“O relacionamento entre um homem e uma mulher é um caminho para a santidade. A particularidade do matrimônio é que, diferentemente de todos os outros sacramentos, só pode ser recebido a dois. Isto é o bonito”. Num domingo ensolarado, na igrejinha de São Cristóvão às margens do Naviglio, Padre Przemyslaw Kwiatkowski falou para uma plateia numerosa. Olhar sorridente e arguto, um rosto daqueles que imediatamente se torna familiar e amigo. É polonês e, em Roma, é teólogo e docente do Pontifício Instituto João Paulo II para os estudos sobre o matrimônio e sobre a família. No centro do encontro – organizado como preparação para o VII Encontro Mundial das Famílias, que vai acontecer em Milão entre os dias 30 de maio e 3 de junho – o tema: “Família, comunidade íntima de vida e de amor: uma boa notícia para o mundo”.
Padre Kwiatkowski explica, através de fotos e cartas, que “João Paulo II escreveu muito sobre a família, sobre a sexualidade, sobre o relacionamento homem-mulher. Talvez tenha sido o papa que mais escreveu sobre estes temas”. E não para obrigar o respeito às regras ou por um moralismo. “As suas reflexões nasceram todas do relacionamento com os amigos, com os casais que iam até ele para buscar conforto e ajuda para os problemas de convivência. Com efeito, Amor e Responsabilidade (Ed. Cultor de Livros; ndt), foi escrito graças a uma conversa que teve, num trem, com um casal que voltava de um retiro em preparação para o matrimônio”. Desta trama de relacionamentos e da experiência de filho, irmão e amigo, feita na sua vida, João Paulo II chegou à “Teologia do corpo”. “O amor que experimentamos em cada dia, passa através do corpo, porque Deus entrou no corpo, explica Padre Kwiatkowski. “Na diferença sexual, dentro do ato conjugal se percebe que existe algo que vai além daquele homem e daquela mulher: existe o sinal de Deus.” Mas, o que é a lei do corpo? “É que se queiram bem em todas as circunstâncias. Sempre somos corpo nas ações cotidianas, nas mudanças de humor, nas carícias, no relacionamento com os filhos.” No matrimônio, o desígnio divino se atualiza no amor humano: “É o sacramento do corpo no qual se entende que fomos criados como dom um para a outra. Este tipo de amor é sempre fecundo, gera, abre para a vida. É o sinal de que Deus quer fazer algo de bom conosco e no meio de nós”.
Na sequência, se falou sobre o tema da fecundidade. As associações que promoveram este encontro – La bottega dell’orefice (A loja do ourives, nome baseado na obra homônima de Karol Wojtila; ndt) e a Fundação C.A.Me.N ONLUS (Fundação Centro Ambrosiano de Métodos Naturais, Organização Não Lucrativa de Utilidade Social; ndt) – ocupam-se de métodos de regulação natural da fertilidade. Estes métodos se fundamentam sobre o conhecimento dos processos biológicos pelos quais uma gravidez pode ser buscada ou evitada, graças à observação dos sinais e dos sintomas da fase fértil do ciclo da mulher, sem o uso de contraceptivos artificiais. “Somente uma possibilidade para entender algo a mais em si mesmos”, sublinha a Doutora Maria Boerci, ginecologista. “Um modo com o qual a mulher toma nas mãos a si própria para entender e descobrir a sexualidade junto com o marido. Esperar, abster-se, conhecer o próprio corpo é um respeito a si que atravessa o ato enquanto tal. Eu utilizo aquele instrumento, não sou escravo dele. Assim, o bem não está no instrumento, mas na pessoa consciente e responsável.”
O Professor Franco Marabelli, docente da Universidade dos Estudos de Pavia, contou a sua história. Cristina, sua mulher, morreu no último verão e o deixou com quatro filhos. “Ela me fez conhecer esta realidade, era uma professora de métodos naturais. Nunca teria pensado em fazer uma experiência como esta. Confiei-me totalmente a ela. Aprendi a respeitá-la e entendi melhor o que sou eu e o que é o amor. Com os métodos se introduz um objetivo externo, tem uma beleza, que é independente de você, no estar com a pessoa que você ama. É uma outra vida.” O que tem a ver com a experiência de castidade que pode ser vivida no matrimônio? “A castidade é o chamado de atenção para o fato de que entre uma mulher e um homem existe no meio algo de outro. Aquela distância que se descobre vivendo faz amadurecer ainda mais o desejo. Assim, nada é óbvio. Vai-se além da distração e da banalidade.”
“Em tudo o que é humano é possível descobrir Deus. O ato conjugal é um grito, como o de Deus quando criou o homem e a mulher e disse que era muito bom”, acrescentou Padre Kwiatkowski. “Querem fazer algo de bom para Deus? Façam bem o amor. É isto o que pede no matrimônio. A verdade de Deus está nas coisas mais banais, quando acaricio, quando devo estar a distância: eu comunico Deus. A dimensão física da sexualidade envolve a pessoa inteira. Esta comunhão se abre para uma comunhão maior, que une e gera juntos.” E conclui: “Naquela união está o Espírito Santo e não é possível viver aquela experiência sem Ele. A vida carnal e espiritual não é ditada por um bom propósito, mas pelo acolhimento do Espírito. Assim, toda a vida se torna grande”.
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