foi um companheiro de caminho nesses dias, colocando no centro do diálogo a dignidade humana que não depende de nenhum poder. O seu diálogo com o senador da República Manuel José Ossandón foi guiado pelo mesmo tema da atenção à pessoa, que também marcou o encontro que Bernhard realizou com os empreendedores da feira regional desse ano. Aqueles homens e mulheres, que com esforço deram a vida por uma empresa, puderam dialogar com um empreendedor como se fosse um amigo. Na abertura da feira, uma das empreendedoras disse: «Mesmo que eu não venda nada, já fui recompensada ouvindo isso neste ano». «Esse lugar é cheio de oportunidades de novas relações», dizia um outro empreendedor.
Uma voluntária do Encuentro Santiago
«Só uma imensa caridade salvará o mundo», e que caridade é essa, que não coloca nenhum homem acima de outro homem, mas cada um lado a lado diante de um ideal? A caridade nasce da surpresa por ser amados, a caridade que encontra-se na raiz do bem e da alegria. «Olhar tudo à luz da eternidade» é a promessa que fica com a música, a dança e o canto que nos fez dançar na festa do rock, da salsa e da cúmbia; a energia dos eventos esportivos, a mesma promessa se vê nos jovens voluntários que, com gratuidade, desenvolveram as tarefas mais simples e, ao mesmo tempo, fundamentais, para que esse encontro pudesse ser vivido na beleza da origem e do acolhimento. O espaço dos nossos encontros foi versátil: nos mesmos espaços da feira foi depois montado o altar da missa. E, pela manhã, foi comovente ver uma das voluntárias ajoelhada limpando com muito cuidado e em silêncio o lugar, para não deixar uma sujeira sequer. Tem sempre alguém que ama aquilo que acontece! Pelo amor da Sua Presença, um povo nasce e se renova.
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón