Prosseguindo a intenção de sugerir exemplos musicais para audição e ilustração cultural do momento que vivemos, acompanhando a Semana Santa, considero muito adequado apreciarmos a "Stabat Mater", importante obra sacra que tem lugar no repertório de inúmeros compositores, há vários séculos, mantendo, porém, esse mesmo título até nossos dias. Esclarecendo, trata-se de um poema do século XIII, de autor desconhecido, mas que alguns estudiosos atribuem a Jacopone da Todi. Inicia com a frase "Stabat Mater Dolorosa" (estava a mãe de luto... etc...). Mas é bom saber que existe também o hino: "Stabat Mater Speciosa..." (estava a mãe formosa...etc...), que é atribuído ao mesmo autor. O primeiro se refere ao sofrimento de Maria no momento em que presenciava Jesus crucificado. O outro retrata a felicidade de Maria junto ao presépio.
Como é de se prever, "Stabat Mater Dolorosa" não inspirará um clima alegre em seu desenvolvimento melódico e rítmico. Ao se meditar o texto e imaginar a situação daquela mãe, facilmente nos sensibilizamos com a clareza e profundidade daquele sofrimento. Aquele sofrimento, entretanto, não bloqueou as possibilidades de criação repletas de beleza e genialidade inspiradora em muitas frases musicais das partituras compostas por uma enorme variedade de compositores que se dedicaram a esse sério tema.
No aspecto histórico é interessante saber que esse texto já integrava a liturgia romana como uma sequência em fins do século XV, mas abolido pelo Concílio de Trento (1543 a 1563). Foi retomado em 1727, mas para empregar na Festa das Sete Dores (15 de setembro). É utilizado também como hino no Ofício da sexta-feira após o Domingo da Paixão.
Existem partituras antigas de Domenico Scarlatti, Olando de Lassus, Pergolesi, Vivaldi, Palestrina, Hristo Tsanoff, Pedro Escobar, Marc-Antoine Charpentier, enfim... uma infinidade de autores, de várias épocas.
No Brasil, a obra mais recente de que tenho notícia, musicando o "Stabat Mater" é de autoria de Amaral Vieira, fantástico compositor contemporâneo que há décadas se dedica à Música Sacra, inclusive com seu programa especializado, atualmente transmitido pela Rádio Cultura de São Paulo. Antônio Francisco Braga, outro brasileiro, autor de nosso Hino à Bandeira, também compôs a sua "Stabat Mater", em fins do século XIX.
Rossini, G. Verdi, Poulenc, Franz Liszt, Dvorák, são outros famosos que também musicaram esse poema, alguns com solistas e instrumental, outros com orquestra, solos e coral, outros com órgão e coro, e assim por diante.
Minha sugestão de audição para esta quinzena é o "Stabat Mater" de Dvorák, para coral, orquestra e solistas. Foi composta em 10 partes distintas. Na sexta parte canta um tenor e o coro exclusivamente masculino (Fac me vere tecum flere). Vale apreciar, assim como o coral da "Virgo Virginum Praeclara" de uma beleza contagiante; e a"Eja Mater, fons amoris". Na última parte, a décima, as quatro vozes solistas e o coro interpretam "Quando corpus murietur". São destaques que eu pessoalmente considero, mas a obra é toda bela. Triste. Mas bela. Como muitas vezes é a nossa existência.
Nos links abaixo, vocês poderão ouvir os trechos sugeridos, além da primeira parte da obra: "Stabat Mater Dolorosa". Para quem gosta do gênero é interessante conhecer várias autorias, de diferentes épocas, desse mesmo tema.
Boa audição e meditação a todos.
http://youtu.be/Qb0PcS0lwak - Stabat Mater Dolorosa
http://youtu.be/JwufT1QHJkY - Fac me ere tecum flere
http://youtu.be/xip1XLOIom8 - Virgo Virginum Praeclara
http://youtu.be/1s37qXRfaSI - Eja Mater, fons amoris
http://youtu.be/mieIozs98Ow - Quando corpus murietur
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