"Não pensava em me tornar católico mais do que pensava em tornar-me canibal. Limitava-me a supor que também os canibais devem ser tratados com justiça… mas com a Igreja católica, é impossível ser apenas justo. No momento em que os homens deixam de a atacar, sentem-se atraídos por ela. No momento em que deixam de vociferar contra ela, começam a ouvi-la com prazer. No momento em que procuram, simplesmente, ser justos para com ela, afeiçoam-se a ela". Com estas palavras, Chesterton descreve o seu comportamento antes de se tornar católico. E pode sugerir-nos o porquê do sucesso editorial deste livro de Bento XVI, que já ultrapassou um milhão de exemplares vendidos em todo o mundo. Este juízo ressoa, ainda que privado da ironia e da profundidade de Chesterton, num artigo publicado pelo The Telegraph no final da visita do Papa à Inglaterra: "Alguns talvez tenham se sentido ofendidos… Mas julgamos que terão sido muito mais os que puseram de lado as suas reservas em relação à Igreja católica e se disseram: Ele tem razão". Basta conceder a Bento XVI uma pequena margem de respeito para que nasça uma atração intelectual e afetiva.
O que é que fascinou os leitores? Antes de quaisquer palavras, no livro impõe-se a própria presença do Papa, a sua humanidade. Permitiu-nos o acesso à sua vida familiar, aos seus interesses e aos seus gostos. Expôs-se na primeira pessoa, do choque que lhe provocou a decisão do conclave, até à humildade com que aceita o fato de que, sobre alguns problemas muito delicados, tenham sido cometidos erros. Além disso, tornou-nos partícipes da sua abertura diante das grandes questões de hoje, mas também da clareza com que ensina as verdades doutrinais e morais da fé cristã.
O livro demonstra que os homens do nosso tempo ouvem os mestres quando estes são testemunhas, como dizia Paulo VI. Da entrevista, torna-se evidente que Bento XVI é uma testemunha formidável da fé cristã, não só porque confirma a suas palavras com a sua vida, como porque sabe combinar o “teórico” com o “existencial”. É uma testemunha no sentido mais pleno, porque “obrigou-nos” a todos a medirmo-nos com a verdade do homem e com a verdade de Deus que nos são comunicadas em Cristo e na sua Igreja.
O Papa exige a amplitude da razão, da qual fala com respeito, mesmo quando é exercitada por homens de outras culturas e tradições. Por isso, a meu ver, retoma conhecida tese de Habermas sobre a necessidade duma “tradução” dos mistérios da fé para o debate público nas sociedades ocidentais. Além disso afirma, sem solução de continuidade, que a razão humana só alcança a sua dignidade plena quando se abre à possibilidade duma manifestação de Deus na história que vá além da medida que a razão pura pode oferecer. Por isso, apela a uma apresentação integral da fé cristã aos nossos contemporâneos. O livro pode despertar em muitas pessoas aquela atitude inicial de justiça que acaba por chegar, quase imperceptivelmente, à afeição pela Igreja. Basta acolher o Papa por aquilo que ele é, por aquilo que ele diz e faz.
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