Um dos mais geniais escritores católicos do Século XX, o inglês G.K. Chesterton (1874-1936) que nos deixou obras primorosas como Hereges (1905), Ortodoxia (1908) e O Homem Eterno (1925) além de livros de crítica literária e romances, ganhou uma legião de fãs com uma série de histórias protagonizadas pelo padre-detetive Brown. Diferente de personagens como Hercule Poirrot e Sherlock Holmes, Padre Brown se vale do conhecimento do coração humano para revelar ladrões e assassinos. “Ele conhece o mal. Conhece-o como um mistério, e como uma herança. Antes de perseguir ladrões e assassinamos cá fora, já os perseguira nas almas dos penitentes, e na sua própria”, escreveu o escritor Gustavo Corção sobre o detetive de Chesterton.
A origem do Padre Brown se dá após Chesterton ter se tornado amigo do Padre John O’Connor (1870- 1952), em uma viagem de férias para Yorkshire. Chesterton se encantou com aquele padre simples e de modos educados de origem irlandesa, que estava alocado na Igreja de St. Anne de Keighley.
A inspiração do personagem surgiu quase por acaso, como muitos outros fatos acidentais e curiosos que marcaram a vida de Chesterton. Ele estava com o Padre John O’Connor conversando quando dois jovens estudantes de Cambridge que estavam próximos a eles, comentavam que os padres, por estarem fechados no claustro, nada saberiam sobre o mal no mundo. Chesterton se aproveita deste incidente para criar o famoso sacerdote-detetive. O próprio Chesterton nos relata:
“E surgiu em minha mente a vaga ideia de dar um fim artístico a esses cômicos despropósitos que eram, ao próprio tempo, trágicos, e construir uma comédia na qual um sacerdote aparentemente não saberia nada, não obstante conhecesse o crime melhor que os criminosos. Coloquei essa ideia essencial em um conto pequeno e improvável chamado 'A Cruz Azul', continuando através das séries intermináveis de contos com os quais afligi o mundo. Em resumo, permita-me a séria liberdade de tomar o meu amigo e dar-lhe uns quantos golpes, deformando seu chapéu e seu guarda-chuva, desordenando sua roupa, modelando seu rosto inteligente numa expressão cheia de fatuidade e, em geral, disfarçando o padre O’Connor de Padre Brown”.
As histórias de mistério protagonizadas pelo Padre Brown compõem a parte mais difundida da obra de Chesterton. Ao todo são 52 contos, escritos a partir de 1910 e posteriormente compilados em livros, um dos quais "A Inocência do Padre Brown", que traz doze histórias. Em "A Cruz Azul" – na qual o personagem faz sua primeira aparição –, o clérigo de Essex precisa lançar mão de métodos excêntricos para impedir o roubo de um valioso artefato religioso.
Ao longo dos contos, Chesterton nos apresenta as características do Pe. Brown: “O pequenino Padre não era interessante de ser contemplado: tinha a cabeleira castanha arrepiada e o rosto arredondado e sem expressão", era o “feioso padre de Cristo”; “Silencioso, era um homenzinho curiosamente simpático”. Por ser padre, o detetive era sempre acusado de “irracional”. Em "A Cruz Azul", o detetive faz questão de reforçar: “a razão é sempre racional, mesmo no último limbo, na fronteira perdida das coisas. Eu sei que as pessoas acusam a Igreja de desvalorizar a razão, mas na verdade é o contrário. Sozinha na Terra, a Igreja torna a razão realmente suprema. Sozinha na Terra, a Igreja afirma que o próprio Deus é limitado pela razão.”
Título: “A Inocência do Padre Brown”
Autor: Gilbert Keith Chesterton
Editora: L&PM Pocket
http://www.lpm.com.br/site/default.asp
Disponível na Livraria Companhia Ilimitada
http://www.companhiailimitada.com.br/
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