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Natal, a ocasião para sairmos do bunker

por Marco Montrasi*
12/12/2011

O Natal é a ocasião para sairmos do nosso esconderijo, do nosso bunker. Como dizia o papa Bento XVI em sua visita ao Parlamento alemão, sem nos darmos conta, vivemos em uma construção de concreto armado sem janelas, onde somos nós que controlamos o clima e a luz sozinhos.
Estamos todos extremamente envolvidos em construir o nosso bem-estar, o nosso patrimônio, a tranquilidade do nosso futuro e de nossos filhos, mas se pararmos um instante para olhar o que estamos fazendo, perceberemos que estamos construindo isso como um verdadeiro “bunker”. Estamos preocupados em ter próximos aqueles que amamos e em ter tudo sob controle: dinheiro no banco e segurança para que nada de fora perturbe a nossa vida e a coloque em risco.
Mas enquanto fazemos isso, nos esquecemos de parar um instante, de vez em quando, e olhar o céu azul. Olhar o horizonte e as estrelas e respirar fundo. Talvez porque isso nos dê medo, talvez porque pareça ser perda de tempo enquanto a vida passa, e pensamos que seja mais urgente construir o nosso bunker, pois algo de ruim pode acontecer. Parece que perdemos aquela positividade da vida; o futuro é sempre uma incógnita e vive-se com o pressentimento do pior. Nossos pais viviam uma outra consciência: que, no fundo, tudo era um bem e acontecia para um bem. Esta era a sabedoria dos nossos avós e pais. E devemos reconhecer que eles viviam melhor que nós.

Porém, se eu paro um instante e penso, e me olho nessa correria desenfreada, e vou um pouco mais a fundo de mim mesmo, aquilo que descubro é que esse bunker tem algo de sufocante. Posso ter tudo aí dentro e não estar feliz. É sufocante! Precisamos ter a coragem de verificar isso.
Em sua recente viagem à Alemanha, o Papa dizia que torna-se necessário voltar a escancarar as janelas, devemos ver de novo a vastidão do mundo, o céu e a terra e usar tudo isto de forma justa. Por isso, cada crise que acontece é para um bem.
Estas palavras de Bento XVI revolucionaram os meus dias, porque é verdade que podemos viver num mundo que pensa por nós e que nos faz agir quase sem pensar e, assim, sem nem perceber, nos encontramos sufocando dentro do nosso próprio esconderijo. Precisamos encontrar homens livres que têm a coragem de dizer algo que parece fora da lógica deste mundo, mas que no fundo falam direto ao nosso coração sedento. Estamos num momento crucial, onde se joga o nosso futuro e a nossa concepção da vida. Mas podemos reconhecer, agora, que este nosso mundo, mesmo fragilizado por essa mentalidade que não quer admitir Algo novo, está cheio de testemunhas de um bem que existe e que muda as pessoas e constrói. E o Papa é a maior testemunha dessa batalha da razão, uma razão aberta “à linguagem do Ser”, mas pode combater sozinho por não entendermos o que está em jogo, que é a nossa liberdade.
Somos feitos para a vastidão do mundo, para o céu azul, para ter as janelas escancaradas! Isso não significa um “pensamento positivo” sem sentido quando vemos que a vida é dura e dramática e cheia de mistério. Significa admitir que é razoável e possível acreditar numa Presença boa, e esperar por Ela, como foi para Maria. Era um absurdo aquilo que lhe fora anunciado naquele dia normal, quando talvez estivesse lavando as louças, mas ela admitiu uma possibilidade e essa foi a sua salvação.
Podemos voltar a abrir as janelas, a esperar Alguém, porque muitos homens mudados me disseram que existe um destino bom que torna positivas todas as coisas. São mais de 2000 anos de história cheios de testemunhos de homens que viveram e vivem com as janelas escancaradas, que viveram e vivem bem, que construíram e constroem um mundo bom e, mais importante de tudo, que mostraram e mostram a possibilidade de uma vida plena e realizada mesmo com os dramas da vida. O nosso destino não é viver e morrer dentro de um bunker!
Que o Advento seja essa renovação para nós, para mim! Que eu volte a escancarar as minhas janelas e saia do meu bunker!
“A consciência do Mistério presente torna a nossa vida um fluxo contínuo de novidade. Com o reconhecimento dessa dramática presença, com essa presença na qual habita corporalmente a divindade, ‘começa’ algo de novo: hoje, às onze, à uma, às seis, às dez; amanhã, às três, às quatro. Em qualquer momento começa algo de novo.” (Luigi Giussani)

* Marco Montrasi é o responsável pelo Movimento Comunhão e Libertação no Brasil.


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Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

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