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ARTE

Vamos ouvir o Genesis?

por Cezar dos Reis
15/05/2012 - CD da banda britânica Genesis "Selling England By The Pound" agrega ritmo, melodia, harmonia, arranjo e interpretação de forma genial
Capa do CD
Capa do CD

Beleza é o que desejamos enfatizar nessas sugestões para audição de CDs a cada período.

Levando em conta que ainda permanece em São Paulo a exposição Let's Rock (mostra sobre a história do rock n' roll com fotos, músicas e documentos na Oca, no Parque do Ibirapuera), escolhi apontar para o ano de 1973, quando surgiram no cenário do rock, obras musicais de conteúdo tão inspirado e criativo, que a ideia de associar o rock a barulho vazio e agitação descomprometida, deu lugar a um fascínio sério, novo, mas calmo, agradável, o qual não compreendíamos bem, na época, mas se tornaria um efeito permanente, muitas vezes crescente e amadurecido com os anos. Um tipo de emoção que ressurge com o mesmo nítido "sabor" ainda hoje, quando volto a ouvir cada um desses trabalhos. Uma sensação inexplicável que só é experimentada com clareza por quem viveu sua "juventude musical" nos anos 60 e 70, principalmente. Situando um pouco, aos que não conhecem esse universo, posso informar que os exemplos são muitos, e de propostas e estilos bem diferentes, tanto nas composições quanto nas interpretações. Lark's Tongues in Aspic (do King Crimson), Close to the Edge (do Yes), Selling England by the Pound (do Gênesis), Brain Salad Surgery (do Emerson, Lake & Palmer), Ashes Are Burning (do Renaissance), Camel (do Camel), A Wizar, A True Star (do Todd Rungdreen), In a Glass House (do Gentle Giant), The Dark Side of the Moon (do Pink Floyd), são apenas algumas das principais obras lançadas nesse abençoado ano de 1973.

Por questão de espaço vou me fixar apenas na obra "Selling England By The Pound", do Gênesis, um grupo de amigos que começou a tocar em 1966, cujo modo de trabalhar em detalhes rítmicos e harmônicos, procurando aliar a coerência da mensagem do texto à clareza da execução instrumental, revestindo tudo de uma dinâmica sempre atraente e expressiva, levou a banda a um equilíbrio perfeito, a ponto de muitos especialistas chamarem suas gravações posteriores de "O Rock Sinfônico do Gênesis".

Essas características que acabei de apontar tiveram seu auge justamente nesse disco de 1973, felizmente encontrado hoje em CD. Nessa única obra temos elementos de ritmo, melodia, harmonia, arranjo, interpretação, texto, agregados de modo tão genial que é possível ministrar um curso de análise musical, interpretação instrumental e vocal, com riqueza de detalhes que deixam na lembrança a ideia principal do que buscamos sugerir aqui: a BELEZA.

Mas, deixando de lado a técnica, e falando da divina e simples "Beleza", desde a primeira sílaba da primeira música desse trabalho, é possível ser tocado pela sensação de constatação da beleza, pois tudo se inicia sem nenhum instrumento, mas com a voz de Peter Gabriel melodicamente indagando: "Can You tell me where my country lies?"

Esse fascínio inicial é mantido na continuação da música pela forma como os instrumentos vão participando, e como os arranjos surpreendem, por exemplo, com o som de suaves vozes (coral) que Tony Banks usa de fundo em algumas frases entonadas como se fosse um "rap medieval".

Para quem se prende à performance instrumental mais erudita pode se deliciar com a maravilhosa introdução de "Firth of Fifth", que Banks executa de maneira apaixonante ao piano. No instrumental dessa mesma música fica comprovado como o som de uma guitarra elétrica pode ser tão doce, num trecho tão belo, que todos que a ouvem pela primeira vez, saem assobiando sua melodia.

Não há espaço para falar do outro lado do disco, pois "The Battle of Epping Forest" tem uma quantidade tão grande de exemplos de beleza, ritmos que surpreendem, além da interpretação de gênio que Peter Gabriel desempenhou, que precisaria muitas páginas para tratarmos só dessa música. Eu a utilizei por várias vezes com meus alunos, em aulas de escola e faculdade de música pela riqueza e criatividade. Incrível também como um texto pode descrever uma situação de disputa, coisas tão antagônicas, sendo colocado em melodias tão fascinantemente belas...

Creio não precisar detalhar as outras músicas. "The Cinema Show" é como uma viagem de ida e volta às nuvens. Sem pressa. E "After the Ordeal" é muito bela também, totalmente instrumental.

O disco tem momentos suaves, românticos, alegres, tristes e fortes, lentos e rápidos. Mas em nenhum momento é barulhento ou agressivo. A presença principal nesse trabalho é a própria música e não seus criadores.

Apenas ressaltar que a obra termina retomando trechos melódicos que fizeram parte da música de abertura do disco, o que faz recordar o sentido melódico do tema inicial, e resgata a adequada sensação de um caminho coerentemente percorrido.

Obra:
Selling England By The Pound
Artista: Gênesis.
Ano: 1973.
Em CD: 1994 e outras versões

Boa audição a todos.

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