Caríssimos, a peregrinação é para pedir a fé, porque isso é o mais urgente agora. Pela natureza do gesto, para vocês é mais fácil perceber esta urgência, porque - sendo longo e custoso – passa-se por momentos (como na vida quotidiana) em que emerge mais facilmente a consciência de toda a nossa necessidade, da necessidade que todos temos. E isso não virá à tona porque fazemos um discurso ou damos uma explicação, mas através do caminho, das circunstâncias: o cansaço, as dificuldades, a solidão (no sentido verdadeiro do termo: sentir a nossa impotência, que é sinal de toda a experiência humana verdadeira, diz Dom Giussani). É precisamente da experiência que vão fazer ao longo do caminho que vai surgir a consciência da sua necessidade e a pergunta: “O que sentimos como mais necessário, senão a necessidade de que uma presença nos acompanhe ao longo da estrada da vida?”. Isto vocês devem pedir: que a Sua presença se manifeste de modo tão potente que possam reconhecê-la, porque a fé – Dom Giussani sempre nos ensinou isso – é o reconhecimento de uma Presença presente.
Como nos disse o Papa Francisco no dia 18 de maio, em Roma, “o importante é Jesus e deixarmo-nos guiar por Ele”. Vocês têm sorte porque, de manhã à noite, vão poder abandonar-se Àquele que irá marcar os passos a seguir. Se voltarem de Czestochowa para casa tendo experimentado a fé como uma experiência presente, como o reconhecimento da Sua presença presente, será o maior dom para continuar a viver. Não vejo uma urgência mais decisiva do que esta para cada um de vocês, porque a experimento em primeiro lugar em mim.
Claro que, antes de partir, uma pessoa gostaria de ter algumas certezas. E mesmo tendo preparado tudo bem, mas não tendo a certeza do que a espera, deixa-se prender por algum medo. Como nos educarmos a vencer estes medos que muitas vezes não têm fundamento?
Lembrem-se que não vão para Czestochowa sozinhos, mas juntos. E esta já é uma primeira resposta, mas – como irão ver com o passar dos dias – isso não irá lhes poupar os desafios nem as dificuldades, mas será precisamente através dos desafios e das dificuldades que poderão experimentar a surpresa de Cristo presente, companhia para as suas vidas, e ver que não existe circunstância nenhuma em que Cristo não possa se manifestar. Isso é decisivo para vencer o medo, porque ele não é superado restando no próprio cansaço, sem se arriscar na realidade. Como Dom Giussani sempre disse, a vida como vocação é caminhar juntos para o destino através das circunstâncias, que são parte da modalidade por meio das quais o Mistério se revela. O povo de Israel adquiriu esta certeza no meio de todos os medos e vicissitudes, através das circunstâncias, como os discípulos, como a Igreja, como cada um de nós.
Os medos não são vencidos ficando fora da confusão, mas atravessando-a. Você não poderá adiar a peregrinação para amanhã porque estará cansado e ainda faltam trinta quilômetros, não lhe é permitido se distrair fazendo outra coisa porque você tem que caminhar, não pode se sentar. É isso o “através”! Por isso, você tem que se dar constantemente as razões para segue adiante. É este o valor pedagógico de um gesto como a peregrinação, que vocês fazem livremente, não é imposto ou sofrido (como uma doença ou as provas da universidade). A peregrinação é para aprender o que é a vida e quem é Cristo que nos acompanha nesta aventura. Faço votos de que isto seja manifesto na experiência que vão fazer, caso contrário Cristo poderia permanecer como “o retrato de uma bela mulher esculpido no seu monumento sepulcral” (G. Leopardi). Devem regressar mais certos daquilo que colocou vocês em caminho e nos dar testemunho disso.
A vida é um caminhar para a meta. Tanto assim que a Bíblia fala do homo viator [homem viajante], o homem que anda ao longo do caminho. A questão é que isso se torne cada vez mais consciente, porque – diz Dom Giussani - “a vida se expressa […] acima de tudo como consciência de relação com quem a fez”: você é relação com Quem o faz agora, isso faz parte da dimensão do seu viver. “A oração é dar-se conta que “neste” momento a vida é “feita”. […] A oração, assim, não é um gesto à parte, mas realiza a primeira dimensão de cada ação” (de cada ação!). Enquanto caminham, nas horas da jornada, “o ato de oração será necessário para treinar-nos nessa consciência de todas as ações. Por isso, o vértice mais alto da oração não é o êxtase, ou seja, uma consciência tal do fundamento que faz a pessoa perder o senso do habitual, mas será antes ver o fundamento como se veem as coisas habituais” (Na origem da pretensão cristã, São Paulo: Companhia Ilimitada, 2012, pp. 133-134).
O homem é, por natureza, um viator [viajante] e nós estamos sempre em status viatoris [estado de peregrinos], somos sempre “caminhantes”, é uma dimensão do viver. Mas podemos viver como caminhantes distraídos ou caminhantes conscientes: não pelo fato de sermos caminhantes, não pelo fato de eu e você recebermos constantemente a vida, por isso mesmo é que estamos também conscientes de que a recebemos! É esta consciência que nos faz dar espaço à oração, a este ato que facilita a nossa tomada de consciência, não para dar a partida por terminada (como quem diz: “Agora já fiz a minha boa ação de oração e posso passar para outra coisa, esquecendo-me), mas para que isso se torne cada vez mais a dimensão de cada ação.
Entre as intenções que vão levar à Virgem Negra, peço-lhes que incluam uma pelo Movimento, porque é o lugar que Cristo nos deu para nos acompanhar, e porque nos interessa sempre encontrar companheiros de caminho que nos ajudem nisso, porque é isso o Movimento. E depois, “levem” também a mim com vocês, a quem Dom Giussani pediu esta responsabilidade: que eu possa ajudar o Movimento a ser o lugar de uma experiência presente.
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© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón