Vai para os conteúdos

MÚSICA

Música recupera valores

por Cezar dos Reis
30/01/2013 - Há alguns meses no mercado uma coleção de 13 títulos da gravadora EMI, intitulada Super Divas, traz a boa música na voz das maiores intérpretes brasileiras. Entre famosas e consagradas, há também canções raras ou inéditas
Capas de alguns CDs da coleção.
Capas de alguns CDs da coleção.

"Comprei um Buda / Pra ver se dava sorte / Não é que agora minha vida melhorou? / Pedi, pedi ao Buda / Oh Buda, me ajuda / Não é, não é / Que o Buda me ajudou? / Se eu vou pro pif-paf / Eu passo a mão no Buda / Se eu vou para as corridas / No Buda eu passo a mão / Já vi que o Buda é forte / Que o Buda me dá sorte / Por isso, meus senhores / Vou comprar logo um milhão"

Parabéns para a coleção “Super Divas” , que está com alguns CDs na praça atualmente, com faixas remasterizadas de gravações antigas, da época dos discos de 78 rpm, trazendo de volta a voz de cantoras que foram muito importantes para a evolução da música brasileira, pois foram intérpretes de sambas, valsas e peças escritas por compositores que não teriam qualquer chance de chegar ao nosso conhecimento hoje se não tivessem sido gravadas por essas "Divas" do passado.

Os versos escritos no início de nosso texto são de uma gravação de 1948, de uma marchinha de Haroldo Lobo e Benedito Lacerda, interpretada por Aracy de Almeida, peça raríssima mesmo na época pois, apesar de muito cantada no carnaval de 1948, estava super censurada e os discos haviam sido recolhidos das lojas e proibidos de qualquer execução. Por isso, parabéns por conseguirem incluí-la nesse CD coletânea de Aracy de Almeida, da coleção “Super Divas” .

Agora, falando de Aracy de Almeida, ela ficou conhecida como "Dama da Central" porque sempre preferia viajar de trem. Creio que o fato de seu pai ser chefe de trens da Central do Brasil também tenha influenciado nisso. Também foi apelidada de "Dama do Encantado" por causa do bairro onde morou no Rio de Janeiro. Mais conhecida, chegou a ser chamada de "O Samba em Pessoa". Realmente ela foi umas das mais importantes intérpretes de samba de toda a nossa história musical. Basta lembrar que foi a primeira e a sempre fiel intérprete das músicas de Noel Rosa e Wilson Batista por exemplo. Sem ela, é quase certo que hoje não conheceríamos Noel Rosa e uma série de poetas do samba carioca daquela época. Além deles, ela também gravou obras de Ary Barroso, Davi Nasser, Assis Valente, Almirante, etc..

Nos anos 30, ela e Carmem Miranda foram consideradas as maiores cantoras de samba conhecidas. Entre 1950 e 1951 Aracy gravou dois álbuns só com obras de Noel Rosa, o que fez com que ressurgisse o nome do poeta. Durante esses anos 50 e 60 ela fez e participou de muitos shows tanto no Rio como em São Paulo. Com a evolução da Bossa Nova, nos anos 60 em diante, os artistas de samba já não eram tão evidentes. Por isso, Aracy passou a ser convidada a participar de programas de TV, que estavam na moda. Programa do Bolinha era um deles; na TV Globo tinha "A Buzina do Chacrinha", e outros.

As gerações mais jovens não conheceram o talento e a importância artística de Aracy de Almeida, pois a evidência que sua participação no Programa de Sílvio Santos, por anos, reforçou não foi positiva e foi muito injusta, pois demonstrava um lado ranzinza e implicante de sua personalidade, não levando em conta sua bagagem histórica e sua importância à cultura da própria televisão e rádio. A impressão de que ela só absorveu influências do samba e das ruas também não refletia a verdade, pois, segundo seus amigos mais próximos, ela apreciava muito a música erudita, gostava de literatura e valorizava a arte visual. Interessante lembrar que ela tinha em sua casa quadros de importantes pintores brasileiros como Aldemir Martins e Di Cavalcanti, seu amigo pessoal.

Posso garantir pessoalmente que o CD de Aracy de Almeida, da coleção “Super Divas” , é composto de sambas muito bonitos, afinal, aqui estão algumas obras de Noel Rosa, mas também de Wilson Batista, Ary Barroso, Dunga, Haroldo Lobo, Haroldo Barbosa, Alcebíades Nogueira, Newton Teixeira, e respectivas parcerias. "Não me diga adeus" e "Louco", são músicas cantadas ainda hoje em rodas de samba por todo o país, mas quase ninguém imagina em que época que surgiram. Estão na primeira e segunda faixa, em gravações originais.

Espero que esse CD desperte nas pessoas o interesse em conhecer um pouco da verdadeira artista que foi Aracy de Almeida, substituindo a má impressão construída pela TV em seus últimos anos de vida, por um fascínio justo e verdadeiro, do qual ela é total merecedora.

BOM SAMBA A TODOS!

A série “Super Divas”, da EMI, são:
- Maysa
- Elizeth Cardoso
- Dalva de Oliveira (2 CDs)
- Angela Maria
- Aracy de Almeida
- Ademilde Fonseca (2 CDs)
- Eliana Pittman
- Maria Alcina
- Cláudia
- Leny Eversong
- Rosana Toledo
- Waleska
- Carmélia Alves

Disponível para compra pela internet.

Outras notícias

  • Página:
  • 1
  • 2
 
 

Credits / © Sociedade Litterae Communionis Av. Nª Sra de Copacabana 420, Sbl 208, Copacabana, Rio de Janeiro - RJ
© Fraternità di Comunione e Liberazione para os textos de Luigi Giussani e Julián Carrón

Volta ao início da página