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ARTE

Garra, melodia e as lágrimas de Stálin

por Emmanuele Michela
13/07/2011 - Nas décadas escuras do comunismo, eis como uma grande artista, Maria Yúdina, conseguiu desafiar o regime soviético apenas com a sua música
A pianista russa Maria Yúdina em um recital.
A pianista russa Maria Yúdina em um recital.

Academias, partituras e concertos se alternam a igrejas demolidas, carros armados e campanários derrubados: imagens dramáticas dos anos escuros do comunismo russo. Cenas que encontram como trait d’union as mãos de uma grande pianista, Maria Yúdina: a ela, a TV italiana dedicou um especial, intitulado “A pianista que comoveu Stálin”, produzido em colaboração com a Opera Romana Pellegrinaggi, com a participação de Giovanna Parravicini, pesquisadora da “Rússia Cristã”, autora do livro Marija Judina, più della musica (Maria Yúdina: mais do que a música, em tradução livre; ndt).
As imagens relatam a história espetacular desta artista. Nascida em 1899, na Rússia, desde criança era apaixonada pela música, dedicando-se, mais tarde, em São Petersburgo, ao piano. Foi também ali que assistiu aos dramáticos fatos de 1917: a queda do czar e a revolução bolchevique.
De família judia, logo após o nascimento do regime comunista, ela se aproximou da Igreja Ortodoxa russa. Eram os anos mais duros para os cristãos, e se pode ver muito bem neste especial, que, com os olhos da pianista, consegue contar a história da Igreja russa durante o século XX, repropondo imagens extraordinárias de violência e perseguição: igrejas demolidas, cúpolas derrubadas e ícones jogados no fogo.
Neste clima, Yúdina se afirma, tornando-se a maior pianista russa do século XX, não obstante o fato de ser cristã lhe causar problemas, como a discriminação, a demissão do conservatório, as dificuldades para gravar concertos. Mas ela continou a tocar por toda a sua vida, armada apenas da sua música, desafiando assim o poder soviético. É famosa a comoção de Stálin, depois de ter escutado um concerto seu no rádio (episódio que inspirou, inclusive, o título desse especial): na mesma noite, ele pediu a gravação do concerto. E na Rússa os seus concertos eram um evento: o público era arrastado por sua extraordinária capacidade de execução, e pela grande habilidade com a qual as suas mãos – “garras de água” no teclado, era como o compositor e amigo Shostakovitch as definia – conseguiam criar música. Havia um envolvimento muito grande, seu e de quem a escutava. O especial sublinha isto muito bem, reproduzindo algumas de suas execuções e concertos. Para ela, tocar era mais do que uma paixão: “Deus, o Espírito, me foram revelados pela primeira vez através da arte, através de um de seus ramos: a música”, escreve, um dia, em seu diário. Sergei Trubachev conta: “Toda a sua vida foi dedicada a realizar a própria fé e vocação artística, que ela concebia como uma missão de testemunho, como um anúncio da Verdade que professava. Eis porque os seus concertos eram tão fora do comum, quem os escutava os percebia como uma espécie de ‘ação’ litúrgica”.

Serviço:
O DVD do documentário, com legendas em português, pode ser adquirido no site da Itacalibri.

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Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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