É o dia, com seus aspectos prosaicos, com a normalidade de cada ação, na crua simplicidade de quem vive seus minutos, o ponto para o qual Papa Francisco olha, iluminado pela luz do Evangelho. Ao ler “A verdade é um encontro: homilias proferidas na Casa Santa Marta”, não encontraremos uma teologia dominada pelo esteticismo ou a erudição, mas palavras originadas do olhar para a cotidianidade da vida humana nas suas variadas dimensões.
As homilias registradas foram organizadas respeitando a ordem dos dias nas quais foram proferidas, de 25 de março de 2013 a 20 de março de 2014. Durante este período do tempo, o Papa Francisco celebrou as missas em dias comuns para um grupo de variadas pessoas: padres das paróquias da sua diocese, jardineiros, religiosos. Sendo seu olhar dirigido à normalidade de cada ação, a simplicidade de cada dia, o conteúdo de suas homilias também acompanha a simplicidade do cotidiano das celebrações sóbrias, essenciais, intensas e familiares. Exatamente esses predicativos serão encontrados em cada homilia, não um sofisticado discurso que impressiona pela escolha de palavras cheias de erudição, com o objetivo de impressionar através de exercícios exegético-teológicos, mas uma fala certeira aos fiéis, por isso concisa e de poucas e profundas palavras.
Através de uma linguagem clara, sucinta e essencial fala à pessoa a partir, antes de tudo, do que dizem as leituras do dia. Trata-se de “mensagens muito densas, que fazem apelo ao coração do Evangelho, que não querem acentuar princípios abstratos, mas falar da misericórdia [...] têm um calor espontâneo, uma ligação com aqueles rostos que o Papa tem diante dele e dos quais não é possível abstrair” como afirma Antonio Spadaro, diretor de La Civiltà Cattolica em seu prefácio ao livro.
Ao mesmo tempo em que afirma com força a misericórdia de Deus, lembra-nos a grande e agônica luta da existência humana. A vida humana é luta, “é o caminho de Jesus”, através da cruz. Fala de misericórdia e perdão e não nos permite descansar distraidamente sem revelar também nossas incoerências: na busca pelo poder; na maledicência das nossas palavras; a corrupção presente no seio da Igreja; na nossa insistência sobre as ideologias, que não nos constroem, não constroem a Igreja e paralisam nossa ação no mundo como povo, como Igreja; na insistente busca por respostas que substituam o nosso empenho na vida, nosso crescimento; na guerra promovida pela ânsia por dinheiro. Contudo, não nos quer apontar falhas e pecados como um julgador, mas como um educador propondo-nos positivamente viver a graça do encontro com Jesus, abrindo mente e coração ao que Ele nos diz a cada Eucaristia, porque só assim podemos caminhar.
Evidencia-se a cada homilia a mensagem de abrir-nos à graça e ao perdão de Deus que nos lança a serviço, porque, nas palavras de Francisco, o Senhor caminha conosco, mistura-se conosco, anda conosco, não nos deixa sozinhos, é paciente com as nossas fraquezas é a verdade que se faz caminho, através da cruz, faz-se palpável, é uma pessoa, por isso faz-se encontro.
O Santo Padre também demonstra sua atenção à Igreja martirizada, exortando-nos a rezar a Deus pelos mártires, executados pelo ódio deste mundo aos que encontraram a salvação por Jesus. Assim, além de indicar a agônica luta da nossa existência, propõe-nos o caminho da abertura e da unidade através da oração e também dos ensinamentos da Igreja, por isso alcança profunda catequese para o povo. Fala a todos os fiéis presentes na celebração, mas abre-se a falar, por dom do Espírito a todos nós, ao mundo, pelo acesso a uma possibilidade de educação da mente e do coração, através da leitura deste livro, instrumento da graça de Deus.
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