Depois de passar por Minas Gerais chega à São Paulo a exposição “Caravaggio e seus Seguidores” com seis obras do gênio italiano Michelangelo Merisi de Caravaggio (1571 – 1610) considerado o principal representante do Barroco. Também são apresentadas outras 14 telas de artistas diretamente influenciados por sua obra e técnica, entre eles Artemisia Gentileschi, Bartolomeo Cavarozzi, Giovanni Baglione, Hendrick van Somer e Jusepe di Ribera.
Passando por diversas fases da vida do gênio, a mostra pode ser divida em três grandes blocos: trabalhos consagrados e conhecidos; novas descobertas; e obras “problema”, que ainda são objeto de estudo. Pela primeira vez fora da Itália, a famosa Medusa Murtola (recentemente identificada como a “Medusa original”) e o Retrato do Cardeal poderão ser vistos de 2 de agosto a 30 de setembro de 2012 no 1º andar do MASP.
Caravaggio usava sua técnica para impressionar o espectador: temática do cotidiano italiano de sua época; formato “ao natural” das figuras, à semelhança do espectador; a cena toda retratada em primeiro plano, para envolver emocionalmente quem a olha; fundo neutro ou escuro, destacando o tema representado, contrastando com o forte feixe de luz que iluminava o objeto principal da obra, evidenciando sua técnica do claro-escuro, que tornava tudo mais “real”, mais vivo.
No MASP também poderão ser vistos 14 artistas que foram influenciados por Caravaggio. Conhecidos como caravaggescos, cada um deles, utilizava o chiaroscuro de uma maneira particular, de acordo com sua própria cultura.
Caravaggio tinha um temperamento explosivo. Encrenqueiro, envolveu-se em uma série de brigas e processos jurídicos ao longo de sua vida, tendo que fugir de diversas cidades, inclusive Roma, onde sua cabeça tinha sido posta a prêmio. A despeito de sua vida conturbada, sua técnica ímpar e a maestria com que retratava as cenas e os personagens de suas obras preservam até hoje o encantamento e emoção que causavam no século XVII.
Cesare Garboli, num antigo número da revista Nuovi Argumenti, cita como correspondente contemporâneo de Caravaggio o cineasta Pier Paolo Pasolini (1922-1975). Ambos eram pintores, homossexuais e abjuraram o ilusionismo burguês em sua obstinação pelo real. Era o olho da câmara que via por Pasolini a realidade recortada dos vadios da periferia de Roma, os mesmos que séculos antes Caravaggio carregava para seu estúdio, retratando-os como santos em suas telas. Caravaggio pintava, enfim, seus semelhantes, mesmo tendo de obedecer a temas impostos por nobres colecionadores, entre eles importantes figuras do clero.
Segundo artigo de Antonio Gonçalves Filho, no Estado de São Paulo “a radicalização do chiaroscuro, em suas telas, não segue apenas uma tendência formal do barroco, mas obedece a uma luta interna entre trevas e luz desse tenebrista que criou uma escola, cujos seguidores estão representados na mostra do Masp. Caravaggio usa a luz e seus reflexos não mais de maneira alegórica, como seus antecessores renascentistas, mas como elemento de equilíbrio, proveniente de uma fonte impossível de ser identificada e que invade a penumbra, transformando a realidade ordinária em sagrada”.
Biografia
Michelangelo Merisi da Caravaggio foi um pintor italiano atuante em Roma, Nápoles, Malta e Sicília, entre 1593 e 1610. É normalmente identificado como um artista barroco, estilo do qual foi o primeiro grande representante. Caravaggio era o nome da aldeia natal da sua família, do qual adotou-o como seu nome artístico.
Exceto em suas primeiras obras, Caravaggio pintou fundamentalmente temas religiosos. Durante sua vida, era considerado enigmático, fascinante e perigoso. Nascido no Ducado de Milão, onde seu pai, Fermo Merisi, era administrador e arquiteto-decorador do marquês de Caravaggio, Michelangelo Merisi surgiu na cena artística romana em 1600 e, desde então, nunca lhe faltaram comissões ou patronos. Considerado um farrista inconseqüente, ele vivia com problemas com a polícia, sem dinheiro e buscava brigas nos pulgueiros da cidade. Em 1606, matou um jovem durante uma briga e foge de Roma, com a cabeça a prêmio. Passou por Nápoles, depois por Malta e pela Sicília, onde pintou telas de lirismo transfigurado, como: A ressurreição de Lázaro (Messina), na qual, sob o pavor de um imenso espaço vazio, um raio de luz rasante parece imobilizar o drama sagrado.
Em Malta (1608) envolveu-se em outra briga, e mais outra em Nápoles (1609), possivelmente um atentado premeditado contra a sua vida devido suas ações, por inimigos nunca identificados. No ano seguinte, após uma carreira de pouco mais do que uma década, Caravaggio estava morto, aos 38 anos.
O artista tomava emprestada a imagem de pessoas comuns das ruas de Roma para retratar Maria e os apóstolos. Talvez tenha sido um dos primeiros artistas a saber conciliar a arte com o ministério de Jesus narrado pelos Evangelhos que aconteceu exatamente entre pescadores, lavradores e prostitutas. Caravaggio levou este princípio estético às últimas consequências, a ponto de ter sido acusado de usar o corpo de uma prostituta fisgada morta do rio Tibre para pintar A Morte da Virgem. Esta foi uma das duas mais importantes características das suas pinturas: retratar o aspecto mundano dos eventos bíblicos, usando o povo comum das ruas de Roma.
A outra característica marcante foi a dimensão e impacto realista que ele deu aos seus quadros, ao usar um fundo sempre raso, obscuro, muitas vezes totalmente negro, e agrupar a cena em primeiro plano com focos intenso de luz sobre os detalhes, geralmente os rostos. Este uso de sombra e luz é marcante em seus quadros e atrai o observador para dentro da cena - como fica bem demonstrado em A Ceia em casa de Emmaus. Os efeitos de iluminação que Caravaggio criou receberam um nome específico: tenebrismo.
No fim do Renascimento, os grandes mestres caminhavam para uma visão mais obscura e realista das escrituras sagradas, como se vê principalmente em A Conversão de São Paulo e no Martírio de São Pedro - afrescos de Michelangelo Buonarroti, realizados na Cappella Paolina, no Palácio Vaticano. Caravaggio pintou versões próprias desses temas - A conversão de São Paulo a caminho de Damasco e Crucificação de São Pedro - que ilustram bem como foi capaz de igualar, senão de superar seus mestres.
CARAVAGGIO E SEUS SEGUIDORES
MASP - Museu de Arte de São Paulo
Período: 02 de agosto a 30 de setembro de 2012
Av. Paulista, 1578. Acesso a deficientes.
Horários: De 3ªs a domingos e feriados, das 11h às 18h. Às 5ªs: das 11h às 20h. A bilheteria fecha meia hora antes.
Ingresso: R$ 15. Estudante: R$ 7. Até 10 anos e acima de 60 anos. Às 3ªs feiras: acesso gratuito.
Credits /
© Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón