Vai para os conteúdos

ARTE

Ouvir e viver o Natal

por Cezar dos Reis (*)
13/12/2012 - Desejo compartilhar pequenas informações musicais sobre a maneira como artistas do passado ilustraram musicalmente o "clima" que precede e inclui o momento natalino

Com o início do período do Advento desejo aproveitar a oportunidade para compartilhar pequenas informações musicais sobre a maneira como artistas do passado ilustraram musicalmente o "clima" que precede e inclui o momento natalino.

Em 1660 o compositor Heinrich Schütz criou a belíssima Weinhachtshistoirie (História da Natividade). Ele foi um dos primeiros a compor obras na forma Oratório. As Sete Palavras de Jesus na Cruz, História da Ressurreição, Os Salmos de David, Cantiones Sacrae, por exemplo, também são criações de Schütz, considerado o mais importante compositor alemão antes de Johann Sebastian Bach. Pensando nas pessoas menos familiarizadas com a música erudita e a música sacra, vamos esclarecer melhor o assunto através de um pequeno passeio pela história.

O termo "Oratório" tem muitos significados, principalmente em português, podendo, por isso, haver eventuais confusões. Musicalmente falando a interpretação mais habitual é a que se refere a composição coral sobre um tema religioso para solistas, coro e orquestra, geralmente executada sem cenário e figurino próprio, diferenciando-se assim da "ópera", que, aliás, surgiu praticamente na mesma época e região, isto é, na Itália do século XVII. Com o tempo, oratório e ópera foram se separando e cada um tomando a direção e personalidade que viriam a desenvolver posteriormente.

Na Itália, o oratório continuou segundo os moldes católicos do século XVII, mas na Alemanha, por causa do ambiente protestante, desenvolveu-se outra forma particular do oratório, de natureza devocional apropriada ao serviço litúrgico, forma que atingiu o auge nas obras corais de Bach e passou a ser conhecida por "Oratório da Paixão" ou simplesmente "Paixão".

A "Rappresentazione di Anima e di Corpo", de 1600, de Cavalieri, é também considerada um dos mais antigos oratórios conhecidos. Os oratórios do final do século XVII de Carissimi e Stradella são sobre textos do Antigo Testamento. Na Alemanha o oratório foi estabelecido por Schütz através da obra que vimos ao início desse nosso texto, seguida por outras, é claro. Com o "Oratório de Natal" (1733-1734) de Bach, e "Der Tag des Gerichts (O Dia do Juízo) de Telemann, o oratório barroco alemão atingiu o seu mais alto grau.

O final do século XVIII possui maravilhas como "As Sete Últimas Palavras", "A Criação", de (1797) e "As Estações" de 1801, do fantástico compositor Haydn. No século XIX destacam-se, por exemplo, "São Paulo" de 1830 e "Elias" de 1847, obras de Mendelssohn; "A Ceia dos Apóstolos" de 1844, de Wagner; "Cristo" de 1866, de Franz Liszt.

É bom lembrar dos franceses pois vale citar que Berlioz compôs "A Infância de Cristo" em 1854, e C. Franck é autor de "As Beatitudes" em 1879. Se alguém ficou curioso pelo século XX podemos citar obras de Honegger como "Le Roi David" e "Jeanne d'Arc au Bûcher”, por exemplo.

Voltando ao atual ambiente de Advento e Natal, o que escolher para ouvir em CD ?

Logicamente o Oratório de Natal mais famoso e citado atualmente é o "Weihnachtsoratorim" maravilhosa obra prima de Bach que tem grande parte baseada em cantatas anteriores, de sua própria autoria. Relata a história da Natividade seguindo a tradição da obra de 1664 de Schütz. Essa não é, todavia, a sugestão desse momento, pois é uma obra extremamente longa.

Vamos optar por uma outra obra menos popular entre nós brasileiros, pois é de um compositor francês, mas com inegável conteúdo de beleza. Existem gravações em CD com o "Oratório de Natal" de Camille Saint-Saëns, compositor que perdeu o pai quando tinha apenas 4 meses de idade e brincava com o piano desde pequeno, resultando que, aos 7 anos, já escrevia suas primeiras músicas, e aos 10 anos já conseguia executar algumas peças difíceis de Mozart e Beethoven. Abreviando... aos 25 anos já era famoso em toda a Europa como pianista e compositor, tendo sido chamado de "O maior organista do mundo" por Franz Liszt, quando o viu improvisando ao órgão. Talvez para os brasileiros a obra realmente conhecida de Saint Saëns seja "O Carnaval dos Animais". Ele morreu em 16 de dezembro de 1921. Fechou os olhos logo após dizer calmamente a frase: "Acredito que agora chegou mesmo o meu fim".

Temos, portanto, Camille Saint-Saëns, um autor mais próximo de nosso tempo, e podemos apreciá-lo através de seu "Oratório de Natal", escrito para orquestra, coral e solistas, obra que ele compôs aos 23 anos de idade.

O desejo é que, através de audições como essas, possamos adequar nossa mente e sensibilidade para viver os efeitos de um momento tão valioso e santo de nossa história.

Quem quiser conhecer um pouco da música de Camille Saint-Saëns o link abaixo apresenta a abertura do Oratório de Natal (prelúdio).

http://www.youtube.com/watch?v=dtAp14jUo_4

E a parte final, com coral:

http://www.youtube.com/watch?v=pz27P0n7jY8

Boa audição !

(*) Cezar dos Reis é maestro e professor
cz.maestro@gmail.com

Outras notícias

 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página